Rodrigo é o pai de uma linda garotinha de um aninho. Ele conversava comigo sobre o comportamento dela frente ao smartphone e ao controle remoto da televisão. Dizia que diante do smartphone, ela ia com o dedinho sobre a tela, e que diante do controle da TV, ela ia com o dedinho certinho nos botõezinhos. Como uma criancinha daquela idade havia observado a diferença dos comandos? – perguntava ele.
Bem, ela faz parte da geração que nasce imersa nessa onda digital que, sem dúvida, traz novidades para todas as gerações.
As novas tecnologias são objetos que contém uma variedade imensa de possibilidades. É essa variedade de possibilidades que provoca no usuário uma curiosidade também imensa!
Ora, a ciência já demonstrou que as crianças em idade pré-escolar são mais sensíveis aos estímulos sensoriais. Esses objetos digitais são altamente "sensoriais” e se transformam em estímulos para os pequenos. Portanto, a filhinha do Rodrigo, que já vê esses objetos desde que nasceu, percebeu a diferença entre os comandos com maior naturalidade do que as pessoas que por muito tempo só conheciam uma forma de botão: o interruptor que se move para frente e para trás, ou o que afunda numa superfície.
Já Marcos, pai de um menino de quatro anos, conversava comigo sobre a sua preocupação por ver o filho grudado no iPad jogando sem parar: no banco traseiro do carro, na mesa do restaurante, na frente da TV... Ele me dizia que exercia pressão sobre o filho limitando o tempo de uso e isso causava reações agressivas no menino, o que estava levando-o a pensar se seu filho não estaria "viciado em computador”.
Bem, estamos diante de uma novidade para todas as gerações e os especialistas estão pesquisando todo esse efeito sobre a psique humana. Mas essas pesquisas ainda são iniciais.
O professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Uthah, do laboratório de cognição aplicada, PhD David Strayer, diz que "muita estimulação digital pode levar a pessoa que esteja funcionando adequadamente em seu cotidiano a um nível de funcionamento psicológico não mais saudável, causando prejuízos à atenção e a memória”.
Algumas pesquisas apontam que muita estimulação digital pode "inibir reflexões e causar ansiedade”. Outras, já apontam que "os jogos educativos, por exemplo, vão desenvolver o raciocínio e a lógica”.
Cabe aqui apontar que sendo o "usuário” uma criança ou um adolescente, ele está em desenvolvimento e, portanto, precisa do adulto como orientador, educador, mediador...
Se a criança é muito ativa, brinca, corre, pula, grita e seus pais encontram nesses objetos uma maneira de controlar seus filhos, então a intenção torna-se incorreta. Como orientadores, educadores, mediadores, precisam decidir que crianças (ou adolescentes) querem formar. Tanto as crianças como os adolescentes precisam da interação social que provém do encontro presencial. As regras de convívio, as regras do jogo, a leitura dos sinais da comunicação, provém da presença. Por isso a importância dos jogos de tabuleiro (Dama, Lince, War, Imagem&Ação e outros), dos esportes coletivos (handebol, voleibol, futebol e outros), da visita à casa dos familiares, dos amigos e tantas outras atividades que se faz em companhia.
Acredito que os objetos digitais não podem ser a salvação dos pais inquietos, insatisfeitos, ansiosos e quem sabe até incapacitados de reflexões... Que tal ajudar seu filho a encontrar os amigos e aprender como se divertir de outras maneiras e assim protegê-los da onda digital?
Angela Curzio é psicóloga sistêmica relacional, mestre em Educação pela
Universidade Federal Fluminense. Trabalha com famílias, crianças, jovens e adultos
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