Não são raros os casos de jogadores de sucesso no futebol de campo que iniciaram a carreira no futebol de salão. O desenvolvimento da habilidade e da capacidade de pensar em um curto espaço e de forma mais rápida são características que surgem geralmente nas quadras e são levadas para os gramados. Atualmente, grande parte dos treinadores profissionais brasileiros — inclusive Gerson Andreotti — realiza atividades no chamado “campo reduzido”, onde são delimitados um quarto de campo e apenas dois toques na bola.
No Friburguense, o projeto de desenvolver o futebol de salão vai além de apenas apurar a habilidade de jogadores. A estratégia do clube inclui a oportunidade de angariar novos talentos, uma vez que as escolinhas de society e os times de base do clube já contam com um grande número de atletas.
“Estamos com um projeto embrionário, mas que vai começar a funcionar em breve, que é o departamento de futsal do Friburguense. Vai ser algo competitivo, sem caráter de escolinha. Vamos trabalhar crianças do sub-7 ao sub-11. E esse departamento vai ter ligação direta com o futebol de campo. Tudo que acontecer no futsal vai ter consequências no campo”, explica o coordenador da base Sávio Badini.
De acordo com o dirigente, com a prematuridade das crianças até dez anos de idade limita o trabalho em campo de futebol, como o do estádio Eduardo Guinle, por exemplo. O mais indicado é o início nas quadras, até mesmo para o desenvolvimento de alguns fundamentos básicos como chute, passe e raciocínio rápido. A ideia é realizar o trabalho praticamente em período integral no Ginásio Helena Deccache, mas com treinamentos esporádicos nos gramados.
“Lógico que temos dificuldade de utilizar crianças de sete anos no futebol de campo. Na minha visão, a iniciação deve ser feita no futebol de salão ou mesmo society, como fazemos na Escolinha. Mas vamos pegar o extrato, ou seja, aquilo que temos de melhor, e fazer dois treinos por semana no salão. Tudo isso, lógico, com algumas incursões no campo por uma questão de sensibilidade, para o garoto calçar uma chuteira com trava, sentir o piso e a bola diferentes. Mas muito menos pra jogar no campo.”
Da formação ao projeto da equipe profissional
Para desenvolver o trabalho no futsal, o Friburguense conta com a experiência do seu coordenador de base. Sávio Badini possui uma carreira de quase 20 anos como técnico de futebol de salão profissional. O coordenador da base do Friburguense trabalhou em diversos clubes do país, como o Vasco da Gama, e participou de conquistas importantes no clube cruzmaltino. “A ideia é exatamente utilizar essa experiência do Sávio no trabalho com o futsal para o Friburguense. É um trabalho de médio e longo prazo, tentar formar uma equipe profissional de futsal no clube”, revela o gerente de futebol José Siqueira.
Para tornar o projeto uma realidade, o Tricolor da Serra deverá encontrar algumas dificuldades. A modalidade, apesar de muito praticada nas escolas do município, ainda é pouco compreendida e explorada, embora já exista um trabalho de resgate e fortalecimento do futsal no estado (confira no Box). O caminho para formar um time profissional em Nova Friburgo esbarraria em questões como o envolvimento da cidade e o apoio de entidades, algo que raramente com frequência no futebol de campo, embora o Friburguense dispute, com regularidade, a primeira divisão do campeonato estadual.
“É uma vontade, um sonho. Mas em Nova Friburgo, precisamos primeiramente fomentar uma ideia, divulgar o esporte, que é mal trabalhado. Tem muito futebol na quadra, mas pouco futsal. Poucas pessoas entendem e sabem trabalhar uma criança no futebol de salão. Necessitamos envolver os pais, a família, as entidades e posteriormente, quem sabe, a médio prazo poderemos formar equipes profissionais.”
Futsal no Rio de Janeiro recebe poucos investimentos e cresce devagar
O cenário do futebol de salão no estado do Rio de Janeiro ainda carece de investimentos. As ligas existem, e alguns times fluminenses participam de competições nacionais, mas a procura ainda é pequena se comparada à oferta. A federação estadual tenta ressuscitar o Campeonato Estadual, e oferece condições e taxas atrativas para equipes do interior.
“Desta forma podemos pensar sim. Mas o primeiro pensamento é começar o trabalho de detecção de talentos mais cedo e melhorar o controle motor, a qualidade técnica, o entendimento de jogo e aguçar a competitividade”, acredita Sávio Badini.
De fato, a Federação de Futebol de Salão do Estado do Rio de Janeiro (FFSERJ) toca alguns projetos para reerguer a modalidade. Além das séries ouro e prata (destinada aos jogadores de primeiro ano), o órgão planeja realizar torneios regionais no interior e Região dos Lagos. Na série ouro são 16 equipes e na prata mais 14, entre as categorias sub-7, 9, 11, 13, 15 e 17.
Campeonatos para Juvenil e Adulto podem acontecer ainda neste segundo semestre. Para estas duas categorias, a Federação trabalha para conseguir fechar a cobertura de uma emissora de televisão, dois canais já foram sondados: um fechado e outro na TV aberta. Sucesso em outras ligas, a série prata também foi adotada pela FFSERJ.
Nos planos da Federação está a realização de um campeonato de escolinhas, já em fase de concepção, onde olheiros dos clubes filiados serão convidados para observar atletas. Cursos de arbitragem e de formação de treinadores também estão em pauta. Todo este movimento é o primeiro passo para reunir os “cacos” deixados por gestões passadas.
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