Um entusiasta do filme e da revelação. É assim que se poderia resumir o fotógrafo Paulo Henrique de Carvalho. Com mais de 40 anos de profissão, não é que Paulo esteja alheio aos avanços da tecnologia – ele até tem uma câmera digital, mas prefere a beleza impressa nas fotos tradicionais, onde se nota a assinatura de quem está por trás das lentes. Sob os ditames do digital, Paulo sente-se oprimido. Pudera, é um artista.
E não é uma acusação em vão. Paulo é sim um artista. Suas estantes, dividindo espaço entre vinis, cds, livros e filmes, mostram a profunda e seletiva sensibilidade do fotógrafo: edições raras de autores latinos como Julio Cortázar e Manuel Scorza, alguns clássicos espirituais como exemplares da obra de Deepak Chopra, uma boa quantidade de filmes em VHS - onde se destacam por sua estética esmerilhada e suas cores intensas, O fabuloso destino de Amélie Poulain e Réquiem para um sonho. Assim, revela-se o profundo gosto cinematográfico de Paulo, principalmente pela obra do diretor Stanley Kubrick, responsável por clássicos como 2001, uma odisseia no espaço, Laranja mecânica e O iluminado, que por sinal começou a carreira como fotógrafo.
E, claro, também há fotos na casa de Paulo Henrique. Espalhadas para todos os lados, penduradas nas paredes, empilhadas no chão, algumas presas às páginas de uma série de livros-projeto, onde são cortadas, rasgadas e recoloridas, para serem juntadas depois, anexadas a comentários de próprio punho, obtendo um vistoso resultado, apenas esperando para serem publicados. Um cartaz de uma exposição das suas fotos, realizada em outubro último, revela o óbvio: Paulo não gosta de ser capturado pelas lentes - o cartaz é um autorretrato, com o fotógrafo escondido atrás da câmera.
O fascínio de Paulo Henrique pelo modo tradicional de se fotografar é percebido nas diversas experimentações que ele, orgulhoso, exibe, mostrando as particularidades estéticas da fotografia convencional (ou, ao menos, o que era tomado como convencional até pouco tempo atrás). Como exemplo do experimentalismo exercido por Paulo em seu trabalho, basta observar seu mais recente projeto, onde, apenas com o uso de lápis de cor, ele manipula uma série de fotografias antigas de pontos bastante conhecidos de Nova Friburgo.
As fotos, obtidas através do Pró-Memória, são trabalhadas uma a uma, com Paulo colorindo e dando nova vida às imagens. O trabalho, completamente manual, é reproduzido sobre um fundo específico, dando vida a um cartão postal diferente e estilizado, pautado em uma coloração sóbria, que acentua as imagens. Este resultado, na opinião do fotógrafo, só pode ser concebido de acordo com técnicas tradicionais, mantendo-se distante do hiper-realismo encontrado no trabalho digital atualmente empregado pela maioria dos profissionais.
Atualmente, Paulo Henrique dedica seu tempo ao estudo da criação, desenvolvendo diversos projetos diferentes. Ele também presta serviços como fotógrafo de casamentos, shows e books para modelos. Para quem quiser conferir um pouco de sua arte, fica a dica: seus cartões-postais só se encontram à venda em um único lugar, a banca de jornais em frente à Secretária de Cultura, no antigo fórum.
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