Maurício Siaines
O projeto Concerto Livre realizou no último domingo, 16, mais uma experiência de interação com público fora de teatros. Em continuidade ao que vem fazendo desde o sábado, dia 8, quando se apresentou em São Pedro da Serra, levou de novo a música erudita ao ambiente público, desta vez à Praça Carlos Maria Marchon, no centro de Lumiar. Composições de Mozart, Bethoven, Händel e Francisco Mignone foram mostradas às cerca de 200 pessoas que se mobilizaram para ir até a praça e surpreendiam os passantes desavisados.
Os artistas, o tenor argentino Martin Fernandéz, a pianista Míriam Schenguert e os convidados Siegfried Maurer e o jovem pianista friburguense Luiz Henrique Ramos, levaram à gente do lugar o que Paula Colen, da produtora Happiness Cultural, que promove o Concerto Livre, chamou de “uma visão musical e artística libertadora”, com uma proposta de “democratização da cultura”.
A comunidade local, presente na praça tem duas origens básicas e diferentes: uma parte descendente da população tradicional do lugar, com grande presença alemã e suíça, e outra formada por imigrantes que seguiram o caminho aberto pelos hippies do final dos anos 60, no que poderia ser chamado de descoberta de Lumiar. José Waldir da Costa, conhecido como Zé Pinto, vice-presidente da Sociedade Musical Euterpe Lumiarense, disse que a iniciativa fazia parte dos esforços da sociedade para “alimentar o máximo possível a música, o que é muito útil para o desenvolvimento da comunidade, com mais uma ocupação para os jovens”. A mesma ideia foi defendida por Manoel Antônio Spitz Sodré, presidente da sociedade musical. “Enquanto a banda não toca, cria-se plateia”, disse ele referindo-se ao trabalho de revitalização da banda Euterpe Lumiarense. Quem se empenhou para conseguir recursos junto ao comércio local para possibilitar a apresentação foi a Associação de Moradores e Amigos de Lumiar (Ama-Lumiar).
Jovens faziam parte do grupo de pessoas que foi para a praça assistir ao Concerto Livre. Entre eles, Bruno Ferrari, de 21 anos, que recebeu favoravelmente o espetáculo e o entendeu como uma “opção diferente”, e Jéssica Veiga, de 19, que achou “tocante” aquela apresentação musical e gostou do fato de o cantor ser ao mesmo tempo ator e a música trazer uma história.
Mais jovem ainda era Matheus, de dois anos e meio, que, no intervalo depois de uma apresentação do tenor, tendo o palco vazio à sua frente, perguntou à jovem mãe que o acompanhava: “cadê o palhaço?”. A pergunta fazia sentido por que Matheus já viu, naquele mesmo lugar, sem o tapete vermelho, atrações circenses. Ele não percebeu que dois dos palhaços que costumam se apresentar naquela local, Maizena e Peteloco, estavam ali, ao seu lado, disfarçados de gente comum, como Ana Mazzei e Duda.
A reação de Matheus dá uma medida da interação do ambiente lumiarense com a música erudita que estava sendo levada até ali, com piano de cauda e tapete vermelho. Mais curiosa foi a atitude da cadela Mel, frequentadora habitual da praça, que se aconchegou ao tapete, logo que ele foi posto no local, e lá ficou até o fim, como se fosse uma atriz coadjuvante.
O Concerto Livre voltará a ser apresentado no próximo dia 22, sábado, no distrito de Conselheiro Paulino, e no domingo, dia 23, no bairro de Olaria.
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