* Alda Maria de Oliveira
Povos de planície ou litorâneos sempre se comunicaram com mais facilidade: pela água, de barco, ou pelas planícies num caminhar facilitado pelo terreno sem asperezas, estradas asfaltadas de menor custo ou pelas areias, andando.
Tanto é verdadeiro que se amontoaram na costa litorânea brasileira, colocaram 93% da Mata Atlântica abaixo e precisou um mineiro baixinho, ousado, conquistar a Presidência da República, se cercar de gente audaciosa e interiorizar o comando da nação para o planalto central para que de lá pudessem visualizar o que era o país de fato, e não só as areias de Copacabana.
O desafio maior é a comunicação entre povos de montanha, como nós todos da Região Serrana Fluminense.
Aqui, nas montanhas, comunicação pela água, só em esportes radicais; construção de caminhos e estradas há que se varar rochas, inventar traçados serpenteados com barrancos de um lado – que sempre podem deslizar na época das águas – e precipícios de outro fazendo o custo chegar a cifras enormes; o transporte coletivo precário em veículos grandes demais para se deslocar com segurança; desafios na chegada dos serviços essenciais, água, luz e saneamento,a agricultura se espremendo nas poucas várzeas, tomando dos rios e cursos d´água a preciosa mata ciliar, sem falar no abastecimento e, principalmente, nas ferramentas de comunicação contemporânea. Às vezes, até o uso do rádio é dificultado porque as montanhas estão no meio do caminho. Chegada de jornal nas comunidades mais isoladas, nem pensar.
Mas as montanhas também podem ser a solução. Se assim não fosse, a Petrobras não manteria suas torres no alto da Caledônia, se comunicando até Brasília sem interferências.
E aí temos a chegada da internet. Panacéia, pode ser. Mas que ajuda muito, ajuda. Até Santa Bernadete, comunidade sem praça, sem farmácia, sem posto de correios, um quase sem nada tudo, já tem TV acabo e banda larga. As mulheres daqui é que organizaram a demanda por banda larga e o empresariado jovem do município respondeu rapidamente. Acredito que numa análise mais demorada e até mais sustentável, se mantivermos duas premissas: acesso universalizado, uma espécie de SUS da comunicação, e segurança tanto do usuário como do espaço cibernético, vamos ter equacionado a questão básica da comunicação ferramental.
Não é à toa que o governo federal escolheu como tema da 1ª Conferência Nacional Comunicação – Meios para a Construção de Direitos e de Cidadania na Era Digital.
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Falar, escrever é fácil, construir esse processo é que é a complexa questão que se nos apresenta. Mas é a hora. O governo federal do presidente Lula nos chamou, ao país inteiro, para organizar a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e cá estamos nós, atolados até o pescoço para organizar uma conferência competente, que aponte diretrizes e ações passíveis de incluir o universo dos agrupamentos de pessoas, historicamente excluídas, entre elas, as mulheres, os jovens, as etnias quilombolas e afrodescendentes e os povos indígenas brasileiros, GLBTT – gueis, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis, portadores de deficiência, ciganos, judeus, palestinos, muçulmanos entre outros e, principalmente os empobrecidos nesse rico país ainda de tanta desigualdade. Porque a pobreza não só exclui mas também e, principalmente, aprisiona.
Por isso nosso esforço nessa conferência deve ser imenso.
Aperfeiçoar, juntos os quatro setores, público, empresarial, ONGs / sindicatos / associações de classe e as associações de bairro e rurais e os movimentos comunitários, nossas estratégias de comunicação, nossos meios de acesso à comunicação e as formas de controle social através dos conselhos municipais, estaduais e nacional deverão apontar e colocar em exercício uma sustentabilidade em comunicação que não deixe dúvidas que vivemos uma democracia. Em construção. Mas já com uma certa estrada que nos habilita a ser artífices de um caminho melhor para que a educação, em todos os níveis, se aprimore, se amplie, se universalize, de fato, através do melhor que pudermos fazer em comunicação.
Os meios de comunicação deste país democratizados podem se tornar a melhor alavanca para sairmos do atraso em educação.
Porque é ela, a educação, a ferramenta mais efetiva da transformação da sociedade escravizada para a sociedade libertária.
A base da sociedade brasileira, nós o povo todo, vivendo a cidadania plena com acesso universalizado à comunicação tem de ser o suporte para a conquista do respeito pelas demais nações, à nação brasileira.
Claro, temos de mudar quase todo o Congresso, quase toda a Câmara Federal, mas a gente muda. Eles que nos aguardem, pois 2010 é logo ali. E as urnas esperam nossos votos. A comunicação pode, em muito nos ajudar a escolher melhor nossos representantes: mandá-los para casa, fazê-los desocupar cadeiras, acabar com corredores secretos, salas secretas, atos secretos e escancarar as portas e as janelas de Brasília para uma nova safra de jovens políticos que irão construir a sua oportunidade de eleição e nos ajudar a construir a nação democrática.
Com uma comunicação democrática e cidadã.
Eu, por mim mesmo falando, quero trabalhar arduamente, também para desmilitarizar a palavra. Expressões como guerra a gripe tal e tal, arsenal de medicamentos, com o dedo no gatilho, saraivada de notícias, personalidade de alto calibre, público alvo e outras tantas, podem ser substituídas por outras formas mais adequadas, mais ricas e, principalmente mais expressivas para a construção de um mundo de paz e de tradução do pensamento humanista.
Não alimento ilusões de que essa é uma tarefa fácil. Não o é. É árdua, complexa, desafiadora, pois isso significa desconstruir a guerra – o tomar para si um bem do outro mesmo que signifique tirar-lhe a vida - no inconsciente coletivo de todos os povos na matriz patriarcal que ainda predomina na sociedade mundial e na primeira página de todos os jornais, na abertura de todos os noticiários televisivos e tudo o mais.
Trágica herança masculina que o ecofeminismo pacifista, terá de abraçar a desconstrução para honrar a ética pela vida da qual é guardião.
Mas não estou sozinha e isso faz toda a diferença. A Costa Rica já se desmilitarizou, de fato, na prática. Desde os anos 70, do século passado.
A 1ª Conferência Nacional de Comunicação conquistada pelos setores progressistas da sociedade civil é uma oportunidade rara – a primeira em 509 anos deste imenso país continental chamado Brasil – para o debate dessa questão fundamental que é o acesso de todos e de todas à informação.
Informação é poder, é ouro puro. Uma sociedade informada acessa melhor as oportunidades, se constrói mais democraticamente e pode vir a exercer a cidadania plena.
Nesse sentido, participar da conferência, nas várias instâncias, municipal/regional, estadual e depois nacional é ir ao encontro dessa oportunidade.
Em 29 de agosto vamos dizer presente, no espaço da Câmara de Vereadores, juntos, os 14 municípios serranos fluminenses, debatendo, consensuando e elegendo nossos delegados e delegadas para a conferência estadual e lá, trabalhar pelas vagas para que a região esteja participando da Conferência Nacional, de 1º a 3 de dezembro, em Brasília. E trazer os frutos, de volta, a estas montanhas.
* Engª Agrª, Diretora Administrativa e Coordenadora da Câmara de Agronomia da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Nova Friburgo-Aeanf, Articulista, Comunicadora Popular, Conselheira Titular do Conselho Consultivo da APA de Macaé de Cima,
do Conselho Municipal de Meio Ambiente e do Conselho de Turismo; é membro da Agenda 21 Local de NF e da Agenda 21 do Comperj/Petrobras.
e.mail:aldah.olive@bol.com.br
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