Dia da Consciência Negra: muitas atividades marcam a data de Zumbi

quarta-feira, 25 de novembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Dia da Consciência Negra: muitas atividades marcam a data de Zumbi
Dia da Consciência Negra: muitas atividades marcam a data de Zumbi

A tradicional cerimônia de hasteamento de bandeiras marcou o Dia da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares na manhã de sexta-feira, 20, na Praça das Colônias, no Suspiro. O prefeito Heródoto Bento de Mello, demais autoridades, representantes das demais colônias radicadas no município e convidados participaram da solenidade. Após o hasteamento das bandeiras foi plantado em frente ao espaço da colônia pan-africana um pé de camélia, árvore símbolo dos abolicionistas.

As comemorações se estenderam por uma semana, terminando domingo, 22, com música, bate-papo, esporte, recreação, dança, exposição de fotos e participação do Centro Cultural Afro-Brasileiro Ysun-Okê na Câmara Municipal; filmes e documentários, lançamento de livro, poesia e coral, além do restaurante da Praça das Colônias com comidas típicas.

O ponto alto foi a cerimônia de hasteamento de bandeiras na manhã de sábado, 20, com a execução dos hinos do Congresso Pan-Africano, de Nova Friburgo e do Brasil. O prefeito Heródoto hasteou a bandeira do Brasil e a integrante do Ysun Okê, Marinéia Costa, a Pan-Africana. E uma novidade: pela primeira vez a bandeira da França foi hasteada numa dessas solenidades, cabendo a honraria ao diretor do Sanatório Naval, capitão-de-fragata médico, Nestor Miranda Júnior. A cerimônia marcou os 314 anos da morte do líder Zumbi, do Quilombo dos Palmares, e integração dos negros à força dos imigrantes na construção de Nova Friburgo.

 

Ensino afro

nas escolas

Primeiro a discursar na solenidade, o professor e integrante da colônia pan-africana, José Tadeu Costa, falou do Centro Cultural Afro-Brasileiro Ysun Okê, que já tem 28 anos, lembrando de Nélio dos Santos, um dos fundadores, e do saudoso Ronaldo Bandeira. E representando os atuais integrantes, falou de Rui Tomas, um antigo militante.

Tadeu também se referiu à Lei número 10.639, de setembro de 2003, que implantou o ensino afro nas escolas, “que precisa se tornar uma realidade, com professores especializados”. De acordo com Tadeu, a Fundação Palmares e o Ministério da Educação montaram conteúdo para fazer essa lei funcionar. E dirigindo-se à secretária municipal de Educação, Ledir Porto, presente à cerimônia, pediu seu empenho para que essa lei passe a vigorar nas escolas municipais.

O prefeito Heródoto disse que devemos respeitar todos os povos e chamou a atenção para as solenidades em homenagem às colônias realizadas em Nova Friburgo. Frisou também que os negros já estavam na região quando os suíços chegaram, tendo eles levantado a cidade. E garantiu que em Nova Friburgo não há discriminação e os friburguenses estão abertos a todos as pessoas.

O prefeito finalizou lembrando ter sido ele que introduziu a bandeia Pan-Africana nas panóplias da cidade, o que acontece até hoje, sem que haja em mais nenhuma cidade brasileira.

Cufa agitou a galera e marcou a data de Zumbi dos Palmares

Outra participação nas comemorações da Semana da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares foi da Central Única das Favelas (Cufa). Na sexta-feira, 20, no anfiteatro da Praça das Colônias, as atividades constaram de capoeira, com alunos da própria Cufa; desfile Arte e Beleza, com inspiração na arte dos amarrados africanos; desfile com os alunos de hip-hop e do Impacto Urbano Soul Company, MCs Feijão e Felipe, que improvisaram a rima; o dançarino Leandro, com algumas demonstrações de popping, e novamente o Impacto Urbano Soul Company, que encerrou as atividades com o espetáculo Ela dança, eu danço 2. As atividades incluíram ainda a construção de um painel de grafite com Humberto Bulhões.

Irmanação de Nova Friburgo e Kuito ganha força

(Secom) - Além dos tradicionais acontecimentos relacionados à comemoração da Semana Nacional da Consciência Negra, Nova Friburgo marcou ainda a passagem de data tão especial com a oficialização da irmanação com Kuito, a capital da província de Bié, em Angola, país africano e berço de um dos povos fundadores do município.

A Lei Municipal 3.801 foi publicada no último sábado, 21. Oficializa e produz efeitos legais para as irmanações entre Nova Friburgo e Kuito, a província angolana de Bié. Em seu artigo segundo, a lei sancionada pelo prefeito Heródoto Bento de Mello, autoriza os órgãos municipais, em suas respectivas atribuições e competências, a celebrar acordos, tratados, convênios, parcerias e intercâmbios de modo a proporcionar, nas mais diversas áreas, uma maior integração entre ambas as cidades.

Iniciada a partir do gesto do diretor da Biblioteca Pública Municipal de Nova Friburgo, escritor infanto-juvenil Álvaro Ottoni, com a doação de livros em duplicata para a capital daquela província, arrasada pela guerra que dominou aquele país por vários anos, a proposta de irmanação ganhou consistência com a visita da governadora Candida Celeste ao município, em junho último.

A história da camélia

Após os discursos, a presidente da colônia pan-aricana, Ilma Santos, convidou os presentes a participar do plantio da camélia, flor que se tornou símbolo de apoio aos negros. Todo abolicionista tinha um pé de camélia na frente de casa e ali os negros sabiam que eram bem recebidos.

A atriz e integrante da colônia pan-africana Raquel Nader, apresentou um texto antes do plantio. A camélia era um flor delicada, especial, usada na lapela pelos abolicionistas durante a campanha pelo fim da escravatura, em 1888. Simbolizou a liberdade e marcou a proposta de setores da sociedade que defendiam a especialização do trabalhador livre e a criação de novas relações de produção. Durante a campanha abolicionista, nos tempos ásperos, nada podia se comparar à força simbólica das Camélias do Leblon, também conhecida como Camélias da Liberdade. Exatamente como a liberdade que se pretendia conquistar, a camélia não era uma flor dessas comuns. Era uma flor em processo de adaptação, servia inclusive como uma espécie de senha por meio da qual os abolicionistas podiam ser identificados.

É por isso que o Centro Cultual Afro-Brasileiro Ysun-Okê defende e luta não só pela igualdade, mas sim pela equidade para negros, afrodescendentes e comunidade historicamente discriminadas, que tem como objetivo reconhecer a importância das ações desenvolvidas em benefício da população afro-brasileira (seja no âmbito da cultura, educação e mercado de trabalho, dentre outros). É importante atrair mais brasileiros para discutir as questões étnico-raciais.

As ações afirmativas não podem ser confundidas apenas com a criação de cotas para negros nas universidades, tema que vem sendo discutido com frequência e que, pela falta de informação técnica, tem criado desnecessária repulsa e exercitado a intransigência de alguns. Ações afirmativas podem e devem ser definidas como políticas públicas e privadas criadas para combater a discriminação – seja racial, de gênero ou de origem – ou para corrigir efeitos de uma discriminação ocorrida no passado.

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