Em entrevista exclusiva concedida na última semana de 2015, o prefeito Rogério Cabral fez um balanço de sua administração ao longo do ano, e comentou como espera enfrentar a crise econômica nacional no último ano de seu mandato atual.
A VOZ DA SERRA: Costuma-se dizer, por diversos motivos, que o terceiro ano do mandato é o melhor para os prefeitos. No seu caso, no entanto, 2015 parece ter sido o ano mais difícil de sua administração até aqui. Começando pelo fim, como foi o desafio de fechar as contas anuais, e qual a importância do contingenciamento de custos dentro deste resultado?
Rogério Cabral: Realmente foi um ano muito difícil. A crise não é um problema apenas municipal, mas sim nacional. Tenho visto algumas cidades em situação realmente complicada, e a salvação foi que a partir de outubro de 2014, quando começou a se intensificar a queda nos repasses, já começei a ter um controle maior sobre as compras e todos os investimentos do município. E quando 2015 começou fiz uma reunião - eu, o secretário de Fazenda (Juvenal Condack) e o secretário de Governo (Edson Lisboa) - e decidimos que seria preciso contingenciar os recursos do município, a fim de termos um controle ainda maior sobre todos os gastos e investimentos ao longo do ano. E aquele foi um momento muito difícil, que rendeu muitas críticas. A nossa vice-prefeita, por exemplo, saiu do governo e me chamou de centralizador. E na verdade, não foi isso. Montamos um grupo que envolveu a Controladoria, a Fazenda, a Secretaria de Governo e a Procuradoria, além do próprio prefeito, para que juntos decidíssemos o que seria feito dali por diante. E começamos realmente a controlar tudo. Muita coisa a gente segurou. Se era preciso comprar 100 vassouras para o município, a gente se perguntava se 50 seriam capazes de resolver o problema. Ah, resolve? Então vamos comprar 50. Fizemos isso em todas as áreas, e foi assim que conseguimos atravessar esse momento difícil, ao ponto de fechar 2015 com todas as nossas contas em dia. FGTS, INSS, precatórios, fornecedores, salários... Tudo em dia. Inclusive a própria UPA, onde a prefeitura cobre desde março a parte que cabia ao governo estadual, e também uma parcela menor do governo federal. Só neste caso, nosso crédito com o governo estadual supera os R$ 3 milhões. Acredito que em 2015 nosso município deu um exemplo de gestão fiscal. Tantos municípios e o próprio estado passando por dificuldades, e nós conseguimos manter as contas em dia. Isso me deixa muito feliz.
Um ano difícil em termos financeiros, e também conturbado na esfera política. A base governista perdeu alguns nomes, e este foi um período de maiores embates, no qual o governo precisou de muita articulação para aprovar certos projetos. Houve também algumas polêmicas, como a questão dos eucaliptos da Praça Getúlio Vargas e depois a tentativa de terceirização do estacionamento rotativo. Em sua avaliação, 2015 foi um ano desafiador sob este aspecto?
Foi sim, mas a experiência política ajudou muito. Porque se o administrador não tiver um pouco de paciência e de tranquilidade no momento de tomar decisões, pode acabar fazendo escolhas que mais tarde vão acabar atrapalhando o próprio andamento do governo. Com relação aos eucaliptos, eu vinha sendo muito cobrado pela imprensa e pela própria população. Se olharmos para algumas matérias feitas por aqui, vamos ver que muitas vezes algum repórter perguntava: ‘O que o prefeito está esperando para agir? Que morra alguém?’ Eu já havia convocado o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em cinco ou seis ofícios, até chegar ao ponto do Iphan dizer à imprensa que a praça era responsabilidade do município, e não deles. Então tomei a iniciativa a partir do laudo que tínhamos, da Universidade Estácio de Sá, e marquei a data para começar os trabalhos. Aí o Iphan também apresentou seu laudo, concordando com a necessidade de que fosse feita a poda. E quando a poda teve início surgiu a polêmica com o grupo de pessoas que são contra, que na verdade é o mesmo grupo de pessoas que são contra tudo na cidade. Essas pessoas foram para a praça, fizeram aquele barulho todo, e com isso o Ministério Público Federal entrou em cena e foi, então, firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que estamos trabalhando para cumprir. E isso, com muitas dificuldades, porque o próprio Iphan assumiu o compromisso de investir cerca de R$ 700 mil para fazer um bom projeto e não conseguiu cumprir, graças a toda essa crise atual.
