A história de Ademilson Pereira Xavier Junior poderia ter sido escrita de maneira diferente. Os principais amigos de infância no bairro Vilage, onde morava, envolveram-se com drogas. Aos 15 anos Junior foi pai, e a mãe de sua filha, também envolvida com o tráfico, faleceu. Apesar de todas as dificuldades, o esporte transformou a vida daquele jovem. Atleta de muay thai até os 17 anos, conheceu o judô através de um amigo e passou a praticá-lo. "Comecei com o professor Hespanha, que me cedeu uma bolsa na academia. O judô é um esporte caro e eu não tinha condições de pagar. Aproveitei a oportunidade, comecei a treinar, competir e voltei a estudar.”
Desta forma, o judoca e o professor Carlos Eduardo Hespanha Matt estreitaram as relações. Oficial da PM, Hespanha sonhava montar um projeto social para oferecer o judô a crianças carentes, enquanto Junior manifestava o desejo de retribuir os ensinamentos sobre disciplina, educação e respeito. Nascia, então, em outubro de 2006, o Projeto Solução. "Na verdade, a ideia surgiu bem antes da fundação. Em 2004 eu e os meus diretores, todos eles pais de judocas, tínhamos a intenção de massificar o esporte e popularizar a modalidade, que até certo ponto era elitizada”, destaca Hespanha. "Começamos com uma lamparina no canto do dojô, com as crianças sem quimono. Quando pegamos o local antigo, batalhamos para reformar com as nossas próprias mãos. Nós é que fazemos tudo, vamos às competições de carro e contamos com a ajuda de outras pessoas”, comenta Junior.
As atividades do projeto são desenvolvidas no bairro de Olaria e tiveram início na Avenida Julio Antônio Thurler, em frente a uma sorveteria do bairro. Pouco tempo depois, o Solução migrou para o Colégio Dermeval Barbosa Moreira e atualmente funciona em um galpão ao lado de uma emissora de televisão local. Cerca de 110 alunos entre 6 e 17 anos praticam o esporte gratuitamente, número inferior aos 350 atendidos na antiga sede e aos 600 pretendidos. A expectativa é de levar o projeto para uma sede mais ampla, com cerca de 500 metros quadrados de área, sala de estudos, musculação, sala de informática, auditório, banheiros, sala de refeições e um dojô (local de treinos do judô), com quase 300 metros quadrados. "Será um marco do esporte amador do município. Temos patrocinadores que nos ajudarão com o lanche dos jovens, algo que não podemos lançar mão por hora, devido ao espaço reduzido da nossa atual instalação”, revela Hespanha.
Para participar do projeto basta ter a autorização dos responsáveis, atestado médico e comprovação de estar estudando. "O nosso objetivo é oferecer uma atividade desportiva séria, proporcionando condições para o jovem se tornar um vencedor, sempre buscando a motivação para essas conquistas nos ensinamentos do judô.”
Campeões na vida e no tatame
A união entre o professor, a filosofia do esporte e a participação da família é responsável pelo processo de transformação dos jovens. A filha de Ademilson Junior, Raíssa Novaes Xavier, 12 anos, é atleta da equipe e acumula conquistas, tais como o título de campeã carioca. "A minha filha segue os meus passos, e graças ao judô eu pude vencer na vida e dar a ela a assistência necessária. O esporte transforma e não é bom só para a parte física. A disciplina é fundamental. Temos que trazer para o jovem uma referência a mais”, argumenta Junior.
O judoca Guilherme Cordeiro, hoje atleta do Flamengo, subiu ao lugar mais alto do pódio em diversas competições nacionais, integrou a seleção brasileira Sub-17 e Sub-20, e foi bicampeão pan-americano — em Santo Domingo, na República Dominicana e em Miami, nos EUA. Novos talentos surgem a cada dia e seguem pelo mesmo caminho. Emanuelle Pereira Oliveira chegou ao projeto ainda criança e tornou-se uma vitoriosa. Dentre outras participações de destaque, conseguiu a 2ª e 3ª colocações no Campeonato Brasileiro.
Sheurie de Abreu dos Santos, 14 anos, integra o Projeto Solução desde a fundação, e representará o estado nos Jogos Escolares. Uma possível classificação poderá garantir a ela o Bolsa Atleta — programa de ajuda financeira do governo federal. "Eu me interessei quando o professor Carlos Hespanha foi ao meu colégio para divulgar o projeto. Desde que comecei a praticar judô, o meu comportamento mudou, até no colégio. Aprendi a respeitar as regras.”
Do mesmo modo, Cleiton Gomes conheceu o projeto. O pai, Nelson Gonçalves Filho, faz parte da equipe de másteres e apostou no judô para auxiliar na educação do filho. Cleiton foi além da mudança de comportamento e conquistou os campeonatos estadual e brasileiro. "Ele era hiperativo e o esporte mudou totalmente o comportamento dele. Agora ele nos respeita em casa e recebe elogios na escola”, conta o pedreiro de 57 anos.
Casos como esses citados se multiplicaram ao longo dos sete anos de atividades, e o Projeto Solução conseguiu formar dezenas de campeões durante este período. Tanto no tatame quanto na vida.
Atual sede limita a quantidade de alunos: ideia é procurar um espaço mais amplo
O judô mudou a história de Ademilson Junior, que se tornou colaborador do projeto
Sheurie (e) é um dos novos talentos revelados pelo Solução
Atualmente cerca de 110 crianças entre 6 e 17 anos são atendidas
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