A culpa é de quem?

Os intelectuais não param de ter um discurso hipercrítico a respeito dos meios de comunicação de massa. Mas eles erram ao dizer que a mídia manipula. Manipular é não deixar saída, não deixar escapatória. É como jogar uma rede. Por isso, a mídia não manipula. Ela direciona, sim, seu ponto de vista, mas cabe a você aceitar ou não, formando a sua própria crítica e opinião. Se a violência aumenta, a culpa é da “TV Crime”. O rendimento escolar cai: a culpa é das horas passadas na frente das telinhas e da imbecilidade dos programas. A abstenção eleitoral aumenta: a culpa é da mídia, que banaliza os eleitores com seus programas de variedades e transforma a política em espetáculo. O culpado é sempre o mesmo. Temos agora um novo demônio, responsável por todos os nossos males da sociedade: a Mídia, a Televisão. Enquanto isso, o governo sai de férias, pois a culpa é toda das emissoras, não é mesmo? A novela, feita para entreter, recebe críticas por não educar. Mas, de quem é o dever de educar? Da televisão ou do Mistério da Educação? Da novela ou do péssimo ensino de qualidade que temos a nível básico no país? Esta semana conversei para o AVS com um autor de novelas, que nos passou o seguinte depoimento sobre o tema: “Acho um absurdo quando escuto que a culpa é da televisão. Os intelectuais que dizem isso não são tão intelectuais assim, pois é um argumento que tira totalmente a responsabilidade do estado de educar. A televisão serve para informar, mas também para entreter quem deseja ser entretido. Quem foi que disse que a novela tem o dever moral de educar? Ela é como um livro qualquer de romance. Você passa metade da sua vida dentro de uma sala de aula pra quê? Para no final cobrar da televisão a sua educação? Qual a finalidade do governo, se tudo é responsabilidade da televisão? Vamos colocar nossa emissora em Brasília então, porque as coisas estão fora do lugar. Até que não seria má ideia, porque lá tem atores muito bons. Esta na hora do povo evoluir e saber que novela é entretenimento, não educação. E quem não sabe disso, não sabe por que o Estado não ensinou. Não é dever da televisão, uma empresa privada, explicar isso ao cidadão. Até é, como um valor moral, mas isso não é um dever de sua inteira responsabilidade. Vê e assiste as novelas aquele que deseja se entreter, não estudar, todo mundo sabe disso. O povo precisa deixar de ser ignorante e aprender quem são as pessoas certas a quem se devem cobrar as coisas certas. Outro dia, vi um político dizer: ‘A culpa é da novela que ensina isto ao povo e dita essa moda’. É revoltante um político ainda dizer que é da novela, e não dele, o dever de ensinar e esclarecer o povo. Isso serve também ao cinema e muitos outros setores da mídia e da grande imprensa. Anota isso aí, não podemos confundir os papéis e isentar cada vez mais, como temos feito, o Estado da responsabilidade de informar, esclarecer e ensinar as pessoas. Quando isso acontecer, ninguém será manipulado por uma novela, pois isso não existe. Com pessoas esclarecidas, o cidadão poderá assistir ao que quiser e ter um embasamento cultural para aceitar ou negar essas influências. E aí, a manipulação, que não deixa escolhas, vai deixar de existir no imaginário das pessoas, porque todos saberão que podem formar sua própria opinião em relação ao que assistem. E digo mais: para aqueles que abrem a boca para gritar que a televisão não educa, a aceitação do Supremo Tribunal Federal de legalizar o direito dos homossexuais só aconteceu porque a novela levou o tema para o debate social há três anos. Isso não partiu de nenhum senador ou deputado não! O preconceito é notório ainda dentro dos colégios e das universidades, que deveriam ser os primeiros a derrubar isso. O povo precisa acordar e cobrar quem deve ser cobrado. Depois de anos batalhando nas minhas novelas pelo direito dos gays, agora o que mais tem é político defendendo a causa. É brincadeira!”