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João Batista da Silva – vida e história
No último dia 19 foi celebrado o centenário de nascimento de João Batista da Silva. Ele tem o nome do padroeiro da cidade, São João Batista, dado por D.João VI que tinha igualmente o nome do santo. Caçula de sete irmãos, João Batista da Silva nasceu no ano de 1919, em Nova Friburgo. Era neto de uma escrava, Esperança de Jesus, e sua mãe Eugênia Maria de Oliveira foi lavadeira, uma profissão muito comum entre as mulheres que precisavam complementar a renda familiar.
Um dos pontos de concentração das lavadeiras era no chafariz na praça do bairro Vilage, onde residia a família Silva. João Batista teve a sua formação básica em escolas públicas. No secundário, quando estudou em um estabelecimento privado teve a ajuda do padre José Antônio Teixeira. Para esse clérigo, João Batista parecia destinado a seguir a vida religiosa e o preparava para o seminário. No entanto, não foi essa a sua escolha e casou-se com Adília Gomes, filha de um casal de portugueses produtores de cravo.
João trabalhou inicialmente no comércio em vários estabelecimentos na cidade. Como era um excelente artilheiro no futebol, tendo participado de times profissionais, foi admitido na fábrica de rendas Arp. Era muito comum as indústrias empregarem jogadores de futebol a pedido dos próprios clubes ou mesmo cooptarem esses atletas, já que na ocasião havia os jogos dos industriários e os esportistas talentosos eram muito bem vindos aos times da fábrica.
Começou a jogar futebol no bairro Vilage ainda bem garoto e foi artilheiro do Serrano Esporte Clube, Imparcial e Botafogo Futebol Clube de Nova Friburgo. Foi na fábrica Arp que estabeleceu proximidade com o médico da empresa, dr. Feliciano Costa, candidato a prefeito. Como era chefe do Departamento de Pessoal e presidente do Recreio dos Empregados da Rendas Arp, já assinalava uma liderança e por isso foi convidado por Feliciano Costa a ingressar na política.
No ano de 1952, disputou a sua primeira eleição para vereador. Porém, nos parece que um homicídio ocorrido dentro da fábrica prejudicou a sua candidatura. Esse homicídio teve grande impacto em Nova Friburgo, pois um operário demitido matou um executivo do alto escalão da fábrica. João Batista parece ter ficado em uma posição muito delicada já que trabalhava no Departamento de Pessoal.
No entanto, em 1958 elegeu-se vereador pelo Partido Trabalhista Nacional e foi reeleito em mais dois mandatos como vereador. O segundo em 1962, reeleito pelo Partido Social Democrático e em 1966, pelo Movimento Democrático Brasileiro, recebendo a maior votação dada a um vereador. Concorreu à Assembleia Legislativa, mas não conseguiu votos suficientes.
Vale destacar que João Batista sempre foi um excelente orador e por isso se esforçou para conseguir diplomar-se em advogado. Foi o orador oficial da Comissão de Homenagens aos Expedicionários de Nova Friburgo nas inaugurações da Rua Antônio Durval de Moraes, pracinha falecido na Segunda Guerra Mundial, e do obelisco nas instalações do Tiro de Guerra.
Durante os 12 anos que permaneceu na Câmara Municipal foi um político muito atuante e uma de suas atividades me chamou a atenção. Foi secretário da Comissão de Repulsa à proposta de mudança do nome de Nova Friburgo para Amaral Peixoto. Ernani do Amaral Peixoto (1905 -1989) era casado com Alzira Vargas, filha do presidente Getúlio Vargas. Não fosse a sua intervenção diante de tal aberração estaríamos hoje dizendo que somos amaralenses ao invés de friburguenses.
João trabalhou também no escritório da fábrica no período de 1941 a 1970, quando se aposentou. Porém, o seu trabalho na fábrica não o impediu de participar de inúmeras atividades comunitárias no município e vamos enumerar apenas algumas delas, pois a lista é imensa. Sua capacidade de contemporizar era de tal ordem que conseguiu o grande feito de ser ao mesmo tempo secretário do Conselho Deliberativo da Sociedade Musical Euterpe Friburguense e presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Musical Campesina Friburguense.
Essa façanha tem que entrar para os anais da história de Nova Friburgo. Exercer as funções de secretário e de presidente concomitantemente, quando há uma rivalidade histórica entre as duas bandas, mostra a sua engenhosidade. João Batista era conhecido como JB, produzindo e apresentando dois programas de rádio “Ondas Verdejantes” e “Esperança no Ar”.
Escreveu a coluna “Retalhos” em A VOZ DA SERRA durante muitos anos. Falecido em 2 de agosto de 1988, deixou os filhos Lúcio Flavo, Renato Henrique, Maria Inês e José Antônio Gomes da Silva, todos com curso superior, que sempre foi a sua meta. O médico Renato Henrique prepara a biografia de seu pai e com esse livro conheceremos não só a vida e obra de João Batista da Silva, mas igualmente um período da história social e política de Nova Friburgo.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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