“Reduzir jornada de trabalho não significa aumentar empregos”

sábado, 05 de setembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Empresários de todo o país foram a Brasília no último dia 25 para acompanhar a discussão da PEC 231/95, que diminui a jornada de 44 horas para 40 horas semanais e eleva o valor da hora extra de 50% para 75% sobre a hora trabalhada. No total foram mobilizados 250 empresários do estado do Rio e 33 empresários da Representação Regional da Firjan no Centro-Norte fluminense acompanharam os debates no plenário da Câmara dos Deputados.

O diretor da Hak Passamanaria e presidente da Firjan Regional, Carlos José Iecker, fala sobre este e outros temas de interesse não apenas do empresariado, mas de toda a população.

A VOZ DA SERRA – Na semana passada os empresários foram a Brasília para marcar posição contra a redução da jornada de trabalho. Como o senhor vê a questão?

Carlos José Carlos Iecker -  Existem hoje certos negócios em que cabe redução de jornada. Para isso deve haver uma negociação, via sindicato. Mas, para empresas que dependem de muita mão de obra, como, por exemplo, a indústria têxtil e de construção civil, isso vem acarretar um custo muito grande. Considero muito importante a união dos empresários neste momento e também compartilho da opinião de que a imposição legal da redução da jornada de trabalho vai acabar por aumentar o custo de produção de muitos produtos e, na ponta, o custo de vida para o trabalhador. É uma medida que afeta a capacidade de empregar, afeta a competitividade das empresas, principalmente das pequenas. Temos que ressaltar que redução de jornada não é igual a aumento de emprego, já que, por aumentar o custo de operação, a medida incentiva a compra de máquinas e a redução do número de postos de trabalho. As pessoas estão fazendo um cálculo muito simplório, achando que reduzindo de 44 para 48 horas haveria uma redução de 10%. O custo da mão de obra no produto final gira em torno de 22%, mas vai haver uma redução de 10% no faturamento, porque, com o tempo produtivo reduzido, serão 10% de produtos que deixarão de ser feitos. Fazer novas contratações e compensar essa perda de produtividade gera custo para a empresa desses setores que mencionei, podendo ser inviável. Para setores de tecnologia mais avançada, isso pode não onerar e talvez até já estejam praticando essa redução. É preciso lembrar que a legislação brasileira já permite a redução de jornada via negociação coletiva. Se aprovar a medida como está, o Brasil vai entrar na contramão do mundo.

A VOZ DA SERRA - Que impacto sofrerá a pequena empresa?

Carlos José Iecker - As micro e pequenas empresas têm um fator de tecnologia muito menor, porque estão começando. Enfrentam dificuldades, o investimento é menor, então, elas precisam mais de mão de obra. Diferente da grande empresa, que pode investir em tecnologia mais facilmente. Como se vai buscar aumento de mão de obra, quando se discute a abertura de mercado, como vamos competir com o mundo? O Brasil compete diretamente com China e Índia, o país estaria retroagindo frente aos seus grandes concorrentes. Acho que o chinês e o indiano vão ficar rindo e batendo palmas para que isso aconteça aqui no Brasil. Estamos cada vez mais abrindo as portas de entrada para os produtos estrangeiros. Pensando localmente, o potencial que Nova Friburgo tem de ser o maior polo de moda íntima do país pode ser afetado. Estamos correndo o risco de que esse nicho de mercado venha a se retrair, porque virão produtos de fora, que vão desestabilizar a economia dessas pequenas indústrias, intensivas em mão de obra. Nós não vamos conseguir contratar. Nossos custos vão aumentar e quem sobreviver vai ser obrigado a buscar maneiras de ser mais produtivo para compensar as perdas. Vai haver uma estagnação. É o famoso tiro no pé.

A VOZ DA SERRA – A Firjan divulgou índices de Desenvolvimento Municipal (IFDM) para o ano de 2006 que demonstram que a região tem indicadores de emprego e renda muito baixos em comparação com outros municípios do próprio estado do Rio. Em sua opinião, onde está o problema?