E quanto ao estacionamento rotativo?
Esse foi um projeto que ainda nem estava concluído. A prefeitura enviou o projeto de lei, que foi aprovado pela Câmara Municipal, e depois fiz o decreto para o regulamentar. Ainda estavam na fase de estudos parâmetros como o número de vagas, e isso nem sequer foi fechado. Aí a oposição, que não quer que nada avance na cidade, que prefere a cidade bagunçada, com um trânsito horroroso, para que as pessoas estejam sempre reclamando, foi para as ruas. Puseram banquinhas nas calçadas, e espalharam mentiras. Eu digo sempre isso, a campanha foi feita com mentiras. Eles pararam até a minha mãe na rua, e quase que ela assinou, porque disseram para ela que o prefeito estava querendo vender as ruas da cidade e, inclusive, ia privatizar as calçadas. Então, com muitas mentiras conseguiram aquele número de assinaturas, na maioria das vezes de pessoas que não dirigem, porque as pessoas eram paradas nas calçadas. Com isso, os vereadores sofreram uma pressão muito grande e recuaram em relação a lei. Mas eu repito sempre: tudo isso foi uma mentira muito grande, porque o estudo do estacionamento ainda não havia sido concluído. As pessoas diziam que o estacionamento iria gerar R$ 30 milhões de arrecadação por ano. E eu não sei de onde eles tiraram esse valor, porque fizeram uma conta de três mil vagas funcionando 12 horas por dia, com as vagas ocupadas o tempo todo. Não foram consideradas as vagas para deficientes, para carga e descarga, para ambulância, carros oficiais, enfim... Fizeram uma montagem mentirosa que acabou confundindo a cabeça de nossa população. O que é muito ruim, porque toda cidade de porte médio ou grande precisa ter organização. E precisa ter um estacionamento terceirizado, porque a prefeitura não consegue fazer esse serviço. Tanto isso é verdade que Nova Friburgo tinha um sistema de rotativo e não conseguiu dar continuidade. Outra mentira é de que a prefeitura iria ficar com apenas 10% da arrecadação. Esse era o número mínimo, mas haveria uma concorrência pública que certamente atrairia diversas empresas, e esse valor poderia chegar a 15, 20 ou 30%. E mais: é preciso ficar bem claro que, da parte que viesse para o município, 50% dos recursos iriam para o Fundo de Compensação Tarifária. Esse fundo existe justamente para cobrir o valor das passagens de quem tem direito a gratuidade nos ônibus. Não é justo, por exemplo, que tantas pessoas ocupem vagas o dia inteiro, colocando automóveis para vender. Essas pessoas estão fazendo comércio em cima de um ponto público e não pagam nada por isso. Mas, enfim, a mentira acabou ganhando força, e nós, que ainda não tínhamos concluído o projeto, sofremos este desgaste todo. Mas esse projeto ainda não está morto não. Ele continua em estudo, os parâmetros estão sendo definidos, e aí nós vamos apresentar novamente para a Câmara de Vereadores, especialmente para a nossa base, para que eles possam conhecer o verdadeiro projeto de estacionamento da cidade.
Ainda no que diz respeito à Mobilidade Urbana, a Lei Orgânica vem sendo descumprida em relação à garantia de gratuidade a passageiros com idade entre 60 e 64 anos, e resolver esta situação é certamente um dos desafios de seu governo para 2016. Como o senhor encara esta situação?
