O QUE VOCÊ FAZ POR NOVA FRIBURGO? - Água EcoVita: em Macaé de Cima, um exemplo mundial de sustentabilidade

quarta-feira, 29 de maio de 2013
por Jornal A Voz da Serra
  O QUE VOCÊ FAZ POR NOVA FRIBURGO? - Água EcoVita: em Macaé de Cima, um  exemplo mundial de sustentabilidade
O QUE VOCÊ FAZ POR NOVA FRIBURGO? - Água EcoVita: em Macaé de Cima, um exemplo mundial de sustentabilidade

Márcio Madeira

A série de reportagens de A VOZ DA SERRA dedicada a exemplos de cidadania conta esta semana a história de Ricardo Freitas, administrador de empresas que fez carreira no maior grupo de comunicação do país até decidir mudar radicalmente os rumos da própria vida. Passados dez anos, ele hoje é dono de uma empresa que, instalada em Macaé de Cima, tornou-se referência mundial de respeito à natureza. As trajetórias de Ricardo Freitas e sua água EcoVita são a confirmação do tipo de legado que se pode obter quando a sustentabilidade e o comprometimento substituem a ganância e o egoísmo.


Opção pela qualidade de vida

Ninguém que decida trocar uma carreira de sucesso num grande centro urbano por um projeto pessoal em meio à natureza terá apenas o dinheiro como motivação. Com Ricardo Freitas não foi diferente. "Eu comprei o sítio no ano 2000 e naquela altura a minha intenção era criar uma estância de revitalização humana para cuidar de executivos estressados, um local onde as pessoas pudessem se refugiar da vida problemática das cidades grandes”, explica. "Eu já conhecia Nova Friburgo desde a infância, quando costumava vir para cá com meu pai. Mas minha vida seguiu no Rio de Janeiro, e foi somente quando comprei o sítio em Macaé de Cima que voltei a passar mais tempo por aqui.”

Amante da natureza e decidido a trabalhar pela educação ambiental, Ricardo logo demonstrou interesse pelas escolas de Macaé de Cima. "Houve um fim de semana em que eu decidi ficar no sítio para visitar as escolas da região, que estavam em péssimo estado. Procurei a prefeitura e a secretaria de educação, conseguindo finalmente uma carta que me autorizava a fazer todas as obras necessárias para o bom funcionamento da escola. Usei material da minha própria obra, comprei mais algumas coisas... A ideia era colocar aquelas crianças dentro da sala de aula, porque elas estavam estudando na varanda, em junho, com um frio danado. E isso acabou dando certo. Essa cultura de colaborar com as escolas já existia na região, e continua até hoje, não apenas comigo, mas com vários outros moradores.”


Exemplo de relação com a natureza

Os cuidados de Ricardo, no entanto, não se limitaram aos alunos nas proximidades de seu sítio. Dentro da enorme propriedade de 600 mil metros quadrados, parte da floresta havia sido desmatada em décadas anteriores, dando lugar a pequenas colheitas familiares. Além disso, um córrego que aparecia no mapa não era encontrado no lugar demarcado. "Eu procurei aquele córrego por muito tempo, mas não conseguia encontrar. Então um dia eu escutei o barulho das águas, e percebi que ele estava correndo por debaixo das pedras, sem volume suficiente para ser visível. Nessa altura nós já estávamos fazendo o reflorestamento de toda a área devastada, com sementes certificadas pelo Instituto de Pesquisa Florestal de São Paulo. E com o ressurgimento da floresta o córrego voltou. Mesmo em anos mais secos, como este que estamos vivendo, ele está lá, é perene. Se você cuidar da natureza, ela te entrega o que você quiser.”

Motivado com a recuperação do córrego, Ricardo decidiu coletar um pouco da água que nasce no sítio, e que já vinha sendo consumida havia dois anos. "Procurei o Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), da Companhia de Recursos Minerais, e para minha surpresa os resultados indicaram uma água mineral com propriedades bastante específicas. Lá mesmo já me perguntaram se eu não teria interesse em aproveitar comercialmente essa riqueza. Eu nunca tinha pensado nisso até então.”

