O que será?

segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Este é um ano eleitoral, as candidaturas principais estão colocadas – embora ainda não formalmente – e outros ajustes estão se fazendo que podem ser decisivos. Um deles é a candidatura do ministro Ciro Gomes (PSB). Não se sabe ainda se ao governo do estado de São Paulo ou à Presidência da República. Se for esta última hipótese, a candidatura de Ciro à Presidência pode prejudicar a da ministra Dilma Roussef (PT), pois dividiria com ela os eleitores que apoiam o atual governo e, com esta divisão, poderia tirar os dois do possível segundo turno contra o oposicionista José Serra (PSDB), atual governador de São Paulo, que, até agora, lidera as pesquisas de intenção de voto. Mas ninguém é ainda candidato, só depois das convenções partidárias, em junho.

Com o tempo, vai crescer o interesse do cidadão comum pelo acontecimento de outubro e discussões vão se acalorar, ideias vão ser postas em circulação, interesses dissimulados em princípios ou projetos vão entrar na dança. Surpresas podem acontecer, porque a sociedade está viva. E entender porque essas surpresas são possíveis é uma tarefa muito difícil, justamente porque estamos todos envolvidos no processo. Se somos sujeitos dos acontecimentos, somos também objeto, somos formados por eles.

Norbert Elias (1897-1990) tenta dar uma explicação para esse processo que a sociedade segue em sua transformação recorrendo ao conceito psicanalítico de ‘pulsão’. Para Sigmund Freud (1856-1939) pulsão é uma força que, gerando movimento, cria energia com sentido determinado, isto é, voltada para algo. E esta força está no inconsciente do indivíduo. É diferente de ‘instinto’, que é algo exclusivamente animal, isto é relacionado com necessidades fisiológicas do indivíduo. Elias procura entender como a sociedade lida com as pulsões dos indivíduos, como ela as controla e dá-lhes sentido. O resultado a que Elias chega é que, na sociedade, existe em modo comum de lidar com as pulsões. A energia das pulsões, consequentemente, é coletivizada.

Então, pode-se dizer que a vida da sociedade está nessa pulsão coletiva. E como é difícil determinar a origem das pulsões socializadas, é difícil intervir sobre a sociedade. Mas é preciso compreender essa dinâmica.

Chico Buarque compôs uma música que fala dessa força descontrolada, que nem mesmo uma ditadura pode dominar. Em um trecho da música, ele pergunta o seguinte:

O que será que será

Que andam suspirando

Pelas alcovas?

Que andam sussurrando

Em versos e trovas?

Que andam combinando

No breu das tocas?

Que anda nas cabeças?

Anda nas bocas?

Pode-se pensar na estrutura social, isto é na maneira como a sociedade está organizada, com poder maior ou menor para uma ou outra de suas partes componentes, com o valor econômico fluindo para um ou outro agrupamento. Mas só a estrutura social não é suficiente para entender por que as pessoas agem, por que resolvem adotar este ou aquele posicionamento político, por que votam.

É esta vida social, baseada em pulsões sobre as quais não se tem muito controle, que vai gerar os posicionamentos dos indivíduos na corrida da eleição. É claro que tempo de televisão é muito importante para o candidato, assim como as novas possibilidades tecnológicas. A internet, aliás, pode ser um instrumento novo nesta campanha eleitoral. Mas estes serão instrumentos. O importante é o modo como as pessoas vão lidar com eles, isto é, como cada ferramenta, nova ou velha, vai se adequar à vida da sociedade, como vai permitir ou inibir o processo de coletivização das pulsões e como isto vai se refletir nas eleições.

(*) Jornalista, mestre em sociologia

mauriciosiaines@gmail.com

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