Leonardo Lima
Como se já não bastassem os diversos problemas enfrentados anteriormente pelo Loteamento Floresta, desde a tragédia de 12 de janeiro a comunidade convive com uma série de outras adversidades. Recentemente os moradores foram recebidos pelo prefeito Dermeval Barboza Moreira Neto, a quem fizeram reivindicações, mas ainda aguardam soluções. Segundo o presidente da associação de moradores, Valcenir Faria, um dos problemas que tem causado maior preocupação é o entupimento da galeria de água e esgoto. “Tem que ser feita a limpeza e a substituição das manilhas dessa galeria. O esgoto está ficando a céu aberto. Com uma tromba d’água, todas as casas que ficam por cima da galeria correm muito risco. Isso vai virar um grande lago. É uma tragédia anunciada”, alerta Valcenir, que cobra ações urgentes das autoridades. “Nos disseram que viriam pessoas da Defesa Civil e da Secretaria de Obras até o bairro para analisar esse problema, mas estamos esperando até agora”, protesta.
Outro problema que vem dando dor de cabeça aos moradores da comunidade é a linha de ônibus, que desde o fatídico 12 de janeiro não passa por todo o bairro. A linha do Alto do Floresta, por exemplo, não existe mais — e a única linha convencional disponível aos moradores só vai até o início do bairro. A concessionária Faol — que afirma estar o acesso comprometido em dois pontos do loteamento, onde barrancos que desmoronaram na tragédia ameaçam cair novamente —, para amenizar o problema, disponibilizou um micro-ônibus que leva os moradores à parte mais alta do bairro. Entretanto, segundo Valcenir, a medida não solucionou a questão. “É uma ajuda, mas o micro não suporta o pessoal todo. Ele costuma ficar superlotado. A maioria anda a pé mesmo. Tem que ser feitos dois muros de contenção para que os ônibus voltem a trafegar normalmente pelo bairro”, aponta.
“A morte da minha mãe salvou a vida de muita gente”
Na noite de 11 de janeiro, Valcenir velava o corpo de sua mãe numa igreja do Floresta. A chuva, intensa, não cessava. Mesmo assim, a maioria dos moradores já estava dormindo. De repente, a primeira barreira caiu. “Vimos que ia cair muito mais terra. Ainda bem que estávamos acordados e saímos ao longo do bairro alertando os moradores. Algumas pessoas já estavam soterradas e fomos retirando elas dos escombros. Até um bombeiro falou comigo que, com a morte da minha mãe, muita gente foi salva”, recorda. “Na parte baixa do Floresta, 60 casas foram destruídas e morreram seis pessoas. No Alto do Floresta foram 38 mortes”, informa Valcenir.
De acordo com ele, como muitos moradores seguem sem receber o aluguel social, voltaram para suas casas, mesmo estando em áreas de risco e marcadas para serem demolidas. “Essas pessoas voltaram porque não têm para onde ir. Estão vivendo sem água e sem luz. Quando chove elas saem de casa e já chegaram até mesmo a virar várias noites na rua, com medo de novos deslizamentos”, diz o presidente da associação, que acredita que uma das únicas ações positivas desde janeiro foi o início das demolições.
Embora os escombros das residências destruídas tenham sido retirados, vergalhões e fiações baixas dos postes são encontrados por toda a parte, o que coloca em risco a integridade física dos pedestres e, principalmente, das crianças que brincam pelo bairro. Brincadeiras, aliás, que têm que ser criativas, segundo Valcenir, pois não há um único espaço de lazer na comunidade.
“O bairro é visto como um dos mais violentos da cidade, mas até hoje os políticos não se interessaram em fazer nada para que isso mude. O tráfico é um chamariz para menores, que não têm um curso para fazer, uma área de lazer para brincar. Muita gente acaba indo para o crime por falta de opções, a família não consegue combater isso”, argumenta.
Solidariedade ajuda a população
Valcenir acredita que a situação no bairro só não é pior graças à solidariedade de pessoas, entidades e veículos de comunicação. “Temos muita ajuda da Rádio Conselheiro, que sempre dá informações a nossa população, e do projeto Recomeçar, do Viva Rio, que desde a catástrofe ajuda a comunidade, oferecendo o atendimento de médicos, psicólogos e doando cestas básicas”, afirma o presidente, que agradece também à diretora e aos funcionários da Escola Municipal Lafayette Bravo Filho, que no período do pós-tragédia serviu almoços à comunidade.
Amparo também a população encontrou na Defensoria Pública. “Desde janeiro muitas residências ainda estavam sem telefone. Fizemos uma reivindicação junto à defensora Maria Fernanda [Junqueira Ayres, defensora pública titular do Núcleo de Primeiro Atendimento], que também tem sido muito útil para a gente, assim como o médico Luiz Fernando Azevedo, que montou praticamente um miniposto no bairro durante a tragédia”, relata Valcenir.
Em meio a um cenário de tanta dor e destruição, a comunidade do Floresta aguarda ações efetivas das autoridades e se apega a exemplos de solidariedade, na esperança de que um dia o bairro possa ser visto com outros olhos.
Prefeitura aguarda liberação de verbas
A equipe de reportagem de A VOZ DA SERRA entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura sobre as reivindicações do Loteamento Floresta. O Executivo afirma que a galeria do bairro foi destruída e esta obra, juntamente com a construção dos muros de contenção das ruas Aureliano Barbosa Faria e Edmond Simão, fazem parte do projeto de contenção de encostas de Conselheiro Paulino, cujas obras serão executadas pelo governo do Estado. Também segundo a Prefeitura, está sendo aguardada a liberação de verbas junto aos governos federal e estadual para poder realizar essas obras “altamente técnicas”.
Em relação ao esgoto a céu aberto, o secretário de Conselheiro Paulino, Juarez Correia, informa que já encaminhou ofício à Concessionária Águas de Nova Friburgo. Quanto ao retorno da linha de ônibus, ele diz que a secretaria realizou o alargamento e o asfaltamento da Rua Aureliano Barbosa Faria para que a situação seja normalizada. Entretanto, segundo ele, está havendo uma divergência entre os moradores, pois um grupo quer a volta do ônibus maior e outro prefere a permanência do micro-ônibus, pois desta forma, não pagam passagem.
Quanto às demolições, que fazem parte de um cronograma, Juarez informa que a Defesa Civil interditou várias casas na parte baixa do Floresta e na localidade conhecida como Buraco da Concha. Segundo ele, a própria Defesa Civil e a Secretaria de Obras estão realizando um estudo sobre as áreas críticas dos loteamentos Três Irmãos, São Jorge e Floresta, para analisar o problema, tendo em vista que a contenção de encostas destas áreas requer uma ampla análise técnica.
Juarez faz um apelo a todos os moradores do Floresta para que colaborem com a limpeza do bairro, não colocando entulhos nas ruas, pois a secretaria os retira e no outro dia as vias estão novamente tomadas de lixo. O secretário frisa que a pasta retira os entulhos e que o morador que necessite deste serviço deve entrar em contato através do telefone 2527-6137. Juarez pede também que haja união neste “momento difícil que a cidade está passando” e que as pessoas “esqueçam as divergências políticas e trabalhem em prol da comunidade”.
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