A grande oportunidade de arrancar do cotidiano situações de extremo brilhantismo por meio do absurdo é característica comum a boa parte dos textos de Dias Gomes, que carrega na bagagem a autoria de, entre outras, peças como O Santo Inquérito, O Pagador de Promessas e novelas, das quais se destacam as clássicas Roque Santeiro e O Bem Amado. É exatamente contando com este esplendor, a revelação do fantástico dentro do comum que se encontra em O Túnel, texto inédito de Dias Gomes, que estreou nacionalmente em novembro passado durante a Festa Internacional de Teatro de Angra (Fita), e que será encenada no Teatro Sania Cosmelli, do Colégio Nossa Senhora das Dores (CNSD), nos próximos dias 16 e 17.
Sem registros de encenações anteriores apesar de disponível entre a vasta obra do autor, a ideia de montar O Túnel veio quando o diretor Gustavo Paso foi ministrar uma aula sobre artes dramáticas para uma turma de engenheiros, que inesperadamente, tomaram gosto pelo texto. “Eu precisava levar um texto pequeno, rápido, para podermos discutir sobre teatro, para eles entenderem o que é um texto de teatro”, diz Gustavo, explicando que após essa experiência, levou o texto a outros profissionais do meio teatral.
Um túnel com rumos inesperados
Até o texto ser levado ao palco, foi necessário uma série de experimentações com diferentes possibilidades narrativas, com resultados que se mostraram satisfatórios para enfim ser montado pela companhia de Gustavo Paso, a Cia. Teatro Epigenia. Com pouco mais de uma hora de duração, o espetáculo gira em torno de um grupo de pessoas presas durante um engarrafamento num túnel de ligação das zonas norte e sul, sendo obrigadas a conviver durante algumas na confusão do trânsito.
Estrelado por Pedro Pires, Vinícius Cattani, Rafael D’Avila, Maria Clara Wermelinger, Rodolfo Brandão e o próprio Gustavo Paso, em sua estréia, O Túnel foi muito aplaudido e arrancou risos nervosos da plateia diante da tensão claustrofóbica criada pelos personagens preso a um engarrafamento dentro de um túnel, que revelará detalhes surpreendentes deles, enquanto impotentes ante a própria tragédia.
Gustavo Paso, que em 2007 emplacou um dos maiores sucessos teatrais do ano com uma homenagem a Ariano Suassuna com o espetáculo Ariano, eleito pela revista Bravo! como uma das melhores do ano, não mede palavras ao traçar um elogio ao texto de Dias Gomes que “nos coloca, em O Túnel, diante da imagem-síntese do enclausuramento com um grande humor absurdo. O fato dos personagens estarem sitiados num túnel engarrafado, coloca em discussão a dignidade, integridade e plenitude da pessoa humana. A realização do homem, como tal, está na proporção direta de sua liberdade, de seu poder de traçar e decidir seu destino. O enclausuramento é a antítese desse valor supremo: uma tentativa de reduzir o homem à condição sub-humana”.
O Túnel encerra as atividades culturais do CNSD deste ano, com uma produção invejável que conta com a iluminação de Paulo David Gusmão, design de som de Rossini Maltoni, cenários, figurinos e adereços de Gustavo Paso e Maria Clara Wermelinger e produção de Luciana Favero. O espetáculo acontece nos dias 16 e 17, às 20h. Os ingressos podem ser comprados na portaria da escola a R$ 10 e R$ 20. 14 ANOS
Deixe o seu comentário