Essa é mais uma situação muito complicada para o município, porque ninguém faz nada de graça para ninguém. Então, se a empresa de ônibus vai transportar mais este grande contingente de pessoas com idade acima de 60 anos, alguém vai pagar por isso. Ou será o município, ou o próprio usuário. Então o vereador, quando fez a lei, tinha que ter previsto isso no orçamento. Em vez disso o orçamento foi aprovado sem nenhuma previsão a esse respeito, e quando a lei chegou às minhas mãos, eu determinei que a Faol a cumprisse. A empresa, por sua vez, disse que, para cumprir, antes precisa saber quem vai pagar essa conta. Aí eu pergunto: de onde eu vou tirar esses recursos, com toda a dificuldade que o município enfrenta atualmente? Essa é uma questão que vai vir à tona agora no início de 2016. Não tenho dúvidas de que a empresa virá com essa cobrança no momento de fazer a próxima revisão tarifária, e nós vamos ver de que forma vamos resolver. Esta é uma reclamação que eu faço em relação a alguns vereadores. A base de situação tem me ajudado muito, e sou muito grato por isso. Mas entre a oposição nós tivemos vereadores que questionaram o estacionamento do município, afirmando que era irregular. Aí parou a cobrança. Depois, quando nós estávamos fazendo o estudo para implantar o novo estacionamento, eles foram contra. Tudo isso depois de terem feito a lei que determina a gratuidade para quem tem mais de 60 anos. Se depender desses vereadores, eles querem dar subvenção para todo mundo. Querem aparecer e ficar bem com a comunidade, mas quando mandamos o projeto de reajuste do IPTU em cinco pontos percentuais para podermos aumentar a arrecadação do município, a oposição é contra. Ao mesmo tempo eles querem que a gente dê tudo. Ora, o município vai tirar esse dinheiro de onde?
Mas o senhor não acha, olhando em retrospectiva, que o governo demorou a se mobilizar para explicar sua posição e comprar a briga do estacionamento, por exemplo? Porque havia sinais de que, da forma como o projeto foi apresentado, a rejeição seria grande...
Na verdade, dentro do poder público, tudo é muito demorado. O projeto ainda não estava concluído. Até porque várias ruas vão sofrer mudanças de mão de direção, algumas em Olaria, outras no Centro, e não adiantava a gente ir para as ruas defender um projeto que ainda não estava concluído. E vale lembrar que o projeto previa uma concorrência pública. Então, se o negócio era tão bom assim, por que nenhum desses vereadores se interessou por participar? Eu gostaria de deixar registrado aqui que para todas as licitações e concorrências públicas que acontecem na Prefeitura a Câmara de Vereadores, o Ministério Público estadual e federal, a CDL, a Acianf... são convidados e poucos são os vereadores que já vieram aqui acompanhar alguma licitação. Eles ficam criticando de longe, mas não vêm participar para ver o que está acontecendo, e de que forma as coisas acontecem aqui. Tudo com muita transparência, tudo aberto, e qualquer um pode vir participar. Por exemplo, quando se falou em fazer um concurso público, eu vi vereadores questionando. E 18 empresas participaram. Eu não tenho dúvidas de que esta licitação do estacionamento ia reunir 15 empresas ou mais, até porque mais de dez empresas procuraram a prefeitura e apresentaram proposta. Eu não tenho dúvidas de que haveria uma concorrência muito grande, e o percentual de repasse aos cofres do município ia subir muito.
Para encerrarmos o tema mobilidade, precisamos falar sobre o Cidade Inteligente e a usina de asfalto. Os dois estão funcionando plenamente, estão rendendo os frutos esperados?
O Cidade Inteligente é um projeto cuja primeira etapa foi concluída. Ela previa a cobertura do eixo que cruza o centro da cidade, e isso foi feito: temos 32 câmeras registrando toda a entrada e saída da cidade. A segunda parte do projeto prevê a cobertura da periferia e da área rural da cidade. E onde houver uma estrutura do município, seja ela uma escola, um posto de saúde, haverá uma conexão por fibra ótica. Levaremos a internet sem fio para o interior, nas principais praças, e assim vamos interligar todas as secretarias. A primeira fase está funcionando com algumas dificuldades, até mesmo porque ainda não conseguimos concluir a licitação da manutenção por falta de orçamento, mas o sistema está funcionando. A Polícia Militar está acompanhando tudo ali dentro 24 horas por dia, e segundo o comandante, coronel Carlos Hespanha já é possível afirmar que o sistema vem inibindo a prática de delitos, porque as pessoas pensam duas vezes antes de fazer qualquer coisa errada pela cidade. Nós tivemos um fim de ano muito tranquilo, e esse resultado é fruto do trabalho conjunto entre a Prefeitura e a Polícia Militar. Recentemente também foi assinado um convênio com o banco Itaú, que vai instalar câmeras de monitoramento em frente a todas as suas agências, transmitindo diretamente para a nossa central. E estamos tentando fazer o mesmo acordo com os outros bancos também, porque quanto mais parcerias tivermos com os bancos, com o comércio e as empresas locais, mais densa será a nossa rede de monitoramento. Eu não tenho dúvidas de que no futuro Nova Friburgo será uma das cidades mais seguras, graças a esse tipo de parceria.
