Um bar, um salão de beleza e pelo menos 10 casas não existem mais na Rua Caruaru, no loteamento Canto do Riacho, no bairro Jardim Califórnia. Nos dias de chuva forte, moradores ficavam apreensivos, mas também preparados porque o rio que corta a região, em Nova Friburgo, às vezes inundava e as águas invadiam as casas de alvenaria. Em janeiro de 2011, o rio também inundou, mas as águas que vieram de cima, da chuva, causaram deslizamentos sem precedentes, destruindo casas e famílias. As marcas da tragédia ainda estão lá.
“Estamos abandonados”, disse a costureira Lucilene dos Santos, depois de estender roupas no varal da casa em que vive há 18 anos. Apesar da lama que cobriu a Rua João Carlos Sanches, a casa dela não sofreu muitos danos com os deslizamentos de terras. Mas a poucos metros dali, um sobrado de dois andares desapareceu. “A família se mudou. Eles foram morar em outro lugar. Muitas famílias que viviam aqui agora moram no Terra Nova”, contou.
Um pedestre ou motorista que atravessa a ponte sobre o rio e entra no loteamento Canto do Riacho pode concordar com dona Lucilene. Há muito mato nos lotes onde havia casas. Ainda dá para ver uma parede com azulejos de uma cozinha coberta pela vegetação. O térreo de um sobrado de três andares é usado como garagem para alguns carros. Nos dois andares do imóvel, as portas e janelas estão abertas, mas não há nada dentro. No terreno onde antes existia um bar com varadão e duas mesas de bilhar, um cavalo comia grama amarrado em uma árvore, no fim da manhã desta quarta-feira, 29.
“Eu me sinto isolada. Tenho medo de passar na rua à noite por causa do escuro. É muito perigoso para as crianças e para quem vem da escola”, contou Dirce de Souza, de 50 anos, se referindo à falta de postes de iluminação pública na encruzilhada entre as Ruas Caruaru e Arizona, ao lado de uma das margens do rio. Para a moradora, as casas abandonadas precisam ser demolidas porque estão atraindo usuários de drogas e moradores de rua. No dia em que a reportagem de A VOZ DA SERRA esteve no local, um grupo de crianças brincava dentro de um dos escombros. “Há pouco tempo houve um caso de uma adolescente que foi estuprada dentro de casa, perto da minha casa”, revelou. A reportagem não conseguiu confirmar a informação junto à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
Por causa dos deslizamentos e do assoreamento, a calha do rio diminui, mas ainda preocupa os moradores. Eles reclamam da falta de capina as margens do rio e também da entrega de correspondências pelos Correios. Algumas ruas do loteamento não têm calçadas e estão mal conservadas, com paralelepípedos soltos. Apesar dos problemas, os moradores disseram que os serviços de coleta seletiva e o fornecimento de água são prestados com eficiência pelas concessionárias.
Em nota, a Prefeitura informou que projetos de contenção do rio e revitalização do loteamento Canto do Riacho estão sendo estudados em parceria com os governos estadual e federal. “A Prefeitura de Nova Friburgo não tem como realizar investimentos de grande porte neste momento”, informa.
O governo municipal ainda esclareceu que os moradores do loteamento devem comparecer no setor de Iluminação Pública, da Secretaria de Serviços Públicos, no Centro, portando uma conta de luz para solicitar a elaboração de um projeto que deverá ser apresentado à Concessionária de Iluminação Pública para que seja implantada a iluminação pública no local. “Com relação à falta de capina, a Subprefeitura de Conselheiro Paulino informa que esteve no local há poucos dias e realizou a capina na referida rua e nesta quarta-feira, 29, estava terminando a limpeza do bairro Jardim Califórnia”.
Obras na Estrada Girassol
A poucos quilômetros do Canto do Riacho, a obra de alargamento de um trecho da estreita Estrada do Girassol, que liga o bairro Jardim Califórnia a Duas Pedras, está avançada. Nesta quarta-feira, 29, pelo menos oito operários da Fabicon Engenharia e Construtora trabalhavam na reconstrução do muro de contenção da obra financiada com recursos do governo municipal. O trecho também vai receber asfalto até o fim do serviço, em agosto, e custará cerca de R$ 68 mil aos cofres públicos. A Estrada do Girassol é usada por motoristas que evitam a Avenida Governador Roberto Silveira nos horários de muito movimento no trânsito.
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