A leitura da Paz

terça-feira, 04 de agosto de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Álvaro Ottoni de Menezes

“Se hoje temos uma desordem urbana é porque há uma desordem moral e assim toda a sociedade acaba contaminada. Devemos sair daqui pensando no que cada um de nós tem que fazer para resolver este problema, não apenas a polícia, mas cada cidadão” ( palavras do prefeito Heródoto Bento de Mello por ocasião da Conferência Municipal de Segurança Pública)

Devemos todos seguir essa lúcida orientação do prefeito e refletir sobre essa questão. “Nós temos que nos educar, porque sem educação, não há como resolver o problema da violência”, acrescentou o emérito professor Alexandre Gasé. E de fato esse é o caminho, tudo passa pela educação.

Obviamente a bem-vinda conferência terá efeitos posteriores como o da captação de recursos federais para projetos que possam contribuir para a efetiva segurança no município. E como lembrou o comandante da Força- Tarefa de Ordem Urbana, coronel Hudson de Aguiar Miranda, além de apresentar o I Plano Municipal de Prevenção da Violência e da Paz em Nova Friburgo, “nossa visão tem que ser sistêmica, temos que atuar em parceria com todas as demais secretarias”.

Refletindo sobre o problema veio-me à cabeça o exemplo vitorioso no combate à violência e em curtíssimo prazo que nos foi dado pela Colômbia. Há pouco tempo sua imagem era de violência e narcotráfico. Quem não se lembra do Cartel de Medellin?

Pulverizou-se como um passe de mágica? Ruiu como o muro de Berlim? Não, além das medidas saneadoras e inteligentes com relação à segurança, convocou-se a população à reflexão. Ressaltou-se a responsabilidade de cada cidadão. E investiu-se pesado em leitura. Tendo como ícone o escritor colombiano Gabriel Garcia Marques, Prêmio Nobel de Literatura, multiplicaram-se ações de leitura pelo país. Ofereceu-se dessa forma a todos os cidadãos desde a mais tenra idade a oportunidade de letramento que a leitura nos confere. O que é letramento? Simples. Se leio livros leio melhor a mim mesmo, leio melhor o outro, o meu entorno, a comunidade, o país, o mundo, a vida. A leitura desperta a consciência crítica, amplia horizontes, levanta a autoestima, oferece novos rumos e opções de vida, descubro através dela ainda que minhas ações têm consequência direta no outro, a leitura humaniza e confere às pessoas a necessária cidadania.

O bairro de São Domingos Sávio, um dos mais violentos de Medellín, e do mundo, alterou completamente sua fisionomia com a inauguração da Biblioteca Parque de Espanha. Hoje os moradores têm sido incluídos em livros, filmes, peças teatrais, sessões de contações de histórias e outras atividades. A biblioteca oferece salas com computadores, de exposições, auditório com oficinas de expressão e linguagem e tudo o mais que seja capaz de envolver e sensibilizar crianças, jovens e adultos. E como uma boa epidemia, em progressão geométrica, arrojados conceitos de biblioteca brotaram pelos quatro cantos do país. Espaços públicos para as pessoas se encontrarem não apenas para ler. Em Luiz Rangel Araújo, por exemplo encontra-se hoje a biblioteca mais frequentada da América Latina, com 2,7 milhões de visitantes ano, ou seja 9 mil pessoas por dia.

Eu me estenderia muito se fosse citar aqui os tantos exemplos das atividades de leitura desenvolvidas hoje pela Colômbia afora. O fato é que , entre investimentos, disponibilização de recursos, campanhas, aquele país firmou o compromisso de formar leitores em massa. Encontramos nas áreas mais carentes ações de disseminação da leitura visando à inclusão social com programas criativos – recreativos e culturais – que culminaram no combate ao ócio, à mediocridade vigente, resgataram jovens do tráfico, e impediram que crianças aderissem ao dito “caminho fácil”. Hoje bibliotecas concorrem com os shopping centers oferecendo mais do que livros: filmes, teatro, contação de história, programas de leitura, educativos, recreativos e culturais planejados para a promoção de encontros de cidadania.

Em Nova Friburgo, a nossa Biblioteca Municipal está sendo repensada e transformada paulatinamente em Biblioteca Viva, filosofia esta já implantada. Oferecemos oficinas, seminários, palestras, círculo de leitura para a terceira idade, encontro semanal do grupo de estudos filosóficos, rodas de leitura, leitura de textos teatrais e capacitação de professores.

Aos sábados apresentamos o projeto Quem Quiser Que Conte Outra, na sala infantil, batizada Sala do Carlito, em homenagem ao nosso saudoso Marchon, com contação de histórias e trabalhos de arte. E vamos em frente. Porém, com as referidas ações, fora os benefícios diretos à população, aumentamos em 120% a frequência à biblioteca. Além disso investimos na capacitação de professores e estamos encantando as crianças das escolas públicas com as atividades oferecidas pela biblioteca móvel.

Com a criação da Secretaria Municipal de Leitura – a primeira do país – iremos atuar diretamente em todas as comunidades, nos bairros e distritos, descentralizando as ações leitoras, criando espaços de leitura, expressão artística, reflexão e debate. Formando agentes jovens de leitura que haverão de ser em brevíssimo tempo multiplicadores por toda a nossa Nova Friburgo.

Tem toda a razão o coronel Hudson ao ressaltar a importância de uma ação sistêmica envolvendo todas as secretarias municipais . Comprometo-me, minha equipe e eu, a nos empenharmos ao máximo no sentido de tocar a alma das pessoas para essa questão porque como bem disse o prefeito Heródoto cabe a cada um de nós refletir sobre o que podemos fazer no enfrentamento dessa questão, conscientes de que o caminho para a paz passa, necessariamente pela educação.

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