Carlos José Iecker - O estado do Rio de Janeiro vive um grande momento, basicamente no litoral. Em função do pré-sal, todos os investimentos estão sendo feitos no litoral do estado. O interior está cada vez mais pobre. Se o Rio de Janeiro conseguisse, através dos seus indicadores, separar o que o petróleo representa para o estado e o que os demais negócios representam para o estado, a gente enxergaria melhor a realidade e veria que, fora a região do petróleo, o estado está empobrecido. No interior do estado percebe-se claramente indicadores negativos no IFDM, por essa falta de investimento. Na nossa região, comparando o IFDM de 2005 com 2006, vemos que Nova Friburgo (9º para 12º), Duas Barras (57º para 60º) e Santa Maria Madalena (66º para 83º) pioraram. Teresópolis se manteve na mesma posição, 18º, e as demais cidades com base na nossa representação melhoraram, como é o caso de Cordeiro (43º para 25º) e Cachoeiras de Macacu (83º para 65º), entre outros. Os problemas são muitos, mas começo pela falta de visão do governo do estado sobre o desenvolvimento do interior. Há décadas que o estado não faz grandes investimentos e os municípios, por sua vez, estão empobrecendo. Vejo também que falta visão dos governos municipais para criar um ambiente favorável à implantação de novas indústrias. Estou falando de médias e grandes empresas que trazem emprego e renda para o município. Precisamos ter estradas, local para instalação, mão de obra qualificada, segurança etc. Sem estes requisitos, quem virá investir aqui? Precisamos nos juntar para discutir ações concretas e criar um ambiente favorável e inverter este quadro. Na hora em que os 13 municípios se juntam e fazem um levantamento de reivindicações para o desenvolvimento da região, fica muito mais fácil ter representatividade junto ao governo. Mas acho que cada município tem que receber parte do investimento, não adianta concentrar e centralizar tudo em Friburgo. Precisamos levar desenvolvimento também para as demais regiões, para que haja equilíbrio.

A VOZ DA SERRA – O senhor vê alguma saída para alavancar a economia da região? A Firjan tem feito alguma coisa neste sentido?

Carlos José Iecker – Volto a repetir: só vejo como saída unir esforços para trilharmos novamente um desenvolvimento sustentável para nossa região. Para isso precisamos abdicar de nossos interesses pessoais, parar de olhar para o próprio umbigo e levantar a cabeça para poder vislumbrar um novo horizonte. Na Firjan temos trabalhado no intuito de colaborar com o desenvolvimento da nossa região e buscar soluções concretas para invertermos esta curva descendente. Estamos fazendo ações nesse sentido em diálogo com outras instituições representativas da nossa região. O Conselho de Desenvolvimento Regional, com a participação dos 13 municípios; o apoio às indústrias de plásticos implantadas em Bom Jardim; a criação da Comissão da Representação em Teresópolis; a oferta de mais de 2.300 vagas gratuitas pelo Sistema Sesi e Senai para nossa região e o apoio à criação dos condomínios industriais nos municípios do interior, com a interlocução com a Codin e InvestRio, são algumas ações que podem ser citadas.

A VOZ DA SERRA – O que aconteceu com o Fórum de Gestão Pública Municipal? Não será mais realizado?

Carlos José Iecker – A iniciativa de realizar o fórum é uma feliz ideia que surgiu no Rotary Nova Friburgo e que a Firjan abraçou. Ele não está suspenso, apenas foi adiado. A modernização e eficiência na gestão pública são temas que estão crescendo e interessando aos gestores públicos de maior visão, independente do tamanho do município ou estado. Temos pessoas muito interessantes que querem vir a Nova Friburgo discutir a eficiência na gestão pública, apresentar casos de administração bem sucedida, casos que aliam redução de impostos com aumento da qualidade de vida. Apesar do nome comprido, o evento tratará de um assunto que diz respeito diretamente a cada cidadão. Nosso objetivo é abrir os olhos de alguns gestores do interior do estado para esse caminho de eficiência técnica, espelhado na administração empresarial. Mostrar que há muitos exemplos a seguir; exemplos, inclusive, que rendem votos! Uma nova data está sendo marcada, será, possivelmente, em outubro.

A VOZ DA SERRA – Como o senhor avalia a economia de Nova Friburgo neste momento?

Carlos José Iecker - Como empresário sempre sou uma pessoa otimista, mas realista. Não podemos esquecer que vivemos uma crise internacional e que o Brasil, como também Nova Friburgo, está apenas saindo dela. De uma maneira geral, Nova Friburgo não está num bom momento: está mais feia, o trânsito está caótico, a saúde é complicada, começamos a ter problemas de segurança. A cidade já teve um grande polo de indústrias de médio e de grande porte, que geravam tributos e renda suficientes para o seu desenvolvimento, sem ter a necessidade de pedir verbas para o governo do estado. Hoje, inchada e sem arrecadação, a cidade empobreceu, as grandes indústrias foram embora ou diminuíram. Surgiram as micro e pequenas indústrias nos setores de moda íntima e metal-mecânico. Municípios dependem da pequena empresa, mas ela não gera impostos para o município, gera empregabilidade. A recente Lei das Micro e Pequenas Empresas não contempla o município com impostos e ficamos na dependência dos repasses do estado e do governo federal. Sem o dinheiro do PAC hoje o município não teria nenhuma obra de infraestrutura. Precisamos juntar todas as entidades e a população, traçar um plano diretor para colocar Nova Friburgo novamente no caminho do desenvolvimento. Não podemos esquecer que, para o bom desenvolvimento de Nova Friburgo, temos que pensar também no desenvolvimento das cidades do entorno. Acredito nas pessoas e a solução está na boa vontade de todos nós.

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