Leonardo Silva Silveira
A cena já é bem comum: quando me perguntam sobre meu trabalho e eu conto sobre o que tenho pesquisado, logo surge a pergunta “Pra que serve isso?”. Quatro palavras... O suficiente para deixar qualquer cientista embaraçado. Isso porque nem sempre a aplicação de novos conceitos e descobertas acadêmicas está clara, mesmo para seus autores.
Em 1840, o cientista inglês Michael Faraday demonstrou em uma conferência que ele era capaz de gerar corrente elétrica através da movimentação de um ímã. Ele pegou um rolo de fio de cobre ligado a um medidor de corrente elétrica e começou a movimentar um ímã na sua mão, bem próximo ao fio. Como efeito dessa experiência simples, todos viam o medidor acusar a presença de uma corrente elétrica passando pelo cobre. No final dessa demonstração, um membro da plateia se aproxima e lhe pergunta: “Sr Faraday, tudo isso é muito interessante! Mas, pra que servem essas coisas?”. O cientista, com bom humor, respondeu com outra pergunta: “E pra que servem os recém-nascidos?”.
As descobertas na Ciência podem mesmo ser comparadas a um recém-nascido. Ainda precisam de cuidados, atenção e empenho dos cientistas para torná-las aplicáveis, sobretudo, no desenvolvimento de novas tecnologias. Dificilmente uma teoria ou descoberta já nasce com uma aplicação ao nosso cotidiano. E isso não desmerece a sua utilidade. A lei da indução –demonstrada por Faraday na conferência acima – é hoje a base de toda a eletrônica moderna, mesmo que naquela época o seu autor não soubesse responder qual seria sua finalidade!
Quando um dos inventores do laser, Arthur Schawlow, foi apresentar sua invenção, ele propôs uma demonstração usando um balão do Mickey famoso naquela época. Era um balão colorido no formato da cabeça do personagem número 1 do Walt Disney, envolvido por um balão transparente, como mostra a figura. Usando uma pistola de laser, Arthur mostrou que conseguia estourar o balão do Mickey, sem estourar o balão transparente que o envolvia. Isso porque só o balão colorido era capaz de absorver a radiação do laser e esquentar ao ponto de estourar. Mal sabia ele que poucas descobertas na Física seriam capazes de revolucionar tanto a Ciência e a Tecnologia como o laser! Mais que estourar balões do Mickey, ele tem incontáveis aplicações em nosso mundo contemporâneo.
Os cientistas têm o importante desafio de manter seus estudos sempre um passo à frente do desenvolvimento tecnológico, permitindo que a tecnologia se desenvolva utilizando conceitos e descobertas já bem conhecidos e dominados na Ciência. É uma verdadeira dança harmoniosa entre cientistas e desenvolvedores de tecnologia: aqueles produzem o conhecimento que estes transformarão em benefício para a sociedade, em geral.
Leonardo Silva Silveira, mestrando em Física - Laboratório de ótica quântica - Universidade Federal Fluminense
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