E quanto à usina? Há quem diga que ela representa uma dívida que vai ficar para os próximos governos. Ela está produzindo a contento?
Quem fala esse tipo de coisa é porque não vê a usina funcionando, porque sabe que ela vai trazer muitos frutos para o município, principalmente para os próximos governos. Na verdade, a Prefeitura está sendo preparada para que Nova Friburgo seja uma cidade sustentável, que possa sobreviver sem depender completamente da ajuda dos governos estadual e federal. E a usina de asfalto foi preparada para isso. Ela começou a trabalhar neste governo, mas vai deslanchar em governos futuros. Eu não sei se vamos conseguir operar neste momento com 100% da capacidade dela, por causa da dificuldade financeira. Mas já temos bastante matéria-prima comprada. E como estamos no período de chuvas, e o asfalto à quente depende de tempo bom para ser aplicado, tem sido aproveitado este período para capacitar a nossa equipe, não só com relação ao asfalto à quente, mas também para o asfalto à frio. A empresa contratada faz a manutenção dos dois tipos de usina, então quando não se está trabalhando com um material, trabalha-se com o outro. Em janeiro nós vamos dar início aos trabalhos em Olaria, que está precisando muito deste apoio. O asfalto à frio já foi levado à parte mais alta, e o serviço está sendo concluído em Nova Suíça. Já foi feita a Estrada do Girassol, e tem-se agora um ano para trabalhar, antes do fim deste governo. Ninguém faz uma usina de asfalto para trabalhar apenas por um ano. Ela foi concebida para trabalhar durante 20 ou 30. Tive a preocupação de licitar uma empresa para cuidar da manutenção. Com isso, a usina terá estrutura para asfaltar não somente as ruas da cidade, mas também as principais estradas vicinais do município durante muito tempo. Tudo isso a um custo próximo de 30% do que seria necessário pagar num contrato de fornecimento com uma empresa de boa qualidade.
Já que falamos sobre o Cidade Inteligente, vamos falar também sobre o Cidade Limpa. A essência do projeto é uma unanimidade, todo mundo elogia, mas a forma com que foi apresentado tem gerado diversas polêmicas. O governo está aberto a fazer mudanças importantes no projeto?
Com certeza. Todo projeto que o Executivo manda para a Câmara precisa ser avaliado pelos vereadores, que devem fazer todas as emendas que julgarem necessárias. Até porque o Legislativo pode e deve dar sua contribuição para a melhoria de todos os projetos. O que desejo é aprovar o projeto de forma que possamos melhorar nossa cidade, fazer de Friburgo uma cidade que receba bem os turistas. Nova Friburgo está ficando uma cidade feia. Cada loja com um painel maior na sua frente, as calçadas muito ruins... E quando o projeto foi enviado à Câmara, o líder de governo se encarregou de convocar uma audiência pública para debater o tema. Mas, como sempre, a oposição não quer discutir o projeto, ela quer destruir o projeto. De nossa parte estamos abertos a discutir, mas é preciso aprovar o projeto para fazer com que a cidade melhore sua aparência e possa atrais novos investidores, novos turistas.
O senhor começa 2016 com o caixa praticamente zerado, e sem poder contar com maiores amparos por parte do governo federal e, sobretudo, do governo estadual. Lembrando também que é um ano eleitoral, qual vai ser a estratégia para conseguir fechar as contas em 2016? O que dá para esperar do último ano deste governo?
Eu conto muito com a minha equipe de secretários. Vamos ter uma gestão fiscal tão eficiente quanto foi em 2015, e seremos obrigados a ter um controle ainda maior. Até porque não vou poder contar muito com o governo do estado. O secretário estadual de Saúde já me disse que provavelmente haverá um corte no repasse da UPA em 2016, então já iniciei um estudo sobre onde poderei economizar. Provavelmente a gestão da UPA terá que ser mudada. Terie que cortar onde der, pois preciso fechar as contas neste último ano, não posso deixar nada para o próximo governo. Temos que ser criativos, apertar a fiscalização... Mas a receita própria do município tem sido boa, temos avançado. O trabalho de consultoria junto com a Falconi ajudou muito, e vou precisar de toda a união de esforços para vencer este ano que, sem dúvida alguma, será ainda mais difícil do que foi 2015.
