Mortes em catástrofes naturais marcam o início de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

O ano de 2010 começou com a natureza mandando a conta com juros e correção monetária das agressões cometidas pelos homens e que estão causando grandes alterações no clima. Nevascas de grandes proporções na Europa, Ásia e Estados Unidos, com temperaturas abaixo de zero a níveis há muito tempo não vistas. Como exemplo, podemos citar o volume atual de neve em Londres, cuja intensidade semelhante ocorreu há cinquenta 50 anos atrás.

Seca, calor e queimadas na Austrália, chuvas torrenciais com transbordamento de rios, alagamentos de cidades, deslizamento de terra, mortes numa quantidade alarmante na Região Sudeste do Brasil.

O que causa preocupação e nos leva a meditar, é se a atuação de nossos políticos é somente eivada de irresponsabilidade ou, o que é mais grave, se é premeditada. A ocupação das encostas em Angra dos Reis, onde o número de mortos foi elevado, levou os técnicos da Defesa Civil da cidade do Rio de Janeiro a condenar mais de 50% das construções ali existente, isso após os deslizamentos no centro de Angra e na Ilha Grande. O que é mais grave: em 2007 o TCE (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) determinou a demolição de obras irregulares, entre as quais a da Pousada Sankay. Mais espantosa é a declaração do ex-prefeito da cidade Fernando Jordão, segundo reportagem de Chico Otávio, do jornal O Globo, que não se lembrava do relatório e que Angra é muito grande. Aliás, o mínimo que se exige de um prefeito é que conheça o seu município e não apenas o seu gabinete de trabalho.

Ano passado tivemos os mesmos problemas no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, onde muitos também perderam a vida e a ocupação das encostas, sem um estudo aprofundado das condições do solo, foi de acordo com os técnicos, fator determinante da tragédia. Petrópolis, felizmente poupado até agora, é outro foco de desabamentos e deslizamentos por causa da ocupação irregular de seus morros, quase sempre com consequências funestas. Não podemos deixar de fora também Nova Friburgo, cuja ocupação desenfreada e consentida de áreas de risco transformou a outrora bela Vila do Morro Queimado, num imenso favelão, que começa no Cordoeira e se estende até Conselheiro Paulino.

Catástrofes dessa natureza levam à decretação de calamidade pública, com a consequente liberação de verbas sem controle rígido, exatamente por se tratar de uma emergência. Mas será que uma fiscalização mais rígida, seja na liberação para construir seja na interdição daquelas ditas irregulares, não seria uma medida preventiva muito mais eficaz?

Não resta a menor dúvida que a facilitação de edificações em locais perigosos, nas encostas ou nas regiões ribeirinhas, no Brasil, sempre teve a benevolência de nossos políticos, com fins eleitoreiros, pois são inúmeros os candidatos cujo curral eleitoral está situado nessas comunidades carentes. Como exemplo pode-se citar a história da ocupação do morro atrás o cemitério de São João batista, no Rio de Janeiro, a favela dos Tabajaras. De 1988 até 2009 a comunidade triplicou e por ser considerada área de risco, vai ser removida, agora, com um custo muito maior.

Será que estamos vendo surgir no país outra indústria, não mais a das secas, mas sim a das catástrofes naturais evitáveis?

Por Max Wolosker

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