Dalva Ventura
A saúde pública é o maior saco de pancadas de todos os governos. Com raras e honrosas exceções, a população está sempre reclamando—e, quase sempre, com razão—do atendimento recebido. Nova Friburgo não é exceção, muito pelo contrário, aliás. Entra prefeito, sai prefeito, secretários de saúde são substituídos e tudo continua como antes.
No dia 11 de novembro, o médico Renato Abi-Ramia assumiu a saúde do município por um período de apenas quatro meses, até se desincompatibilizar para concorrer nas eleições de outubro. Ele afirma que apesar de todas as dificuldades, já fez 50% do que pretendia nestes dois meses. Será? Senão, vejamos.
Sua principal preocupação—e a de todo friburguense—era garantir um atendimento satisfatório à comunidade em caso de enchentes e desabamentos. Felizmente, nada aconteceu—pelo menos por enquanto, o município passou no teste das chuvas. O secretário garante, aliás, que podemos ficar tranquilos, pois o setor da saúde está totalmente organizado para garantir o suporte necessário, em qualquer eventualidade.
Essa também foi a conclusão dos técnicos da Subsecretaria de Vigilância e Atenção a Saúde do Estado e do SUS, que visitaram a cidade após as chuvas dos últimos dias, para avaliar a situação do município. De acordo com o secretário, tanto as unidades de saúde como os hospitais públicos e particulares do município estão funcionando, com as equipes de plantão razoavelmente organizadas.
A quantidade de médicos necessária para dar conta do serviço nos ambulatórios continua insuficiente para atender à demanda, reconhece Renato Abi-Ramia. Uma dificuldade que não se restringe a Nova Friburgo, é um problema do Brasil inteiro. O secretário tem se empenhado pessoalmente em contratar médicos de algumas especialidades, tarefa das mais complicadas, mas não tem tido muito êxito. Além da falta de especialistas, como pediatras, cirurgiões e ortopedistas, o salário pago pela municipalidade não é dos mais atraentes.
Mesmo assim, ele considera que o Hospital Raul Sertã está funcionando bem. “Consegui corrigir a maior parte das distorções, inclusive um problema crônico, que era a falta de pediatras na rotina, com a contratação de mais quatro especialistas”.
Desafios vencidos e a vencer
A montagem de uma unidade de oftalmologia é uma das pendências que Abi-Ramia está fazendo de tudo para resolver. “Hoje não temos um equipamento de refração para fazer uma simples medição de grau”, diz. Mas já conseguiu comprar o de videolaparoscopia, que deve chegar nos próximos dias. “Nos dias de hoje, é um absurdo operar uma hérnia ou um apêndice de forma tradicional”, diz. Outro instrumental importante adquirido recentemente foi um espirômetro, fundamental para realizar provas de função pulmonar.
Outra realização importante, destaca, foi a implantação de uma Câmara Técnica para a farmácia da rede, o que, segundo ele, vai reduzir em 80% os mandados judiciais exigindo do município a compra de medicamentos em falta. Este vem sendo um problema enorme, pois entre as intempéries que enfrentou ao assumir foi a suspensão das licitações, que deixou a farmácia desguarnecida. A secretaria foi obrigada, inclusive, a fazer uma compra emergencial, a única maneira de abastecer a farmácia.
Mas o pulo do gato para resolver os problemas da saúde, segundo ele, consiste em melhorar o atendimento básico à saúde, o que implica levar os ambulatórios a funcionar a pleno vapor. “Na hora em que conseguirmos fazer isso, a saúde pública de Nova Friburgo vai dar uma guinada”, diz. “Os doentes passarão a apresentar menos complicações, os pacientes irão menos ao hospital, que assim vai funcionar melhor, as internações também vão diminuir, a mortalidade, idem. Esta é a saída”, diz.
E, verdade seja dita, neste particular, o município precisa melhorar muito, reconhece ele. O posto de atendimento de Olaria, antigo Sase, foi desativado provisoriamente e está, há quase um ano, funcionando como um abrigo. O prédio da Unidade Básica de Saúde de São Geraldo foi condenado pela Defesa Civil e, enquanto isso, funcionou provisória e precariamente na Escola Municipal Nair de Araújo Rodrigues. A obra deve começar em duas semanas, mas não vai ficar pronta a tempo. Também está tentando reformar a Unidade Básica de Saúde do Amparo, que ele classifica como “uma vergonha”.
Faltam médicos para tocar com força total o Programa de Saúde da Família. Nos locais onde há médicos, está funcionando bem, diz ele. Quando Abi-Ramia assumiu, faltavam quatro. O secretário resolveu o de Olaria, contratou um para Lumiar e está em entendimentos com um colega para assumir o de Amparo. Assim, vai faltar só o do Centenário.
“Não posso querer fazer tudo em quatro meses, mas estamos conseguindo vencer todas estas dificuldades, afirma o secretário, que se diz otimista e satisfeito com as vitórias alcançadas, acreditando que até março, quando entregará o cargo, terá conseguido resolver tudo, inclusive as filas.
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