A saúde vem passando por dificuldades, e provavelmente em 2016 haverá menos recursos ainda. Neste cenário, existe a possibilidade da linha de crédito de até R$ 12 milhões oferecida pelo BNDES através do programa Pmat, para investimentos na modernização da gestão da pasta. O que o senhor tem a dizer sobre essas possibilidade de crédito, e como o senhor vê a saúde pública municipal em 2016, tanto em termos de disponibilidade de recursos como de resultados?
Posso dizer que temos feito de tudo para melhorar a saúde. Tanto que a lei me obriga a investir 15% do orçamento, e estou gastando 44%. Os números mostram esse esforço, mas é preciso dizer que saúde está ficando mais difícil de administrar a cada ano que passa, até porque em períodos de crise muitas pessoas deixam de pagar planos de saúde e migram para o sistema público. Automaticamente, essa administração fica cada vez mais cara para o governo em suas três esferas. Mas temos melhorado, com reformas no CTU do Hospital Raul Sertã, que vai passar a funcionar como na UPA, com salas de diferentes cores conforme a urgência de cada caso. Também abrirei licitação para fazer todo o telhado do hospital, reformar o espaço onde funcionava a farmácia interna, abrindo mais 32 leitos, ampliar o número de leitos de CTI, de seis para 30 e, para isso, vou precisar da ajuda das outras esferas, porque do contrário não sei como concluir esta etapa. O hemocentro também já está pronto e deverá ser inaugurado no início do ano; o posto de saúde do Amparo também foi uma obra muito difícil que herdei do governo anterior e também vou entregar... Também avançou-se muito na questão dos medicamentos. Montei uma equipe muito técnica para a saúde, chefiada pelo secretário Rafael Tavares, e com isso abri licitação para tudo que era preciso para o funcionamento da pasta. Algumas dessas licitações já foram concluídas, outras estão em fase de conclusão, outras estão dependendo de recursos para que seja possível dar andamento. Mas a própria CPI da Saúde esteve aqui visitando o almoxarifado central e a farmácia do próprio hospital, e seus membros identificaram que atualmente até pode faltar um medicamento ou outro, mas a grande maioria dos casos estão sendo atendidos. É preciso observar que enquanto diversos municípios estão fechando hospitais e postos de saúde, Nova Friburgo chegou ao fim deste ano de crise com todas as suas unidades de saúde em funcionamento, com o pagamento de todos os seus funcionários em dia. Essa foi uma grande vitória, não do governo, mas para a população.
E quanto ao financiamento?
Eu acho que este empréstimo dos R$ 12 milhões será fundamental para o município. Ele tem dois anos de carência, e é possível que dentro deste período ele já consiga cobrir os próprios custos, porque ao promover a interligação de toda a administração da saúde se terá uma economia muito grande de medicamentos, exames e consultas. Atualmente, por exemplo, a pessoa pega um medicamento em São Pedro da Serra, e uma semana depois vem ao hospital ou a algum posto de saúde da cidade, é atendida, e o médico repete o mesmo exame que ela já fez, repete o mesmo medicamento que já havia sido fornecido. Por isso, na hora em que todas estas unidades estiverem interligadas nós teremos uma economia muito grande. E também vai aumentar a arrecadação, porque nós não recebemos pela maioria dos serviços que realizamos na atualidade. Mas quando o sistema estiver todo informatizado, se dermos uma dose de dipirona a um paciente, isso constará no computador. Sem mencionar que será possível agendar consultas e exames por telefone ou pela internet, e isso vai trazer uma facilidade muito grande em todos os sentidos.
O senhor citou a CPI, e cabem algumas perguntas diretas a este respeito. O senhor tem alguma coisa a esconder? Houve alguma orientação para dificultar os trabalhos de investigação? O senhor está tranquilo com relação ao andamento da CPI?
