Equinócio de outono

segunda-feira, 22 de março de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Alda Maria de Oliveira*

Nasci em pleno inverno mas me tornei uma mulher de outono.

Me seduz o tapete de folhas se desmanchando em cores aqui nas montanhas onde muitas árvores são decíduas, deixando cair suas folhas antes do inverno e é nosso o privilégio de ter um clima austral tropical de altitude, temperado, quase frio nos anos bons.

Bons, porque num ano bom é o frio, seco – ele, quando chega é em plena época da seca – que vai se instalando no outono-inverno, com a temperatura caindo devagar, a névoa da manhã se derramando sobre as ruas, nos vales, estradas e grotões nos preparando para um sol pleno logo depois estampado num céu azul de doer o coração de tão belo.

É um tempo tão bom que nos permite andar pela cidade, andar pelo campo sem sombrinha ou guarda-chuva e recuperar-nos do longo verão de chuvas, nunca fácil, em nossas montanhas. Basta um chapéu leve entre nós e o sol para o conforto ser pleno.

Queria eu uma festa outonal para o sol, como faziam os celtas, os maias e incas, os egípcios, os povos indígenas de tantos cantos do mundo, assim bem no meio de abril, que começasse na madrugada de uma lua nova e que a gente rezasse e dançasse a cada três horas e comesse nos intervalos aquelas frutas da estação cuja realeza maior é do caqui. E jogasse muita conversa fora.

Equinócio é a festa do equilíbrio: nesse dia a duração da noite é igual à duração do dia. É o instante em que o sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste.

O equinócio de outono marca o início da época da colheita dos grãos que foram semeados na primavera e a colheita dos frutos muito doces.

O equinócio de outono aponta para dias cada vez mais curtos e noites cada vez mais longas até a chegada da Grande Noite Escura, no Solstício de Inverno.

Tem início dia 20 de março, sábado, 14 h e 30 minutos.

Abre o outono, o ano estelar, o ano RosaCruz. O Capítulo RosaCruz, em Nova Friburgo faz sua meditação e festa de ano novo, lá na Rua Ceará, 33.

Mas cada um de nós e cada uma de nós, pode escolher uma forma de se ligar com o Universo do qual fazemos parte e celebrar esse instante mágico de maneira particular. É uma passagem, um portal.

O Equinócio do Outono é o tempo em que Deméter está em prantos por Perséfone. Vamos olhar para dentro de nós mesmos e procurar por nossa filha interna que nos foi roubada.

A partir do dia 20 – dia do equinócio – começamos nossa caminhada interior em direção à Grande Noite Escura – que é o solstício de inverno.

A jornada até lá que é o Caminho do Outono nos irá trazendo dias cada vez mais curtos e noites cada vez mais longas. Simbolicamente, pode significar o Caminho do Inconsciente, quando poderemos trabalhar nossos conteúdos mais internos e íntimos, nossos cantos mais escuros, nosso porão da alma, através de nossos sonhos ou através da imaginação ativa ou de outras mil formas que nós mesmos elegeremos.

O importante é aproveitar os instantes estelares para clarear, cada vez mais, nosso caminho aqui no Planeta Terra.

E sendo 2010 – o Ano Internacional da Biodiversidade, pela ONU – Organização das Nações Unidas – é bom que nosso olhar se volte para essa nossa Casa Maior, nossa Oikos, em grego, nossa Oca na língua tupi-guarany, a língua geral dos povos indígenas quando os portugueses aqui chegaram.

E perceber de forma mais intensa o Planeta Terra é deter-nos olhando a floresta – nossa mata atlântica – aqui tão próxima, tão dentro do nosso território municipal, tão guardada pelas nossas montanhas, nesta época do ano nos convidando a adentrá-la para o espetáculo das cores roxo e amarelo que as quaresmeiras e os fedegosos nos oferecem a cada Páscoa.

Páscoa é passagem - pessach, do hebraico – e há uma travessia neste século 21 que urge ser feita: precisamos adaptar nosso consumo a taxas compatíveis com a preservação do Planeta e da própria Humanidade. Precisamos desconstruir um modo de viver danoso à vida no Planeta e construir um modo de vida compatível com a modernidade verdadeira: simplicidade, frugalidade, repartir, compartilhar o que temos e celebrar. Sempre.

Vamos ter presente o que disse Fidel Castro, na abertura da ECO-92, em 1992, no Rio Centro, na cidade do Rio de Janeiro: “Falo em nome do povo cubano, trazendo a minha preocupação com a espécie com o maior risco de extinção no Planeta, as pessoas, os seres humanos. É por elas, para elas e com elas que precisamos trabalhar!”

Dia 21 de março é o Dia Internacional das Florestas. É um dia para passearmos nossa história de município com a segunda maior reserva de mata atlântica do estado do Rio de Janeiro, o primeiro é Paraty. Olha o nosso compromisso! Há tantos lugares, tantas comunidades, tantos pedaços de rios e de floresta para encontrarmos que o difícil é escolher. Eles estão por aí, esperando o nosso encontro. Todos os nossos oito distritos têm lugares de cartão postal.

E a floresta tem sido a guardiã desse imenso tesouro planetário que são as águas.

Dia 22 de março é o Dia Internacional das Águas, estabelecido pela ONU, em 1992. Vamos celebrá-lo a partir do nosso primeiro banho, da manhã. Deixar que as águas corram pelo nosso corpo nos purificando, por dentro e por fora. Vamos celebrá-lo no nosso café da manhã de sábado, agradecendo a presença dela no café, no leite, no suco, nas frutas, no pão – a água está em todo o lugar.

A água cobre cerca de ¾ do Planeta: por isso a Terra é tão azul. Mas 97% das águas estão nos oceanos e mares e são salgadas. Menos de 3% são de água doce. Do percentual de água doce, 77% estão congelados nos círculos polares, 22% compõem-se de águas subterrâneas e somente a pequena fração restante, cerca de 1%, encontra-se nos lagos, rios, plantas e animais.

Somos, nós humanos, plantas e animais compostos por ¾ de água.

É nossa tarefa cuidar das águas. Da floresta. Das pessoas.

Mas acredito que se cuidarmos da natureza, ela cuidará de nós, como tem feito há milhares de anos.

Cuidar, participando. Fica o convite para o Fórum da Agenda 21 Local de Nova Friburgo, para o Movimento Nova Friburgo 200 anos, para as reuniões do Commam e do Conselho Municipal de Turismo e a torcida para que Nova Friburgo seja eleita Município Indutor de Turismo Regional. Nesses espaços, poderemos exercer nosso ato de amor para com o planeta cuidando, principalmente das pessoas, desse povo de montanhas que somos todos nós, mas também da cidade, da natureza, da nossa história ímpar.

Engenheira agrônoma, diretora administrativa da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Nova Friburgo – Aeanf, coordenadora-geral do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Commam), Conselheira na APA de Macaé de Cima, no Conselho Municipal de Turismo, no Conrural e membro da Agenda 21 Local de NF e Comperj / Petrobras. E.mail:aldah.olive@bolcom.br

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