Meu diploma, uma peça decorativa

terça-feira, 02 de fevereiro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Por Max Wolosker

Na semana que passou fui à Universidade Candido Mendes para pegar meu diploma de jornalista, num curso que durou quatro anos, de 2003 a 2007. Foi um período de sacrifício, de estudos, de alegrias e de tristezas, muitos amigos conquistados entre os colegas de turma, apesar de muito mais novos, e entre os professores. Mas o saldo desse tempo foi positivo na medida em que me abriu outros horizontes e me moldou na arte de ver, interpretar e escrever.

No entanto, ao assinar aquele que foi meu segundo diploma universitário, não pude esconder uma ponta de decepção, ao tomar consciência de que aquele canudo não tinha outro valor que o sentimental, uma vez que ano passado o STF, em mais um arroubo de prepotência, descaracterizara a associação do pleno exercício da profissão ao diploma universitário.

Os interesses das grandes organizações midiáticas foram preservados, pois ao deixar de ser uma carreira universitária, legaliza o que já acontece hoje quando o estagiário deixa de ser aprendiz e por um salário aviltante ocupa a função de um profissional. Mais grave ainda é o fato de que ao aprendiz faltam a experiência e o discernimento para o exercício pleno da profissão.

Num país em que seu presidente já disse em alto e bom que som que ler livros é perda de tempo, estudo universitário e o consequente diploma de conclusão coisas da elite, nada mais surpreende que a decisão da não obrigatoriedade de ser jornalista formado, para ser contratado como tal. Aliás, gostaria de saber qual seria a reação da OAB se o chefe da nação, no seu direito de indicar os ministros do STF, optasse por um cidadão que não tivesse concluído o curso de Direito? Da mesma maneira que escrever é um dom que dispensa os bancos universitários, as decisões da nossa mais alta corte, ao serem de cunho político, também não precisam do embasamento dos fundamentos jurídicos.

Nessa linha de raciocínio, faculdade é mesmo uma coisa supérflua, pois se de médico e louco todos nós temos um pouco, por que exigir de nossos futuros esculápios seis anos de curso e pelo menos mais dois de especialização? O pajé cura sem nunca ter estudado. Para que formar professores, construir escolas, se na pré-história as crianças aprendiam pela simples imitação dos mais experientes? Para que formar advogados se na idade média eram os chefes dos clãs que ditavam a ordem e mesmo na monarquia, eram os monarcas que faziam justiça?

Para ser jornalista há que ter cultura, capacidade investigativa, domínio da técnica da escrita jornalística e da língua portuguesa e ética, palavra curta, mas de grande complexidade. Muitas vidas podem ser destroçadas por informações mal trabalhadas ou capciosas mesmo. Basta nos lembrarmos dos donos de uma escola de São Paulo, acusados de pedofilia, que perderam tudo, tiveram suas vidas transformadas num verdadeiro inferno, para depois serem inocentados, quando se descobriu que as investigações jornalísticas foram mal conduzidas. Além disso, basta ler os grandes jornais de hoje para se ficar horrorizado com os erros grosseiros de ortografia, de concordância e de clareza nas informações. Trata-se de um verdadeiro atentado ao vernáculo.

A você jovem que está começando o curso de Jornalismo, dedique-se ao máximo, estude muito, tenha uma formação de peso e lute para que a sua profissão volte a ser reconhecida e continue a nos brindar com jornalistas que em todos os tempos engrandeceram a nossa imprensa.

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