Muito tranquilo! Não criei nenhuma dificuldade em momento algum. Nós enviamos aproximadamente 200 mil páginas em documentos de tudo que nos pediram. Não conseguimos mandar tudo dentro do prazo de 15 dias como havia sido solicitado, mas enviamos um documento pedindo a prorrogação do prazo, e também todos os documentos que foram solicitados. Não tenho nada a esconder, até porque todas as licitações são abertas à fiscalização de qualquer vereador. O que acontece é que o vereador Cláudio Damião quer encontrar ‘chifre em cabeça de cavalo’, como se diz na roça. Os próprios vereadores da base governista têm procurado contribuir, mas ele cria dificuldade em tudo, tanto que a CPI tinha mais 60 dias pela frente e ele já queria prorrogar antes de vencer o prazo. Enfim... Ele quer sempre criar dificuldade para vender facilidade, essa é a grande verdade. Não tenho nada a esconder, nada a temer, está tudo aberto, eles vão ouvir quem quiserem ouvir. O que vão encontrar é aquilo que se encontra sempre, que seria encontrado em qualquer município: faltam alguns medicamentos, existem dificuldades na marcação de alguns exames, essas coisas. Porque a prefeitura inicia a licitação, mas nem sempre ela acontece no prazo desejado; outras vezes a empresa vencedora não entrega todo o medicamento adquirido, obrigando à abertura de nova licitação. Muitas vezes precisamos fazer compras emergenciais, porque administrar a saúde não é como planejar uma construção, em que os procedimentos podem ser adiados. A saúde apresenta problemas que precisam ser resolvidos na hora, não podem esperar. E, claro, nem sempre temos o dinheiro necessário para fazer tudo que desejamos. Então eu estou muito tranquilo quanto a isso tudo. Ele pode querer inventar alguma coisa, mas estou certo do que no fim a verdade irá aparecer.
Então, no que depender do senhor a CPI vai até o fim...
Sim, os vereadores vão apurar, tanto os de oposição quanto os de situação. O que não pode acontecer é teatro. Eu já vi isso na época em que era vereador. Criaram uma CPI para montar um teatro, e quando chegou ao final não tinha nada para apresentar. Inclusive eu falei há pouco sobre a dificuldade em relação às compras, e atualmente isso é ainda mais complexo. Antigamente se fazia a licitação, e depois a encaminhava para o Tribunal de Contas para que fosse feita a auditoria. Hoje o edital é preparado e em seguida já é encaminhado para o TCE. E, claro, são 92 municípios no estado, então muitas vezes o tribunal suspende a licitação por falta de tempo para analisar o processo, e o município tem que se virar. Às vezes falta algum insumo, mas não há dúvida com relação à transparência e à correção de nossos atos. Não temos nada a esconder de ninguém, na saúde ou em qualquer outra pasta. Estamos fazendo um governo muito aberto, e eu gostaria que as pessoas participassem mais. Que os vereadores viessem mais aqui, acompanhassem as licitações.
O senhor fala muitas vezes em herança maldita. Quanto o senhor já pagou em dívidas? O governo atual não vai também deixar dívidas para as próximas administrações?
O valor que já paguei em dívidas herdadas de governos anteriores já passou bem da casa dos R$ 30 milhões. E eu estou fazendo de tudo para não deixar dívidas para os próximos governos. O que vou deixar são prestações de alguns empréstimos, que são muito menores do que as dívidas que nós estou pagando.
O senhor se firmou em 2015 como uma liderança regional. Há pouco tempo diversos prefeitos se reuniram no seu gabinete, o governador lhe é muito próximo, a presidente Dilma o conhece e visitou Nova Friburgo em 2015. Como o senhor encara essa liderança regional em relação a bandeiras como o novo pacto federativo e a consolidação do consórcio intermunicipal de saúde?
