A dança como exemplo de vida

Sucesso na disputa do quadro Dança dos Famosos, no Domingão do Faustão, Patrick Carvalho, 27, é um dos melhores dançarinos, ao lado da atriz Claudia Ohana.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
por Jornal A Voz da Serra
A dança como exemplo de vida
A dança como exemplo de vida

Alessandro Lo-Bianco/ @AlessandroLB

Sucesso na disputa do quadro Dança dos Famosos, no Domingão do Faustão, Patrick Carvalho, 27, é um dos melhores dançarinos, ao lado da atriz Claudia Ohana. O coreógrafo tornou-se um exemplo no morro do Cantagalo, em Copacabana, no Rio, onde nasceu e vive até hoje. Lá, ele já é um vitorioso.
Coreógrafo da comissão de frente da escola do Grupo Especial Inocentes de Belfort Roxo, além de ter no currículo passagens pela Europa e Estados Unidos, ganhou visibilidade ao resgatar a cultura através da dança na vida de crianças e jovens da comunidade.

O que mudou na sua vida indo pra final do programa?
Patrick Carvalho - O que muda é a grande visibilidade para o Brasil inteiro, e até para o exterior. É um trabalho extremamente diferente e difícil, porque temos muito pouco tempo para tudo: só podemos ensaiar duas horas por dia, a música que dançamos, de 1 minuto e meio, só pegamos um dia antes e a artista realmente não sabe nada da dança. Isso muda a minha forma de trabalhar. No carnaval, eu sempre tenho muito tempo para fazer tudo. Tenho de seis a oito meses para idealizar uma comissão de frente e para ensaiar para o desfile. E com a Companhia Dom, eu também tenho tempo para trabalhar. O “Dança dos Famosos” muda minha forma de trabalhar, mas estou gostando demais do desafio, é gostoso.

Você foi idealizador da Cia Dom. Como você montou esse projeto e o que te motivou?
Patrick - Na verdade, esse projeto nasceu baseado em outro projeto do meu irmão, Fernando Tererê, um grande lutador de jiu-jítsu, na comunidade. Ele ganhou uma competição internacional, foi premiado com um carro, vendeu o veículo e, com o dinheiro, montou uma academia no morro para dar aulas der luta, gratuitamente, para crianças carentes. O projeto atendia mais de 300 crianças, mas, meu irmão sofreu um problema de saúde, e acabou deixando a comunidade sem arte e sem chance de levar adiante. Foi aí que eu senti a necessidade e a obrigação de colocar arte na comunidade. Mas fiz diferente: levei a dança para a academia. Assim, surgiu a Cia Dom.

De que maneira você consegue mudar a vida dos moradores da comunidade através do projeto e da dança?
Patrick - As pessoas do morro não saem do morro. É muito difícil saírem dali. Elas não conhecem as coisas boas do mundo. E, no morro, elas têm tudo de bom e de ruim. O fato de eu ser coreógrafo do Grupo Especial do carnaval carioca com a escola Inocentes de Belfort Roxo deixa os moradores da comunidade excitados. Notícias minhas, querendo ou não, repercutem na comunidade. Ainda mais agora com a minha participação no quadro “Dança dos famosos”. Eu ando pelo morro e as senhoras me param e me desejam boa sorte, dizem que estão torcendo por mim. Tudo isso mexe com eles, principalmente, com os jovens. E o fato de não esconder de onde venho, as minhas raízes, os deixa orgulhosos. Eu acredito que assim, eles ficam mais disponíveis para a arte e para as demais coisas boas da vida.

