A Voz dos Bairros - Vilage: acesso prejudicado desde a tragédia de janeiro'

sexta-feira, 18 de março de 2011
por Jornal A Voz da Serra
A Voz dos Bairros - Vilage: acesso prejudicado desde a tragédia de janeiro'
A Voz dos Bairros - Vilage: acesso prejudicado desde a tragédia de janeiro'

Leonardo Lima

Na última A Voz dos Bairros realizada na Vilage (matéria de autoria do repórter Bruno Pedretti, publicada no dia 6 de agosto de 2010), a principal característica da localidade eram as construções nas encostas dos morros. E foi exatamente este problema que ocasionou a grande destruição registrada pela equipe de A VOZ DA SERRA esta semana. Assim como grande parte dos bairros de Nova Friburgo, a Vilage não escapou ilesa à tragédia de 12 de janeiro. Muito pelo contrário. O bairro foi parcialmente devastado e só não foi registrado um grande número de vítimas fatais porque muitas pessoas deixaram suas residências no início da fatídica noite.

Morador do local desde 1974, o aposentado Izaltino Teixeira foi uma das pessoas que escaparam da tragédia. Sua casa, localizada na Rua Coronel Sarmento, teve parte dos cômodos destruída. Desde então, a residência está interditada pela Defesa Civil. “Atualmente estou numa casa que aluguei, na Avenida Alberto Braune. Só venho aqui durante o dia, para limpar”, revela o morador, que, por conta da interdição, teve o medidor de energia elétrica retirado de sua residência. As cenas da tragédia ainda estão em sua mente. Izaltino recorda que os gritos de vizinhos deixaram a situação ainda mais aterrorizante. “Chovia muito e víamos que várias casas do morro haviam sido destruídas. Os vizinhos nos chamaram e imediatamente deixamos a casa. Morava aqui com minha mulher”, recorda.

Entretanto, o mesmo não aconteceu com um vizinho de Izaltino, que preferiu continuar em sua residência e morreu soterrado. Inacreditavelmente, uma cadela de estimação da família sobreviveu, mesmo ficando sete dias presa num espaço entre uma parede e uma grande quantidade de lama e terra. Levada ao veterinário, ela recebeu soro e, segundo Izaltino, está saudável.

Também localizada na Rua Coronel Sarmento, a creche do bairro, João Batista Faria, se encontra na mesma situação: interditada. Uma casa desabou ao lado e atingiu boa parte do prédio da unidade de ensino. De acordo com Ana Maria da Silva, que mora na Vilage há cerca de 40 anos, antigos problemas apontados por moradores, como o acúmulo de lixo nas ruas, a falta de tampas nos bueiros e o estacionamento irregular nas imediações da Universidade Candido Mendes ficaram em segundo plano desde a catástrofe. “Hoje a nossa principal dificuldade é o acesso, principalmente na parte alta do bairro. Há barreiras em vários pontos e, com isso, a passagem de veículos e, até mesmo de pedestres, está difícil”, conta.

Segundo ela, que mora na Rua Izair Pires, o ônibus não vai mais até determinados pontos devido ao acúmulo de terra em diversas vias. “Na minha rua mesmo há diversos idosos e deficientes. Quando fazemos uma compra, por exemplo, temos que deixá-la no pé do escadão e trazer as sacolas aos poucos. A coleta de lixo também não está sendo realizada e os próprios moradores estão queimando o lixo para evitar acúmulo de ratos e baratas”, queixa-se. Ana Maria explica que a Defesa Civil condenou boa parte das casas do bairro, porém, espera maior acompanhamento da situação. Coincidentemente, enquanto a equipe de reportagem estava no local, uma equipe do órgão averiguava a situação das residências localizadas nas ruas acima do escadão.

Embora já tenha presenciado diversas tragédias no bairro, Ana Maria garante que nenhuma foi tão devastadora quanto a de janeiro. “Já vi muitas barreiras caírem nesse morro, até mesmo postes já haviam sido derrubados. Teve uma vez que fiquei um mês sem luz, mas, igual essa tragédia, nunca vi. Essa foi muito pior, quase não tem mais morador aqui, muita gente foi embora”, diz.

O cenário de destruição realmente impressiona. Ao comparar imagens de antes e depois da catástrofe se tem uma noção de como o bairro foi castigado. A Rua Humberto Gomes, na parte central do escadão, praticamente não existe mais. Todas as residências foram afetadas. Na Rua Andrade Neves outras mortes também foram registradas. Na Rua Carlos Éboli uma enorme encosta vem causando preocupação nos residentes. A barreira que caiu no local abriu até um buraco na parede dos fundos do estacionamento de um supermercado.

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