A nossa região tem muitas lideranças. Bons prefeitos, bons vereadores. Mas o que me facilitou foi o meu conhecimento acumulado ao longo de quatro mandatos como vereador e dois como deputado. Por onde passei sempre deixei muita amizade e fiz muitos contatos. Isso facilitou muito meu acesso junto a todos os secretários de estado, ao próprio governador. No governo federal também, apesar de todas as dificuldades eu não posso reclamar, porque consegui muitos recursos nos ministérios. Atualmente eu sou muito bem recebido em qualquer ministério que visito, e nós tivemos um avanço junto aos municípios também, em questões como o consórcio da saúde, por exemplo. Ele não avançou no passado porque Friburgo não participava. Então procurei os prefeitos das cidades vizinhas, e hoje o consórcio está caminhando muito bem, tenho a previsão de compra de insumos para todos os municípios através dele, e isso vai trazer grandes benefícios em economia e em garantia de fornecimento de material, de equipamento, de manutenção para a saúde dos nossos municípios. Eles queriam que eu fosse o presidente, mas indiquei o Paulo Barros, de Bom Jardim, por ser médico. Atualmente, sou o vice-presidente do consórcio da saúde da região serrana; sou o vice-presidente do Comperj; e vice-presidente da Associação Estadual de Municípios do Rio de Janeiro (Aemerj), representando a serra. Fico feliz pela consideração dos colegas prefeitos, e o que eu puder fazer pelo desenvolvimento regional farei sempre.
Após três anos de mandato, já é possível fazer um balanço. O senhor está satisfeito com o governo até agora? Qual o legado que o senhor acredita que irá deixar após este mandato?
Posso dizer que vou deixar uma prefeitura nova. Organizada, com uma gestão muito eficiente desde o início. Quando cheguei aqui, por exemplo, a mesa telefônica era um bagaço. O sistema da prefeitura não funcionava, o servidor era um dos piores entre as prefeituras da região. Hoje temos um servidor novo, com um sistema novo sendo implantado; um sistema de telefonia todo novo; a integração entre as secretarias; os equipamentos... Cinquenta e quatro novos equipamentos, a própria usina de asfalto... A Secretaria de Assistência Social, que sempre foi usada para a prática de politicagem, hoje está muito bem organizada, com os Cras funcionando bem, a Casa da Criança em Mury funcionando, tudo com veículos novos. A Secretaria de Ordem e Mobilidade Urbana com motocicletas novas, a Guarda Municipal com veículos novos. Cinco creches que serão inauguradas no início do ano. Novas escolas na Fazenda Rio Grande, em Salinas... Foi inaugurada a escola de São Lourenço, vamos concluir a escola do São Jorge, a escola do Parque das Flores já está pronta. Então vou deixar a prefeitura organizada para o próximo governo. Se tivesse recebido a Prefeitura do jeito que vou deixar, teria feito o melhor governo que Friburgo já teve, mesmo diante de toda esta crise. Mas o principal ponto positivo foram os avanços que Nova Friburgo obteve no decorrer deste três anos. Subimos mais de mil posições em gestão fiscal no ranking nacional. No índice Firjan, Nova Friburgo apareceu em segundo lugar no estado, à frente de municípios que têm muitos recursos. Concorro ao prêmio Prefeito Empreendedor e já fui classificado para a fase final. Tive grandes avanços, mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos neste período.
Qual a sua avaliação do concurso público municipal?
Foi muito bom. Restam agora as provas práticas para que o processo seja concluído, e num primeiro momento, faremos a substituição dos contratos temporários por servidores concursados. A partir daí, de acordo com a disponibilidade financeira, farei as convocações. Até porque a demanda de funcionários atualmente é muito grande. A verdade é que precisaria chamar todos os aprovados de uma vez só, mas não há condições orçamentárias de fazer isso. Fico muito feliz por ter feito o acordo que permitiu a convocação de todos os concursados de 1999, ter chamado todos os de 2007, e feito o concurso de 2015. Também já dei início aos trabalhos para tentar conseguir fazer o concurso exclusivo para a saúde ainda em 2016.
Para encerrar, qual a sua mensagem para a população de Nova Friburgo, neste início de 2016?
Primeiro, eu gostaria de agradecer a população por tudo. Pela paciência, pela consideração comigo. Apesar das críticas normais, ando pelas ruas e sempre recebo elogios e o carinho da população. Desejo a todos um 2016 de muita paz e muita saúde, e que a população ajude a mim e toda minha equipe, porque vamos precisar muito desta parceria ao longo deste ano, junto com os governos estadual e federal, mas principalmente junto à iniciativa privada, com a população nos ajudando. Porque é nos momentos de crise que precisamos mostrar a nossa união, nossa força, e com tudo isso quem tem a ganhar é Nova Friburgo, é a própria população, que, ao nos ajudar, ajuda também a promover o desenvolvimento do nosso município.
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