Com o repetido estímulo de geólogos indicados pelo DNPM para que a água fosse aproveitada, Ricardo começou a buscar informações sobre o assunto. Não imaginava, naquela altura, que ele próprio iria se tornar uma referência internacional de produção sustentável. "Quando surgiu a possibilidade de trabalhar com água, eu comecei a estudar o tema, a pesquisar e entender o que é a água mineral, e como diferenciar uma água de outra. O projeto da fábrica nasceu dessas pesquisas, sempre buscando as maneiras mais sustentáveis de interagir com a natureza.”


Referência mundial de sustentabilidade

A partir dos investimentos inovadores em relação ao meio ambiente, tudo aconteceu rapidamente. Em 2008 Ricardo foi convidado a participar na Alemanha do congresso mundial sobre o tema, e lá foi entrevistado pela Water Innovation Magazine, principal revista do setor em todo o mundo. "A matéria rendeu duas páginas inteiras e mostrou as medidas de sustentabilidade que estavam sendo adotadas aqui. Até então a sustentabilidade não era tema de discussão nesses eventos, de tal modo que o assunto despertou grande interesse. Pouco tempo depois nós recebemos a visita de empresários do mundo todo, querendo aprender mais sobre as soluções de preservação da natureza. E no congresso seguinte, em 2009, eu fui convidado a palestrar em Istambul, justamente para tratar do assunto”, relembra. Mais tarde, em 2011, a EcoVita acabou sendo finalista de uma premiação internacional, avaliada como uma das duas melhores empresas do ramo em todo o planeta.

Além do reflorestamento, houve muitos outros cuidados. A própria fábrica acabou custando muito mais do que seria convencional, justamente por ter sido desenvolvida de modo a causar o menor impacto possível ao ambiente. Paralelamente, Ricardo adquiriu terrenos vizinhos em sociedade com amigos, para neles implantar todas as áreas que poderiam causar qualquer tipo de contaminação cruzada. "Nós transferimos restaurante, refeitório, cozinha... Tirei tudo isso da fábrica e coloquei no terreno ao lado. Eu isolei aquele local, que agora só produz água. Ninguém pode comer ali para não atrair inseto, não atrair roedores, animais da própria floresta...”

"Na verdade, esse tipo de projeto requer um investimento imenso”, explica. "É preciso gastar com máquinas, equipamentos, preparação de funcionários, porque o objetivo sempre foi o de gerar emprego para as pessoas dali. Então você tem que treinar, preparar, dar qualificação. Por sorte eu tive o apoio do meu banco, que fez a ponte com o BNDES para levantar os recursos. Os processos de captação e industrialização representam o que de melhor existe no mundo”, conta.

Por fim, Ricardo teve ainda o escrúpulo de limitar a própria produção desde o projeto da fábrica, respeitando um limite de extração muito abaixo das capacidades do local. "Desde 2007 nós fomos informados de que poderíamos captar até 36 mil litros de água por hora, conforme a capacidade de nossas nascentes. Nosso projeto, no entanto, limita essa capacidade a seis mil litros/hora, para que não exista qualquer impacto sobre a qualidade da água ou a capacidade de renovação dos aquíferos. Mesmo esta quantidade que coletamos é muito inferior ao fluxo do córrego que foi recuperado, de modo que nossa produção acaba tendo um saldo positivo com a natureza. Em relação ao uso do plástico, nós investimos em educação ambiental para que seja feito o descarte correto, e também recebemos as garrafas devolvidas, que são encaminhadas para a reciclagem”, explica.

Respeito ao meio ambiente, desapego, paciência, inovação e consciência social. Por todos estes valores, Ricardo Freitas representa um exemplo a ser seguido por empresários e cidadãos que pretendam fazer algo de prático e útil por Nova Friburgo.

Atualmente a marca EcoVita também pode ser vista em embalagens de mel, nascidas de um apiário regional cuja produção Ricardo compra e revende sem lucro, com o intuito de dar oportunidade de trabalho a moradores locais.

 

Ricardo Freitas



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