Poderia nos dizer sobre os dois projetos que você deseja criar? Um para terceira idade e outro para crianças... O que você tem em mente?
Patrick - Eu estou acabando as obras na academia de dança e estou muito feliz com esse sonho realizado. Tenho o projeto Cia Dom Mirim, que é direcionado para crianças. A ideia é que essas crianças, no futuro, conforme forem crescendo, se apresentem na Cia Dom., mas temos toda uma preocupação com os estudos. Para estar na Cia, a criança precisa estar matriculada na escola e com notas boas no boletim. Eu e os professores da Cia Dom, Adriana Lima, Henry Antero, Jansen Souza, Daniele Kyngle e Luís Carlos,  seremos rígidos com as crianças. É uma grande diversão com seriedade, uma diversão que utiliza a dança como estímulo para a escola. E o projeto da terceira idade é de dança de salão. Justamente para dar a essas pessoas, que não têm apoio financeiro, uma atividade para eles fazerem que é muito bom para a saúde e funcionará como terapia.

Como é sua vida na comunidade?
Patrick - Da laje da minha casa, eu vejo uma paisagem do Rio de Janeiro que dá inveja a qualquer um: eu sou um verdadeiro carioca da gema. Admirando o visual da minha casa, eu paro, sento e começo a idealizar minhas coreografias e meus projetos. Copacabana me inspira. Eu amo morar no alto do morro, porque eu me sinto sempre perto do céu, que é o limite. Eu idealizo meus trabalhos sempre tentando alcançar o céu. Como não dá, não paro de tentar mostrar ao mundo a ginga e a força do povo da comunidade, que são impressionantes. Aqui, as pessoas já acordam com som ligado e mexendo o corpo. E eu sou assim, herdei isso da comunidade. Nas viagens para Nova York (EUA), eu pude assistir a muitas coisas e estudar. Toda a minha aprendizagem nas viagens, eu junto à riqueza que adquiri no morro. 

Após o quadro no Faustão você ganhou mais visibilidade e isso faz com que algumas crianças tirem você de exemplo. Você sente alguma responsabilidade? 
Patrick - Na comunidade, as crianças me chamam de tio. Eu até acho engraçado. Quando eles falam comigo, eu vejo um brilho nos olhos deles. E isso me deixa muito feliz. Eu tenho consciência de que sou um exemplo para eles. Sei que não posso fazer coisas erradas, porque estão me observando. E quero continuar sendo esse bom exemplo, assim como meu irmão sempre foi para mim e para a comunidade. Sempre corri atrás dos meus sonhos, então, eu sabia que eu chegaria lá,  que era questão de tempo. A minha historia no carnaval é muito bonita. Sou um coreógrafo jovem no Grupo Especial do carnaval carioca, no meio de profissionais renomados, como Carlinhos de Jesus, Marcelo Misailis, Jayme Arôxa e Renato Vieira. Eu comecei na escola de samba da comunidade, Alegria da Zona Sul e, em dois anos, já estava na elite do samba com a Inocentes de Belford Roxo. Foi tudo muito rápido, mas, para chegar onde estou hoje, eu me preparei, estudei e trabalhei muito. Chegou a minha hora!  

Quais são as expectativas? 
Patrick - Eu tenho três objetivos, pelos quais vou dar o meu sangue, o meu suor e as minhas lágrimas para que prosperem: o projeto Cia Dom Futuro, que é nossa academia na comunidade, que se Deus quiser, mês que vem, já estará a todo vapor; manter a escola da Baixada no Grupo Especial; e ser campeão do “Dança dos Famosos”. Sempre foi meu sonho participar do quadro. Tive a oportunidade e não vou desperdiçá-la. Eu vou virar dia e noite para ser campeão, ao lado da minha amiga e meu par Claudia Ohana. Eu quero fazer história nesse quadro, porque não estou dançando sozinho ali, eu represento a minha comunidade, e isso significa muito para eles e para mim. A disputa está acirrada. Muitos profissionais excelentes, como o meu grande ídolo, Marcelo Chocolate, que sempre me apoiou no início da minha carreira e até hoje. Mas eu estou preparado, é o meu sonho e, como costumo dizer: “Vamos a todo vapor”.

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