Mario de Moraes
A data do centenário será na segunda-feira, 9, mas as homenagens a Carmen Miranda acontecem desde o início de 2009. A festa do Grammy, pela primeira vez realizada no Brasil, foi encerrada com uma especial lembrança da cantora e atriz brasileira, que se tornou famosa internacionalmente. Artistas atuais lembraram alguns dos seus sucessos. Paula Toller e Sandy recriaram “E o mundo não se acabou”; Daniela Mercury e os Mutantes apresentaram “O que é que a baiana tem?” E já estão programadas muitas outras iniciativas tendo como personagem aquela que os americanos batizaram como Brazilian Bombshell, pelos seus admiradores brasileiros mais conhecida como a Pequena Notável.
Diversas cantoras também vêm se candidatando ao papel principal do filme que será rodado sobre a vida de Carmen Miranda. Entre elas, Daniela Mercury e Babel Gilberto. O filme será produzido em 2009 por Paula Lavigne.
Seu nome completo era Maria do Carmo Miranda da Cunha, nascida em Portugal num distrito do Porto. Pouco tempo após o seu nascimento, seu pai emigrou para o Brasil, passando a viver no Rio de Janeiro. Sua esposa, acompanhada pelas filhas Olinda e Carmen – esta com menos de um ano de idade – viajaram pouco depois atrás dele.
O pai de Maria do Carmo montou um salão de barbeiro e instalou a família no sobrado acima do salão. Aos 14 anos Carmen empregou-se numa loja de gravatas e numa chapelaria. A mãe de Maria do Carmo (que ainda não havia adotado o nome artístico de Carmen Miranda) resolveu ajudar nas despesas caseiras montando uma pensão, que servia refeições aos empregados de empresas próximas. Em 1926, Carmen conheceu o compositor Josué de Barros, que a ouviu cantar e ficou fascinado pela sua voz, levando-a a gravar seus primeiros discos na empresa alemã Brunswick. O sucesso, porém, só chegou em 1930, quando gravou a marcha Pra Você Gostar de Mim (Taí), de Joubert de Carvalho. A partir daí ela já era apresentada como uma das melhores cantoras brasileiras, com o nome artístico de Carmen Miranda.
Nesse mesmo ano Carmen assinou um contrato de dois anos com a rádio Mayrink Veiga. Ela foi a primeira cantora de rádio a assinar um contrato, já que as outras ganhavam por apresentação. Convidada a fazer uma turnê internacional, Carmen apresentou-se em Buenos Aires. No ano seguinte, voltou à capital argentina para cantar na então badalada Rádio Belgrano.
Convidada para trabalhar no cinema, estreou no filme Alô, Alô, Carnaval. No mesmo ano assinou contrato para apresentar-se no Cassino da Urca. Num dos seus shows conheceu o famoso ator Tyrone Power. Depois de ouvi-la cantar, Tyrone disse-lhe que ela poderia vencer nos Estados Unidos, mas Carmen não aceitou o convite.
Em 1939, o empresário americano Lee Shubert assistiu ao espetáculo de Carmen Miranda no Cassino da Urca e ficou encantado com a sua apresentação, desejando contratá-la para apresentar-se nos Estados Unidos. Carmen aceitou o convite, mas fez questão de que seus acompanhantes musicais, o Bando da Lua, viajassem com ela. Shubert discordou, mas acabou concordando. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, em 4 de maio de 1939, Carmen e seus músicos partiram para os Estados Unidos no vapor Uruguai. Ela estreou em grande estilo em Boston, apresentando-se no musical Streets of Paris. Sucesso total! A imprensa americana rendeu-se à sensualidade e ao talento da cantora brasileira. Daí para a frente, cresceu o seu prestígio nos States. Em 5 de março de 1940, num banquete, Carmen cantou na Casa Branca para o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt. Em 10 de julho daquele ano veio em visita ao Brasil e foi recebida de forma entusiasmada pelo povo carioca. Mas teve enorme decepção quando se apresentou para as autoridades do Estado Novo, de Getúlio Vargas, no Cassino da Urca. Um grupo nazista do governo brasileiro passou a vaiá-la, alegando que ela estava americanizada. Carmen, no entanto, desforrou-se dois meses depois, quando cantou para uma plateia comum, que chegou a aplaudi-la de pé. Sua fama nos Estados Unidos já era tanta, que, de volta àquele país, gravou a marca de seus sapatos e mãos na Calçada da Fama do Chinese Theatre de Los Angeles.
