A história de três mochileiros de bicicleta

O que poderia unir um professor de geografia — que também é fotógrafo —, um técnico de segurança do trabalho — que atua na indústria farmacêutica — e um designer gráfico numa causa comum? Não, não precisa chutar, você não vai acertar. O que une Lucas, Hilderim e Saulo é a "força ciclística”.

Lucas Lima e Hilderim Lima são meio-irmãos. Saulo Chimenez é primo de Lucas. A princípio, quem se dedicou a percorrer grandes distâncias de bicicleta foi Hilderim, que mora em São Bernardo do campo, em São Paulo. Em 2010, veio de lá até Nova Friburgo pedalando. São 600 quilômetros entre as duas cidades, que foram percorridos em três dias de viagem. Lucas gostou da ideia do irmão. E combinaram que fariam juntos duas experiências dessas por ano, ao menos. E 2011 chegou.

Nessa primeira viagem, em janeiro de 2011, seriam 1200 quilômetros a percorrer. Nove dias pedalando, de São Bernardo do Campo até Foz do Iguaçu. Mas nada deu certo: debaixo de chuva, foram três dias na estrada e até  chegaram na divisa entre São Paulo e Paraná, mas os problemas mecânicos nas bicicletas por conta das chuvas fizeram com que os dois parassem a viagem no meio do caminho, em Santa Cruz do Rio Pardo. Voltaram para São Bernardo de ônibus. E, chegando lá, alguém disse a Lucas: um ex-prefeito da sua cidade morreu na tragédia. Mas Lucas ainda não sabia da tragédia que nos assolava por aqui. Foi um choque imenso, obviamente. E assim que pôde, voltou para Friburgo.

Em junho daquele ano, Hilderim veio novamente de São Bernardo do Campo e os dois seguiram para Paraty. Entre 450 e 480 quilômetros de viagem, três dias de pedaladas. Chegaram ao Saco do Mamanguá, uma reserva biológica na cidade — onde, inclusive, foram gravadas cenas do filme Crepúsculo. Lucas afirma que é um dos lugares mais lindos que já conheceu. Um ano depois, no feriado de Corpus Christi de 2012, o destino escolhido foi Aparecida do Norte. Lucas é católico, a viagem seria mais que especial.

No fim de 2013, Saulo entrou na conversa. Também devoto de Nossa Senhora, comentou com Lucas o quanto seria interessante fazer o percurso entre Friburgo e Aparecida do Norte de bicicleta, mesmo sem saber que o primo já o tinha feito. O destino, então, estava selado e sacramentado. Fariam a viagem no feriado de Corpus Christi de 2014. Começaram, então, os treinamentos: pedaladas nos fins de semana, spinning. Marilene e Jamille, respectivamente mãe e esposa de Saulo, tinham ainda uma surpresa para ele: uma bicicleta novinha em folha para que ele pudesse fazer a viagem.

Este é um capítulo à parte. Mães, esposas, amigos, familiares, enfim, todas as pessoas próximas que os apoiam nessas experiências. As fotos das viagens postadas nas redes sociais (www.facebook.com/act.cycle)são sempre muito comentadas e curtidas — e foi até por causa delas que a história chamou a atenção da redação de A VOZ DA SERRA. É impressionante o incentivo que eles recebem. Em São Paulo, onde Hilderim mora, existe até um grupo — o Força Ciclística — que se propõe a percorrer destinos de curtas distâncias, geralmente entre cidades vizinhas. "Não há competição: é um estilo de vida onde todos vencem e, de quebra, podem ter esse contato tão direto com a natureza”, diz Lucas. Realmente, ninguém sai perdendo — a não ser, talvez, as calorias.

E no feriado de Corpus Christi deste ano, lá foram os três. Hilderim veio para Friburgo, o ponto de partida, e se juntou a Lucas e Saulo. Pé na estrada — ou melhor, rodas na estrada. Aparecida do Norte, 395 quilômetros, dois dias de mochilas nas costas e pedalando pelo asfalto. E a missão foi cumprida.

Pode parecer loucura pedalar 200 quilômetros por dia, dormir em barracas, levando mochilas pesadas com todos os suprimentos. E é. Mas é justamente essa vontade de fazer algo inusitado que movimenta a vida de muita gente. O vento no rosto, o carinho das pessoas na estrada, a sensação de cumprir uma meta. Nada disso tem preço. 

Lucas é o professor de geografia que também é fotógrafo. Hilderim é o técnico em segurança e Saulo, o designer gráfico. E certamente terão muito mais histórias para contar, principalmente Lucas e Hilderim, que já definiram os próximos destinos dos dois: em janeiro de 2015, completarão a viagem a Foz do Iguaçu. E quem sabe esticar até o Paraguai, até a Argentina. Junho de 2015, Paraty novamente, mas dessa vez com todo o grupo Força Ciclística. E no final de 2015, Brasília.

É, parece que nossa matéria não acaba por aqui.