Motociclista se prepara para bater recorde mundial de travessia

quarta-feira, 03 de março de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Quando se faz algo por paixão, inúmeros obstáculos podem ser superados. Entre eles até mesmo a própria idade. Esbanjando saúde e vigor físico, o motociclista estradeiro (como ele próprio se define) Augusto Lins e Silva Netto é uma prova disso. Prestes a completar 69 anos, traçou um dos objetivos mais ousados de sua vida: estabelecer o recorde mundial de travessia sobre motos, na categoria veterano.

A meta de Augusto é sair de Nova Friburgo, provavelmente no dia 27 de junho, e em cinco meses e meio de viagem ir até Vancouver, no Canadá, e retornar à cidade no fim de dezembro, totalizando um percurso de pouco mais de 40 mil quilômetros. Com isso ele entrará para o Guiness Book, o livro mundial dos recordes. “Vou levar o nome de Nova Friburgo para o mundo. Essa marca é a única que falta a minha galeria, vai ser difícil encontrar motivação para outra aventura depois dessa” acredita.

E o motociclista garante que a tarefa não é das mais difíceis para ele e já até imagina uma extensão do percurso. “Tenho um filho que mora no Alasca. E, pelo que me conheço, provavelmente não vou me dar por satisfeito indo apenas até o Canadá. Se na época estiver me sentindo bem vou visitá-lo e, consequentemente, aumentar a minha marca” projeta.

Além desta meta, Augusto conta que há ainda outro objetivo a ser alcançado na viagem: participar do maior festival mundial de motociclismo nos Estados Unidos e ser o primeiro da América do Sul a ir de seu país de origem em sua própria moto. “De 8 a 15 de agosto acontece o Encontro de Sturgies, próximo à Dakota do Sul. Entrarei lá com a minha moto, com placa de Nova Friburgo, e serei a principal atração do evento. Em toda edição eles dão um troféu para quem foi pilotando até lá e veio de mais longe e certamente este ano eu vou ser o premiado”, acredita.

O trajeto da aventura

Inicialmente Augusto cortará toda a América do Sul, passando por países como Paraguai, Argentina, Chile, Peru, entre outros. Curiosamente, parte do trajeto terá que ser realizado sobre um veleiro. “Em Cartagena, na Colômbia, não há estrada até o Panamá. Só se atravessa mesmo a bordo de um barco. De lá sigo até a cidade panamenha de Porvir, passando pelo arquipélago de San Blas”, adianta.

Na América Central segue toda a sua rota beirando o litoral. “Se der, tomo ainda um banho de mar no Caribe”. Passa ainda por cinco países do continente até adentrar em território mexicano. Atravessa os Estados Unidos, parando antes em Sturgies, onde haverá o encontro. De lá segue para Vancouver, a princípio o ponto de chegada.

No percurso de volta o caminho será diferente, ao menos no território americano, onde passará por Chicago, num cenário típico de filmes, com estradas à beira do deserto. Os muitos anos de experiência e as inúmeras viagens realizadas o deixam tão confiante a ponto de abrir mão de um acessório vital para muitos. “Não preciso de mapa, conheço praticamente todo o caminho. Vou apenas ser monitorado por uma empresa, que irá instalar um aparelho em minha moto, que terá acesso integral ao meu percurso. Isso servirá como forma de comprovação junto ao Guiness, já que eles emitirão um relatório elaborado”, revela.

Augusto afirma que roda por dia no mínimo 800 quilômetros, parando apenas três vezes para abastecimento. Normalmente viaja durante seis dias e descansa dois, sendo esta pausa válida para a lavagem de suas roupas e a manutenção da moto. No entanto, seu forte ritmo inviabiliza a presença de um outro estradeiro que possa acompanhá-lo. Almoço, por exemplo, é um item que não faz parte de sua programação. “Faço um lanche para me manter. À noite janto e costumo caminhar pela cidade enquanto faço a digestão. Durmo mais ou menos às 22h e às 5h da manhã já estou de pé, pronto para mais um dia de aventura”, conta.

O reconhecimento após mais de meio século dedicado ao esporte

Em sua casa Augusto coleciona mais de 400 itens, entre troféus, certificados, flâmulas, reportagens, entre diversas outras homenagens recebidas através do motociclismo. Pernambucano de origem, já trabalhou em diversas áreas ao longo de toda a sua vida, tendo até ingressado na carreira política. Neste campo tem outra marca estabelecida. “Fui eleito prefeito de Recife com apenas 21 anos. Até hoje sou o prefeito mais jovem que uma capital brasileira já teve. Fui também vereador e deputado federal por três mandatos”, orgulha-se.

Após abandonar a política, dedicou-se à vida de empresário. No entanto, sua maior paixão nunca foi deixada de lado e sempre afirmou que um dia se dedicaria exclusivamente a ela. “Com 15 anos ganhei minha primeira moto, que na verdade era uma lambreta. São 54 anos de dedicação. Sempre disse que quando me aposentasse nunca mais ia querer saber de trabalho, ia viver em função das minhas viagens. E há dez anos estou nessa vida”, admite.

Perguntado se a idade o atrapalha em alguma coisa, ele afirma que não, muito pelo contrário: “Quando chego a um encontro e tiro o capacete, é aí mesmo que as pessoas vêm me parabenizar”, revela.

O apoio que vem de casa e a busca por patrocinadores

Embora passe boa parte de seu tempo na estrada, Augusto garante que isto não lhe traz problemas em casa. “Toda quinta-feira saio de casa e rodo o país. Minha mulher adora, se pudesse ia sempre comigo, mas os compromissos profissionais dela inviabilizam isso. Já fomos juntos a diversos países, ela prefere as viagens mais longas”, afirma.

Em relação aos gastos com este próximo projeto, o motociclista estima que o valor total da viagem fique em torno de R$ 28 mil. Entretanto, acordos com patrocinadores estão sendo firmados para viabilizar a aventura. A moto que será utilizada, por exemplo, não foi definida, pois Augusto ainda está em fase de negociações com algumas empresas interessadas em divulgar a marca. Mesmo assim acredita que ele próprio terá que financiar uma parte do valor. “Não me vejo tendo lucros com este recorde. O reconhecimento e a realização pessoal não têm preço. Ponho tudo o que for preciso em risco em busca disso”, garante.

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