Estão em cartaz até setembro, na Galeria KM7, duas exposições inéditas: uma delas é a primeira residência artística "Ctrl+Esc > Controle e Escape”, uma montagem da artista plástica peruana Fiorella Lavado, na Casa do Chico - espaço anexo à galeria - com borracha de câmara de ar de bicicletas. Estabelecida há anos na Inglaterra, a artista trouxe de Londres três malas de câmaras de ar com o código QR (para o público assistir vídeos em tempo real, através de aplicativo de celular). Curadoria da artista Nani Cárdenas.
Fiorella explica que usa a ciência como fonte de inspiração para seu trabalho, especialmente a física teórica e a filosofia. “Meu trabalho começa com desenhos e eu uso métodos tradicionais de bordado, costura a mão e tricô que eu aprendi com a minha avó. Estou interessada em ideias de viagem no tempo e como isto se relaciona com sonhos”, explicou.
Quando morou na Alemanha, Fiorella trabalhou com xilogravura e percebeu que o que mais gostava de fazer era entalhar madeira. “Eu gosto de costurar e tricotar porque o processo é visível, cada ponto, cada volta, o passado e o presente estão no trabalho final, enquanto na gravura o passado fica para trás quando é descartado. Em meu trabalho com cientistas, escolhi fazer ilustrações no computador. Eu achei o processo útil porque propicia um diálogo onde cientistas me dão algumas ideias e eu posso manipular digital e diretamente o desenho, dando-lhe sentido. O final do produto é uma representação dessa conversa. Eu tenho também feito esculturas tecidas, tramando arames com as mãos. O processo é muito orgânico e deixa espaço e tempo para pensamentos, além de conversas”.
Ela revela que seu trabalho contém informações do meio ambiente e do que vivencia atualmente. Cria as histórias e as conecta com os materiais que percorrem caminhos, como o aço inoxidável, o arame, a borracha de bicicleta, tubos internos, sobras de madeira, peças de computador etc.
“Eu uso a maioria dos materiais reciclados e guardo diários e cadernos de anotações documentando o processo. Uma parte importante do meu trabalho é a minha história pessoal. Eu venho de uma grande família peruana. Meu pai era marinheiro e passava verões entre portos e navios cargueiros. Eu me perdia brincando no porão do navio, no motor, nos arcos do navio ou na cabine do comandante, entre mapas e radares. Minha avó vivia conosco e eu costumava sentar por horas com ela, costurando. Ela sempre salientava que para o bordado parecer limpo, tinha que ser bem feito em ambos os lados”, ressaltou.
Sobre Controle + Escape
por Fiorella Lavado
“A instalação que estou desenvolvendo para a Casa do Chico/KM7 tem relação com meu trabalho como desenhista de sites, área em que atuo como web designer desde 1999. Estimula a minha criatividade e me rende um dinheiro extra. Me intrigam os códigos, como os números e letras podem se tornar imagens e cores. O que eu acho mais fascinante é a ideia de camadas, resultado de uma informação organizada em camadas que você pode sobrepor. Dois objetos existentes em camadas diferentes podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Estou usando tecnologia para ajudar a dar vida ao processo. Na exposição, o público é encorajado a baixar um programa de aplicativo grátis (Artivive), que o habilita a assistir vídeos por meio de celulares que são acionados por três gráficos no espaço da Galeria.
‘Controle e Escape (Ctrl+Esc)’ é um jogo de palavras. Eu penso que o que relaciona estas duas palavras é um balanço delicado para nos deixar sãos. Eu estou construindo uma história que pode caminhar entre diferentes pontos, inspirados no ‘realismo mágico’, o que inspira o espectador a criar o seu próprio sentido para isto”.
“Residência”, de Gabriela Gusmão
A outra exposição é de Gabriela Gusmão que também está estreando na Galeria KM7, com a exposição “Residência”, de desenhos, gravuras, esculturas e vídeo, realizados ou idealizados durante o período em que participou de residências artísticas em centros culturais de diferentes países entre 2011 e 2017.
Radicada em Nova Friburgo desde 2011, Gabriela tem produzido as obras que agora expõe para apreciação do público. Ela desenvolveu esse trabalho nas fases imersivas de suas residências artísticas na Itália (Veneza e Bellagio); Chipre (Lempha e Larnaca); Alemanha (Berlim); e EUA (Nova York). A artista conta que, com períodos que variaram entre duas e cinco semanas, esses processos resultaram em exposições individuais e coletivas. As residências em Berlim e Nova York foram parte de um mestrado regido pela Universidade de Plymouth (Inglaterra).
Há três anos, ela presenteou Friburgo com a escultura Nova Chama, construída em aço, contemplada com o Prêmio Arte Monumento Brasil 2016, da Fundação Nacional de Artes (Funarte). A escultura, inaugurada por ocasião da passagem da tocha olímpica pela cidade, na Via Expressa, tem três metros de altura com 2,25 metros de largura e 0,65 metros de profundidade.
Para a curadora da mostra, Keyna Eleison, que já trabalhou com Gabriela em outros projetos, “a exposição Residência atinge o símbolo da obra de arte como morada do artista”.
Ambas as exposições ficam em cartaz até 6 de setembro, no interior da galeria e no espaço externo da Galeria KM7.
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