Sua vida artística, no período de 1942 a 1953, foi das mais intensas, tendo atuado em 13 filmes de Hollywood e nos mais importantes programas de rádio, televisão, cassinos, boates e teatros norte-americanos. Os maledicentes, invejosos do sucesso da Pequena Notável, tentaram desprestigiá-la alegando que ela fazia parte de um projeto de marketing do governo americano, o da Política da Boa Vizinhança, destinado a levar para o seu lado as nações da América Latina – principalmente o Brasil, onde Getúlio Vargas demonstrava simpatia por Hitler.
O estrondoso sucesso de Carmen Miranda, no entanto, desmentia a turma do contra. Em 1946, ao fim da Segunda Guerra Mundial, ela era a artista mais bem paga de Hollywood. Em 7 de março de 1947, Carmen casou-se com o americano David Sebastian. Antes ela mantivera alguns romances com vários atores, como John Wayne e Dana Andrews, e com Aloysio de Oliveira, músico que integrava o Bando da Lua.
A união de Carmen Miranda com David Sebastian, um fracassado empregado de uma empresa cinematográfica, é apontada pela maioria dos seus biógrafos como responsável pela sua decadência física. David, além de ter falido em vários negócios, era alcoólatra E foi ele o responsável por apresentar a Pequena Notável ao álcool, terminando por fazê-la dependente da bebida. Embora o casamento fracassasse poucos meses após o matrimônio, Carmen Miranda não quis se divorciar.
Para piorar as coisas, devido a sua intensa e atribulada vida artística, Carmen passou a usar barbitúricos, destruindo-se fisicamente. Terminou ficando dependente dos medicamentos, utilizando-os cada vez mais para se estimular ou acalmar. Com o vício do cigarro e do álcool, o efeito das drogas era potencializado. Cada vez mais cansada, os médicos diagnosticaram o mal como estafa. Em 3 de dezembro de 1954, após uma ausência de 14 anos, Carmen veio ao Brasil, para descansar e se tratar.
Em 4 de abril de 1955, ela voltou aos Estados Unidos e recomeçou sua atribulada vida artística. Na época fez uma turnê a Las Vegas e a Cuba e voltou a tomar barbitúricos. Durante uma apresentação no programa televisivo do comediante Jimmy Durante sofreu um desmaio, mas logo se recuperou. Na mesma noite recebeu alguns amigos em sua residência em Beverly Hills. Depois que eles foram embora, Carmen preparou-se para dormir, mas foi vítima de um colapso cardíaco fulminante e caiu morta. Carmen Miranda tinha 46 anos. Resolveram, então, que seu corpo devia ser trazido para o Brasil. No dia 12 de agosto de 1955, embalsamado, o cadáver da Pequena Notável desembarcou de um avião no Rio de Janeiro. Seu velório, no saguão da Câmara Municipal, foi um dos acontecimentos mais marcantes da história da então capital do país, mais de 60 mil pessoas indo dar o último adeus a Carmen Miranda. O cortejo fúnebre até o Cemitério São João Batista (RJ) foi acompanhado por perto de meio milhão de admiradores que cantavam, em surdina, Taí, uma das músicas de maior sucesso da que se fora.
Em 1956, o então prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Negrão de Lima, assinou um decreto criando o Museu Carmen Miranda, inaugurado em 1976 no Aterro do Flamengo (RJ).
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