Em todas as 32 edições do Rally Dakar, foi a primeira vez que um friburguense conquistou um resultado tão expressivo: o primeiro lugar entre os poucos brasileiros que conseguiram completar a prova e o décimo colocado no Rally Dakar, o mais difícil, o mais longo e o mais perigoso rally do mundo. E, para orgulho das grandes famílias friburguenses Spinelli e El-Jaick, o campeão é o Guiga, filho de Ricardo El-Jaick e Mayra, neto pelo lado paterno do saudoso Humberto El-Jaick e de dona Zeir e, pelo lado materno, do casal Nelson-Naná Spinelli.
Na última quarta-feira, 3, Guilherme Spinelli esteve rapidamente em Nova Friburgo, especialmente para rever a família e aproveitou para dar uma entrevista ao jornal A VOZ DA SERRA.
Guiga, que formou dupla com o português Filipe Palmeiro em Dakar, já correu mais de 200 rallies, mas até então não havia corrido no deserto, encarando situações nunca enfrentadas. Garante que não é mesmo brincadeira. “Você jamais imaginaria que um carro poderia passar em certos locais, e a gente passa”, diz. “A chance de a gente não conseguir completar o rally era muito grande, de praticamente cem por cento”, afirma.
Sua estratégia foi inteligente. Quando as características do solo eram parecidas com as nossas ele aproveitava, andava o mais rapidamente possível. Quando se defrontava com um tipo de solo desconhecido, com o qual não tinha lá muita intimidade, era mais cauteloso. Vale ressaltar que dos nove mil quilômetros do Rally Dakar, seis mil são em pleno deserto, com direito a tempestades de areia, ventanias etc. A todo momento sua maior torcida era para que não houvesse nenhum acidente, nada que o tirasse da competição. O que ele mais queria, repete, era ganhar experiência para os anos seguintes. O resultado foi muito além da encomenda e certamente ele terminou o rally muito mais à vontade pilotando no deserto com seu Mitsubishi do que quando começou. Guilherme achava que não teria nenhuma chance de conseguir qualquer colocação, a não ser que houvesse, assim, uma zebra muito grande. “Eu me daria por muito satisfeito em completar a prova”, disse. O problema é que a característica predominante da parte técnica do Dakar é o deserto e não temos deserto no Brasil. Minha experiência neste tipo de solo era nula”, explica.
Fora isso, o Dakar é mesmo o bicho! Basta dizer que dos 134 carros que largaram, só 57 terminaram o percurso e dos 25 brasileiros inscritos só seis chegaram ao fim da disputa, após 15 dias de corrida estas condições.
Este ano deverá disputar duas ou três provas menores no Brasil, só para não perder o ritmo. Neste intervalo correrá o Rally dos Sertões, no meio do ano e pelo menos mais dois rallies no exterior, com características semelhantes às de Dakar. No ano que vem quer imprimir um ritmo mais forte a seu carro, ainda que, em sua opinião, ainda sem chances de vitória. “Mas indo neste passo a passo, talvez em uns quatro, cinco anos, quem sabe, a gente consiga ganhar este rally, seria meu maior orgulho”, diz.
Fora das pistas, Guiga é uma pessoa tranquila que gosta de ficar em casa, curtindo a mulher, Renata e o filho Gabriel, de dez meses. Mãe e filho, aliás, acompanharam de longe todo o rally e estavam lá no final da competição para abraçar e beijar o campeão.
Por falar em filho, Guiga titubeia quando perguntado se gostaria que o filho fosse piloto. “Pergunta difícil, hein? Se ele quiser, vou ter que aguentar o tranco, não tem jeito”, diz. Mas não consegue disfarçar o orgulho ao contar que o moleque, com menos de um ano, já demonstra gostar de carros. “Ele fica mexendo no volante, imita barulho de motor...”
Friburguense de coração
Guilherme, o campeoníssimo, não nasceu em Nova Friburgo, mas seus vínculos com a cidade, desde a infância, são muito estreitos. Era aqui que passava as férias, os fins de semana, foi aqui que ele correu seu primeiro rally, aqui obteve seu primeiro patrocinador, a Auto Mecânica Longo, dos irmãos Carlos e Loilson Longo, que sempre o incentivaram.
“Não tinha a intenção de virar piloto, mas aqui em Friburgo eu já treinava muito em estradas de terra. Desde moleque dirigia no sítio da família, na Granja Spinelli”, conta. Começou a dirigir no colo do avô, Nelson, um apaixonado por carros e corridas. As pernas nem tocavam os pedais. O primeiro lugar em que dirigiu sozinho na rua foi em Nova Friburgo. Guiga lembra, com um sorriso nos lábios, do primeiro campeonato que ganhou na vida, ao lado do tio, José Augusto Spinelli, o Zé Bisel, num Corcel 2. “Ele já estava parado, voltou a correr só para me introduzir no campeonato”, conta.
O melhor brasileiro na competição
Guiga Spinelli agora integra o seleto grupo dos dez melhores times na categoria carros. A dupla cruzou a linha de chegada da 14ª especial entre Santa Rosa e Buenos Aires, em 13º lugar, em 1h24min50s, completando o rally em 10º na classificação geral dos carros com o tempo de 53h23min41s.
Deixe o seu comentário