A CÂMARA dos Deputados, mais uma vez transformada em tribunal, cassou na última segunda-feira, 12, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de manter contas secretas no exterior e de ter mentido sobre elas a seus pares, em depoimento à CPI da Petrobras, no ano passado.
A MENTIRA foi o pretexto legal, como foram as pedaladas fiscais para a presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment. Com a cassação, a política nacional vira uma página sombria da história do Poder Legislativo, do qual foi refém por longos dois anos.
ATÉ A MÍDIA internacional saudou a cassação de Cunha, tido como causador do processo de impeachment da ex-presidente, sem falar na longa lista de acusações contra ele. Chegou mesmo a ser comparado com o personagem Frank Underwood, da série House of Cards.
CUNHA perdeu o mandato pelo conjunto da obra: acusação de receber propina de diversas empresas, crime tributário, falsificação de documentos, manipulação do regimento interno da Câmara para se beneficiar, pressão sobre colegas e até mesmo o uso do nome de Deus em suas causas eleitorais. O feito mais notável da carreira política, porém, foi a recente briga com o governo petista, que o levou a deflagrar o impeachment presidencial.
O EX-TODO-PODEROSO transformou-se no maior vilão da política, depois de ter mentido descaradamente na CPI e de ter dificultado o trabalho da Comissão de Ética durante vários meses. Só começou a perder força quando teve seu mandato suspenso pelo Supremo Tribunal Federal, por obstruir as investigações contra si próprio. Depois de relutar mais alguns dias, renunciou à presidência da Câmara e se disse vítima de vingança por ter ajudado o país a se ver livre “do governo criminoso do PT”.
AINDA QUE o novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tenha marcado a sessão de julgamento de Cunha para uma segunda-feira, dia em que poucos parlamentares costumam comparecer ao Congresso, os deputados não se omitiram, pois os brasileiros não suportavam mais artifícios para proteger um político que desonra o mandato e desconsidera seus representados. O resultado mostrou isso: foram 450 votos contra Cunha e apenas dez a seu favor.
SE NÃO FOSSE por todas as falcatruas de que é acusado, Cunha deveria ser cassado por menosprezar a inteligência dos cidadãos, ao dizer que os recursos suspeitos depositados no exterior não lhe pertencem porque são administrados por um truste, do qual ele é apenas beneficiário e não titular. O inaceitável é que ele continue sendo beneficiário das próprias mentiras e desse modo todo espertalhão de fazer política. Fora Cunha!
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