Não é difícil encontrar, pelas ruas de Nova Friburgo, o motociclista Ronald da Silva. Aos 70 anos, ele circula com tranquilidade em sua Honda Shadon, que chama a atenção – é o único modelo na cidade. Mas o que poucos sabem é que, por trás daquele jeito meio excêntrico, único, existe uma história de vida marcada pela presença em família, pela seriedade ao volante e sobre duas rodas e, acima de tudo, o respeito à vida, ao ser humano e a determinação em seguir em frente, em busca da felicidade.
O reconhecimento pela seriedade no trânsito chegou recentemente. É com orgulho que Ronald, sócio-fundador do Carioca Motoclube e integrante ativo do Gaviões do Asfalto exibe o Certificado de Reconhecimento de Condutor Exemplar, concedido ao Detran aos motoristas com mais de 60 anos de idade e que nunca receberam multa por infrações de trânsito. Amante de aventuras, praticante de equitação, esqui e outros esportes não convencionais, Ronald dirige desde os 18 anos e nunca se envolveu em qualquer tipo de acidente.
Agressividade no trânsito
Experiente sobre duas ou quatro rodas, Ronald atesta que a falta de respeito no trânsito está nas ruas e atinge condutores de todas as idades. Não há um padrão, segundo ele, e a agressividade no trânsito só faz aumentar. Ele alerta que as pessoas não podem confundir a potência de um carro com velocidade. A primeira, segundo ele, protege o motorista; a segunda, pode matá-lo.
Mas as perdas entre os jovens o deixam mais preocupado: “Eles trocam uma vida inteira por dez minutos de imprudência. Têm uma vontade de chegar primeiro, sem qualquer razão de ser. É preciso valorizar mais a direção defensiva, aumentar a fiscalização. Mas o que vai resolver mesmo é uma mudança geral no comportamento das pessoas, em todas as áreas”.
A receita, para o motociclista do Gaviões do Asfalto, está na fraternidade. Segundo ele, a mudança deve começar ainda com as crianças, na forma como são educadas, na atenção que merecem receber. “Hoje, só querem saber de filmes violentos. Ninguém se importa mais com o romance, com a aventura... está errado”, aponta. Avô de dois rapazes, de 12 e 16 anos, que moram no Rio, Ronald está sempre viajando, com pé na estrada, em encontros frequentes com os garotos. E sempre que pode, procura transmitir aos netos o que a vida lhe ensinou.
“Coisas simples são grandes”
Mas o exemplo para todos os motoristas, em especial, os jovens, vai muito além do respeito às regras de trânsito e à prudência. Este carioca que adotou Nova Friburgo como domicílio tem muito mais a ensinar. Sua história de vida é, de fato, um exemplo de como aproveitar a vida, sem excesso, mas valorizando as pequenas coisas, as mais simples. “Infelizmente, as pessoas não vivem a vida, não percebem que as coisas mais simples é que são grandes, na verdade”, filosofa.
Os olhos se enchem de lágrimas ao contar, com profundo carinho, que a sua garupa foi a primeira – e única – montada pela mulher, Nilzete, que lhe deu duas filhas, Monica e Simone. Décadas de convivência feliz, marcadas pela aventura e por passeios frequentes, foram interrompidas há cerca de dez anos. Hoje, o viúvo Ronald da Silva não consegue conter a emoção ao falar sobre aquele que foi seu maior alicerce: o sólido casamento. O jeito sério, de quem quase nunca sorri, se desmonta. E o que se revela é muito mais do que um profundo sentimento pela família: o respeito à vida, o amor ao próximo, ao ser humano.
A perda não o fez parar. Segue em frente, viajando, participando de festas, conhecendo novos lugares, dedicando-se à família, vivendo com alegria e prudência, ao mesmo tempo em que se revigora em novas descobertas. Um exemplo de que a vida pode ser uma grande aventura, a cada dia, sem excessos, sem desrespeito, sem mortes.
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