Carlos Emerson Junior
Antes que briguem comigo, é bom esclarecer que sou sempre a favor da implantação de arcos rodoviários para desviar o trânsito pesado dos centros urbanos de nossas cidades e acho quem nem preciso justificar, não é mesmo? E isto colocado, vamos à Estrada do Contorno de Nova Friburgo, denominação meio imprópria, já que se trata de uma verdadeira estrada com 42 quilômetros de extensão, ligando o trevo de Duas Barras até Mury, passando por vias vicinais e estaduais na região de Bom Jardim, Stucky e Colonial 61.
A propósito, o DER—Departamento de Estradas de Rodagem—do RJ contratou em outubro de 2011 a execução de serviços de levantamentos topográficos e cadastrais, topo batimétricos, cadastramento arbóreo e de interligações de rede de serviço público, nivelamento, seções transversais e outros elementos complementares, que servirão de apoio para elaboração de projetos viários e estruturais do contorno de Nova Friburgo, objeto do Processo N° E-17/202.019/2011.
Isso significa que a largada já foi dada e, como vocês devem se lembrar, o governo do estado anunciou no mês passado, com pompa e circunstância, a liberação das verbas e conclusão das obras em 2014. Tudo muito bonito e eu aplaudiria de pé, com direito a bis, se não estivesse faltando um pequeno detalhe: não temos a mínima ideia do traçado exato dessa rodovia!
Foi com muita decepção que tomei conhecimento do pedido de adiamento “sine die” da audiência pública que aconteceria na Câmara Municipal de Vereadores no dia 20 de abril, quando autoridades estaduais, municipais e membros da sociedade civil, assim como integrantes de entidades ambientais, finalmente tomariam conhecimento dos detalhes e discutiriam o projeto.
Uma pena, já que as dúvidas são muitas. Por exemplo, o tamanho das pistas e a inexistência de acostamento no trecho entre Mury e Theodoro, a necessidade de evitar a ocupação desordenada e a favelização das margens da nova estrada, o túnel de Mury, a necessidade de apresentação do Estudo de Impacto Ambiental—EIA—e por aí vai. Motivos para preocupação de todos os envolvidos com o desenvolvimento e a questão ambiental é o que não falta.
Nova Friburgo tem duas riquezas naturais, a Mata Atlântica e a rede hidrográfica, onde se destacam os rios Macaé, Santo Antônio, Cônego, Bengalas, Rio Grande e tantos outros. Segundo o Ipanf—Instituto de Proteção Ambiental de Nova Friburgo—possuímos uma das maiores áreas de Mata Atlântica do Brasil. A cidade e as vilas ocupam apenas 4% do território, um paraíso em plena serra.
No entanto, a realidade pode não ser tão verde assim. Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, alerta que no período de 2008 a 2010, detectou o desmatamento equivalente a 12 campos de futebol somente em Nova Friburgo, números que nos colocam em um incômodo oitavo lugar no ranking das cidades que mais desmatam a Mata Atlântica no Rio de Janeiro, o que é lamentável e mais um razão para cobrar transparência dos responsáveis pelo projeto da Estrada do Contorno.
Aliás, a participação da sociedade friburguense nesse debate é indispensável.
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No dia 9 de abril passado, por volta das 12h30, uma enorme carreta enguiçou em plena Avenida Rui Barbosa, em frente ao Ministério Público, provocando um imenso engarrafamento na cidade. Com as rodas travadas, é evidente que foram infrutíferas todas as tentativas de remover o veículo, inclusive através de um reboque cedido pela Faol. Somente com a chegada de um mecânico da transportadora foi possível liberar a via por volta das 19h30, depois de duas horas de trabalho.
Pois é, meus caros, perguntar não ofende e se ofender é um péssimo sinal, não é mesmo? Mas que compensação econômica e ambiental Nova Friburgo recebe por permitir esse tipo de transporte, a qualquer hora do dia ou da noite em suas ruas? No caso de um acidente com um caminhão e a inevitável queda da carga dentro do Rio Bengalas, quem arcará com os custos de despoluição e reparo dos danos? O nosso IPTU?
É bom lembrar que a circulação desses enormes caminhões já é proibida dentro da cidade. A lei municipal número 3251, assinada em 23 de junho de 2003, em seu artigo primeiro é bem clara: “Fica proibido o tráfego de carretas duplas, os chamados treminhões, pelo centro urbano do Município”. Direta, curta e grossa, como uma legislação eficiente deve ser. O problema é que ninguém cobra sua execução. Falta de interesse?
Todo mundo acredita que a Estrada do Contorno ajudará a sanar os problemas do trânsito de Nova Friburgo, mas não dá para esperar até sua conclusão em 2014. Pelo andar da carruagem (e a expressão aqui se aplica à perfeição), corremos o sério risco de institucionalizar os engarrafamentos e nos transformar numa versão serrana da cidade de São Paulo, perdendo incontáveis horas de nossos dias dentro de carros ou ônibus.
Ninguém merece ou quer uma barbaridade dessas, é claro, mas sem união, criatividade e ousadia, inclusive dos órgãos responsáveis pelo nosso trânsito, não vamos a lugar nenhum. Urge cobrar as informações necessárias sobre a Estada do Contorno e discutir uma reforma completa no nosso sistema viário, há muito ultrapassado.
Nova Friburgo é uma cidade muito boa para permitirmos que sua qualidade de vida vá para o lixo. Não dá mesmo!
carlosemersonjr@gmail.com
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