Acessibilidade: um problema crônico em Nova Friburgo

terça-feira, 18 de junho de 2013
por Márcio Madeira
Acessibilidade: um problema crônico em Nova Friburgo
Acessibilidade: um problema crônico em Nova Friburgo

Não é preciso procurar muito para encontrar exemplos de desrespeito a portadores de necessidades especiais em Nova Friburgo. Basta, na verdade, prestar atenção a essas pessoas que, na correria cotidiana, muitas vezes acabam tornando-se invisíveis aos olhos de quem não precisa de estruturas especiais para trabalhar ou se locomover.

Um cadeirante sofre para enfrentar uma rampa íngreme, estreita e desnivelada em relação à rua. Seu esforço é nítido, mas ninguém se prontifica a ajudar. Num determinado momento a cadeira dá a impressão de que irá virar para trás, tal é a sua inclinação, mas por fim o obstáculo consegue ser superado. Pouco atrás, na mesma rua, um bebê acorda e começa a chorar quando o carrinho em que é transportado trepida mais fortemente ao cair num dos muitos buracos nas calçadas da cidade. Cenas que se repetem o tempo todo nas vias mais movimentadas do município, e que podem ser comprovadas por qualquer pessoa que preste a devida atenção a elas. O problema está aí, afeta um enorme número de pessoas, e a responsabilidade por ele não é apenas do governo ou das concessionárias.

As calçadas

Um dos problemas mais sérios para quem tem necessidades especiais em Nova Friburgo se refere ao péssimo estado de conservação das calçadas. E, nesse caso específico, a responsabilidade deve ser compartilhada entre moradores, lojistas e instituições que, com raras exceções, não investem na conservação da parte que lhes cabe do patrimônio público, nem tampouco buscam uma padronização que considere, também, as demandas de quem convive com qualquer tipo de limitação física.

"Nova Friburgo precisa mudar muito nesse sentido”, defende o vendedor e cadeirante Marcos Henrique Nogueira da Silva. "Só quem vive o dia a dia em cima de uma cadeira de rodas é que sabe o que passa. As calçadas são cheias de buracos, quase ninguém cuida delas como deveria. Eu já caí da cadeira várias vezes, e já vi outras pessoas caindo também, por causa desse tipo de coisa. Na Rua General Osório, onde eu moro, as calçadas são esburacadas demais. Friburgo está muito atrás de outras cidades nesse aspecto da acessibilidade”, continuou.

E não são apenas os cadeirantes que sofrem com a situação. Deficientes visuais, idosos e bebês transportados em carrinhos também sentem de forma mais intensa as irregularidades e a falta de manutenção das calçadas. Um problema tão sério, a rigor, que levou a mãe Ana Carolina Tardin a comprar um carrinho de bebê equipado com rodas grandes e um sistema de suspensão, para que sua filha não tenha o sono repetidamente interrompido cada vez que sai de casa. Um luxo necessário que, infelizmente, não está ao alcance de todos. "Eu tive que investir num carrinho maior e mais sofisticado, porque o estado de ruas, calçadas e rampas é muito ruim. Na Rua Eugênio Müller, por exemplo, próximo à agência dos correios, é quase impossível passar com o carrinho. As rampas, quando existem, estão sempre bloqueadas por carros ou caminhões estacionados. E mesmo com o carrinho de bebê, são poucos os motoristas que ainda param para que a gente possa atravessar sem arriscar a vida dos filhos”, encerrou.

Situação ainda pior é relatada por Ana Carolina Watanabe, que também costuma transportar sua filha no carrinho. "Sempre que vou visitar minha avó na Vila Amélia, onde as calçadas estão destruídas há tanto tempo, preciso andar com minha filha em plena rua, entre o tráfego de carros e as irregularidades do paralelepípedo.”

O que tem sido feito

Procurada pela reportagem, a Prefeitura declarou que, "através da Autran, fez a demarcação no centro da cidade de várias vagas específicas aos portadores de necessidades especiais. Além disso, diversas rampas foram feitas e demarcadas nas calçadas do centro. Projetos futuros estão previstos também, como a adequação em todos os prédios públicos, Hospital Municipal Raul Sertã, Maternidade, Unidades Básicas, rampas e banheiros para os portadores de necessidades especiais. Esses projetos estão em processo de implantação ou em fase de estudos”.

Em relação ao transporte público, os novos ônibus trazidos recentemente pela concessionária municipal também representaram um importante avanço, uma vez que são equipados, em sua maioria, com elevadores específicos para o acesso de usuários com necessidades especiais. Marcos Henrique, no entanto, afirma que em alguns destes coletivos o aparato necessita de manutenção, por não estar funcionando corretamente. Do mesmo modo, o vendedor lembra que não basta criar rampas de acesso, se estas não estiverem em conformidade com as necessidades dos cadeirantes. "As rampas de Friburgo, em sua maioria, são muito íngremes, estreitas e fora de nível em relação à rua. Em muitas delas os cadeirantes não conseguem subir sem ajuda, e em outras é muito fácil sofrer um acidente, virando a cadeira para trás, porque a inclinação é muito grande. Agora imagine o risco de virar a cadeira para trás, e ficar caído no meio da rua, entre o fluxo de carros. Isso já aconteceu muitas vezes”, alerta.

O que falta fazer

Todos os usuários de rampas de acesso entrevistados para esta reportagem reclamaram das dificuldades que enfrentam para atravessar mesmo as ruas mais centrais da cidade. "As rampas precisavam ser menos inclinadas, e deveriam ser alinhadas e conectadas por trechos de asfalto ou concreto, que tornassem a travessia mais rápida e segura. Atravessar entre bloquetes e paralelepípedos é perigoso e desconfortável. A cadeira vira muito, e é fácil acontecer um acidente. Se não é possível asfaltar todas as ruas, então ao menos esses trechos de travessia com rampas deveriam receber um tratamento especial, que deixasse o percurso mais plano”, defendeu Janaína de Souza da Silva, responsável por cuidar de Dona Irani Souto, dependente da cadeira de rodas.

Cuidar das calçadas, construir rampas menos inclinadas, ajudar a quem precisa de ajuda... Investir em acessibilidade e reduzir os sacrifícios de quem já sofre com necessidades especiais não apenas representa um dever de todos e um ato de civilidade, como também, na maioria das vezes, é algo que custa muito pouco.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: Mobilidade | acessibilidade | deficientes | Autran
Publicidade