Maurício Siaines
A Vila Mozer, uma espécie de pequeno bairro da localidade de Lumiar, apresentou um modo próprio de fazer carnaval no domingo, 6, apesar de todos os pesares pela tragédia que recaiu sobre Nova Friburgo em 12 de janeiro. Foi o desfile do bloco Flor do Luar, que já acontece há mais de 20 anos. Não era uma novidade, mas uma evidência de que se podia brincar – este verbo é o mais adequado – o Carnaval com alegria, embora se vivesse também a tristeza provocada pelas chuvas de janeiro.
Os integrantes do bloco saíram da Vila Mozer – que fica logo depois da ponte sobre o Rio São Pedro, onde se divide a estrada que sai de Lumiar, para um lado, São Pedro da Serra, para o outro, Boa Esperança – e se dirigiram ao centro de Lumiar, arrebanhando simpatizantes pelo caminho. Pouco antes de chegar ao lago, o grupo se organizou, com a bateria, as alas, e o carro de som em posições definidas, e iniciou o desfile que passou diante da Praça Carlos Maria Marchon, conquistando várias adesões, e atravessou a ponte sobre o Rio Boa Esperança. Ali fez uma manobra para voltar até a praça, onde o carro de som e a bateria estacionaram.
Neste ponto mudou-se o samba: até então, cantava-se o enredo do ano, Magia de Voar, que foi trocado por outro, de ano anterior, que homenageia o senhor Nagib Pedro, de mais de 90 anos, que mora exatamente em frente ao lugar onde o bloco parou. O vocalista que puxava o samba, Flávio Mozer, fez a saudação a seu Nagib, ex-combatente na Segunda Guerra Mundial e organizador do Lumiar Futebol Clube durante muitos anos. Também fez referência às perdas causadas pelas chuvas de janeiro e anunciou que no carnaval de 2012 a Vila Mozer, através do Flor do Luar, tratará deste tema e da luta pela reconstrução da cidade. Depois disto, a praça tornou-se um baile de Carnaval, com antigos sambas e marchinhas que marcaram época, mobilizando moradores e turistas.
A característica do carnaval da Vila Mozer é o fato de ser familiar. Bercília Mozer, filha do patriarca Astrogildo e ex-diretora de várias escolas públicas, fazia uma espécie de abre-alas, junto a um avião montado em um estrado sobre rodas, usando um quepe de comandante. Ela dançava com os braços abertos, em uma representação do estribilho do samba, composto por Alexandre Sabará e Ney Velloso (este último, irmão de Benito di Paula), que dizia: “Aperte o cinto, vamos voar; o aeroporto é em Lumiar”. Logo atrás, vinha o carro de som, com os compositores e vocalistas, dirigido por Estanislau de Moraes, marido de Bercília. Ao seu lado, na boleia, José Schwaulb, de mais de 80 anos, cunhado de Astrogildo Mozer, com seu usual chapéu de marinheiro, desta vez com ornamentos carnavalescos dourados e pretos. Ambos compõem o grupo Sanfoneiros da Serra.
No meio do povo, inúmeras figuras conhecidas, como Edimar Heiderich, historiador e diretor de escolas, que seguia marcando o passo do samba junto com a sobrinha-neta Ana Clara. Os integrantes do bloco usavam uma camiseta vermelha de malha, que era vendida a R$ 15 a quem quisesse, literal e figuradamente, “vestir a camisa” da Vila Mozer. No meio do desfile circulava o presidente da Sociedade Musical Euterpe Lumiarense, José Valdir da Costa, conhecido como Zé Pinto. Esbarrando às vezes com ele, seu filho Dilmo, marceneiro conhecido na região, ambos da Vila Mozer. Distribuíam um panfleto com a letra do samba. Curioso destaque a chamar a atenção era o cachorro Rex, com as pernas curtas de basset e o corpo mais avantajado, vestido com a camisa vermelha do bloco, que não saía do meio do grupo e, se alguém perguntava sobre ele, recebia a informação de que era “da Vila Mozer”.
Trazendo alegria a moradores e turistas, o Flor do Luar desfilou também em São Pedro da Serra, no dia seguinte, segunda-feira, com o mesmo sucesso de Lumiar. Detalhe curioso é que, tanto em um dia como em outro, a chuva miúda, que caía sem parar, deu um tempo para o bloco passar. Havia quem dissesse que aquilo era obra de Astrogildo Mozer, que, lá no além, teria convencido o senhor do universo e seus assessores a deixarem os desfiles acontecerem.
Inesquecível, o carnaval de Lumiar de 2011 teve também o bloco Sapo no Seco, show com Jorginho e convidados e o já tradicional Sanfoneiros da Serra.
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