A doce poesia das nuvens, nas alturas do Pico da Caledônia

Com 2.257 metros de altitude é o segundo ponto mais alto de Friburgo
sábado, 20 de julho de 2019
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)

Tudo começa com o barulho do despertador às 01h55, mas nem precisava, a ansiedade para chegar ao topo de um dos lugares mais altos da cidade me impediu de ter um sono contínuo. Nesse momento o termômetro bate 10 graus. Ufa, não está tão frio. Sim, 10 graus, depois de uma média de 1 a 2 graus durante a madrugada nos últimos dias, é “quente”. Tomar banho, fazer café, vestir a roupa reforçada, mandar mensagem para o Alan Andrade (produtor, cinegrafista e editor de imagens), combinar o ponto de encontro e sair de casa. Tudo cumprido. São 3h30 e a praça do Cônego está deserta. Nem mesmo os cachorros de rua se aventuram na madrugada de inverno. Equipe reunida, é hora de começar a aventura.

Subimos de carro até a zona de camping e de lá seguimos a pé rumo a vencer os 630 degraus até o topo. A cada degrau deixado para trás a temperatura caía drasticamente. De acordo com informações de especialistas, do topo do Pico da Caledônia, a diferença em relação ao Centro de Friburgo é de oito graus para menos. Ainda escuro e com o peso dos equipamentos e suprimentos nas costas, a subida é lenta. A cada parada olhamos para baixo. A cidade dorme. Vencidos o frio e o escadão, pausa para um breve descanso. Breve, porque não se pode perder tempo. O sol  está para nascer. Hora de montar o equipamento e esperar a natureza trabalhar por nós.

Às 06h29, como dizia a precisão e a temperatura beirando aos 4 graus, surge o sol, imponente, tendo o cume e nós, como privilegiados de receber os primeiros raios luminosos e quentes do dia. Com um pouco de nuvens, um pequeno mar branco dança suave entre as montanhas no horizonte. Uma poesia aérea que atravessa lentamente e compõe a paisagem. Aos poucos, Nova Friburgo clareia, ouve-se os primeiros barulhos de uma cidade até então adormecida e escondida sob muitos cobertores e edredons. Um show de imagens que Alan Andrade captou com precisão.

 

Lá de cima, o som dos pássaros abrilhanta o nosso registro. Engana-se quem pensou que o privilégio desse cenário foi só nosso. Lá estavam outros cinco guerreiros que enfrentaram a madrugada para ver o dia nascer. Três deles, Emandro Vieira, Ana Paula Fagundes, Hugo Fagundes, já são “de casa”. Os friburguenses já subiram o Caledônia algumas vezes e gostam de explorar o cenário local, deslumbrante. “Friburgo tem muita variedade de montanhas. É uma cidade propícia para esse tipo de atividade. Aqui temos as pedras Catarina, Imperador, Chapéu da Bruxa, Três Picos, entre tantas outras. É a sétima ou oitava vez que eu venho aqui em cima e é a primeira vez que venho para ver o nascer do sol, uma vista muito bonita”, disseram Hugo e Emandro.

Os dias frios que antecederam a subida do trio fez com que a expectativa fosse de baixa temperatura, mas que não diminuiu a disposição de Ana Paula, que já planeja a próxima subida. “Nós demos sorte com o clima. A última semana fez muito frio e até geou aqui em cima, vim preparada para um frio intenso, mas até que está bem tranquilo. Está frio, mas nem tanto. Próximo desafio deve ser a Cabeça do Dragão, no parque estadual dos Três Picos”, deseja Ana Paula.

Podemos adicionar o Pico da Caledônia como um ponto turístico de Nova Friburgo. Não é possível precisar quantas pessoas, por ano, sobem a montanha, somente que é certo que esse número está na casa dos milhares. Somente no inverno, o local recebe centenas de pessoas a cada dia, principalmente na época das férias de meio de ano e aos fins de semana.

São 2.257 metros de altitude, elevando o Pico da Caledônia a ser o quinto ponto mais alto do Estado do Rio e o 20º mais alto do Brasil. No alto da montanha, os aventureiros que lá estiverem, em um dia de sol e sem nuvens, podem contemplar uma das mais belas vistas da cidade. Com o tempo limpo é possível visualizar uma parte da cidade maravilhosa, como a Ponte Rio-Niterói, a Baía de Guanabara, o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar. Em Friburgo é possível avistar de lá a região de São Lourenço e Salinas, bem como os Três Picos e suas montanhas. Lá do alto também é possível ver o Grande Rio (São Gonçalo, Niterói, Itaboraí), Baixada Fluminense (Guapimirim, Magé e Nova Iguaçu) e Região dos Lagos como Maricá, Araruama, Cabo Frio.

Acidente aéreo

 Em setembro de 1964, um avião da antiga Vasp com 39 pessoas a bordo bateu na Pedra do R, no Pico da Caledônia, matando os 39 ocupantes (34 passageiros e cinco tripulantes). A aeronave fazia o trajeto Vitória-Rio. As informações dão conta de que várias pessoas subiram a pedra não só para ajudar ou ver a cena, mas para furtar os pertences dos passageiros. Houve também quem carregou partes do avião como uma espécie de souvenir.

 Diante da situação, as Forças Armadas, que atuavam no local, fecharam o acesso à montanha, impedindo que a população subisse. Nunca ficou exatamente confirmado o que levou o avião a chocar-se com o Caledônia.

Depois de várias reportagens de A VOZ DA SERRA denunciando o estado que se encontrava o acesso ao Pico do Caledônia e de relatos de pessoas preocupadas com a situação de abandono do local, a prefeitura, em conjunto com a Subprefeitura de Olaria, Cônego e Cascatinha, enviou ao local uma equipe para realizar alguns reparos necessários.

De acordo com informações do Executivo, a Subprefeitura de Olaria, Cônego e Cascatinha removeu o entulho que obstruía o acesso, realizou uma capina retirando o mato que invadia a pista, fez o reparo no calçamento e até colocou asfalto nos trechos mais críticos da subida para o Pico do Caledônia.

"Esse trabalho visa viabilizar, em especial, o acesso dos trabalhadores às torres para a realização do serviço periódico e necessário de manutenção. Do contrário, sérios danos poderiam acontecer nos equipamentos e, consequentemente, à população", afirmou Priscila Pitta, subprefeita de Olaria, Cônego e Cascatinha.

 

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TAGS: Meio Ambiente | Turismo
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