Aceitar a dor e aprender com ela é o melhor remédio para tristeza

Por Alessandro Lo-Bianco
sexta-feira, 30 de julho de 2010
por Jornal A Voz da Serra
Aceitar a dor e aprender com ela é o melhor remédio para tristeza
Aceitar a dor e aprender com ela é o melhor remédio para tristeza

Sabe aquele dia que você não acorda bem? Está pra baixo, triste, fazendo pouco de você mesmo e da sua vida? Todo mundo acorda assim algum dia, provavelmente por motivos justos, pois são muitas as perdas, muitas as frustrações e desilusões que a vida reserva para uma simples existência humana. Nos dias de hoje, a felicidade tornou-se um item básico de consumo. Todo mundo quer ser feliz, pois é sinal de status e competência perante a vida. Diante desta necessidade moderna, você pode acabar criando um grande problema quando busca estimular demasiadamente um estado positivo, justamente por não se sentir feliz, o que pode lhe transformar numa pessoa bipolar. É isso mesmo! Sem perceber você passa a se comportar achando que é de um jeito, mas depois percebe que não é mais nada daquilo. 

Para a psicóloga Mariliz Vargas, autora dos livros A Sabedoria do Não e Você é Mais Forte que a Dor, publicados pela Editora Rosea Nigra, o fato é que não aceitamos este estado de espírito, digamos assim, mais tristonho. E partimos para o ataque utilizando, evidentemente, nossos recursos mentais. Lembramos de tantas técnicas aprendidas para levantar o astral, podemos dizer frases de incentivo, imaginar locais belos e arborizados,  transportar a imaginação para praias paradisíacas ou, quem sabe, numa medida mais concreta, ir ao salão de beleza, mudar o cabelo ou fazer uma massagem. “Depois de muito empenho, conseguimos por alguns momentos criar um sentimento um pouco mais agradável, um pouco mais pra cima, devido às estratégias empregadas. Mas estas estratégias são produtos de um esquema mental de felicidade, vem de conceitos e estereótipos superficiais, que não se sustentam, não tem energia pra sustentar toda esta euforia durante muito tempo”, alerta a especialista. Vem então, em seguida, a queda. É como se, para levantar o moral, você inflasse a sua autoimagem com bastante ar, mas este ar escapa diante do mínimo furo neste seu esquema, e vai tudo pelos ares. “Este momento de queda é mais dolorido do que a tristeza original, aquela que gerou a parafernália de autoajuda”, ressalta a psicóloga.  Para Mariliz, no momento de baixa, a pessoa deve ter cuidado ao tentar melhorar usando alguns meios, como: filmes, compras, festas e comidas. “Pode ser uma fuga para levantar novamente nosso estado de ânimo, mas como este estado de espírito é criado pelas estratégias, não tem sustentação e cai novamente, criando um círculo vicioso que tem sido chamado, com muita frequência, de transtorno bipolar”.

A estudiosa do assunto revela que a questão, pura e simplesmente, é: o quanto você tem criado polaridades na sua vida, por não dar conta de viver suas tristezas e dores, por não aguentar sentir algo que não seja assim tão agradável? Mariliz ressalta que a polaridade é forçar uma situação positiva, teimar com a vida, que está lhe apresentando uma tristeza, por exemplo, e passar a não aceitá-la, indo em busca de situações que simulem uma felicidade. Só que uma felicidade falsa, pois a verdade do seu sentir está na direção da tristeza, e ela vai puxar você, mais cedo ou mais tarde. E esta puxada é o pólo negativo, o outro lado, que fica cada vez mais difícil de ser vivido, chegando ao estado em que muitos passam a se denominar doentes.

Devemos então nos afundar na tristeza? Calma, calma... Não! Ela explica que precisamos mesmo é aprender a viver os sentimentos doloridos e suportar a vida em sua intensidade, para que deste momento de enfrentamento surja a verdadeira alegria. “A alegria não pode ser construída, é algo que vem de dentro de nós. Ela precisa ser conquistada no respeito à vida, e a tudo o que se manifesta em nosso interior como vida, principalmente aquilo que consideramos desagradável, pois estes são, na verdade, os momentos que nos conduzem ao amadurecimento e a conquista de patamares de bem-estar nunca antes imaginados.” É isso! Para a psicóloga, que hoje ministra palestras sobre o assunto por todo Brasil, as dificuldades muitas vezes devem ser enfrentadas e não escondidas ou deixadas de lado, porque é pensando e enfrentando a dor que podemos entender como ela pode nos tornar uma pessoa mais forte. “Apesar das fatalidades, é uma estatística comprovada cientificamente: a maioria das pessoas só percebem o quanto são fortes para conquistar grandes vitórias quando encaram a dor de frente. São nestes momentos que elas percebem que são muito mais fortes do que imaginavam, sem precisar fugir ou inventar uma postura que não conduz ao seu estado de espírito. Fugir da dor pode, na maioria das vezes, ser mais dolorido do que encará-la de frente.”

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