Burca, da distinção à humilhação

sexta-feira, 26 de junho de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Na segunda-feira passada o presidente francês Nicolas Sarkozy declarou, na Assembleia Nacional, em Paris: “a burca não será mais bem-vinda no território da República; o véu não é um problema religioso, mas sim de liberdade e dignidade da mulher, é uma marca de servidão e humilhação”.

Na realidade o véu origina-se nas antigas civilizações, da Pérsia (hoje Irã) e da Mesopotâmia (hoje Iraque) e mais tarde, na cultura greco-romana. Era habitual entre as mulheres judias e tornou-se, também, uma referência das damas cristãs em Bizâncio (atual Turquia) e na idade média ocidental. Caracterizava o status feminino elevado e conferia à mulher uma certa inacessibilidade. Foi somente no século VI, através do profeta Mohammad, que o uso da burca foi introduzido na Arábia, para que as muçulmanas também gozassem da mesma dignidade das demais e não o contrário.

Vemos assim que, no início, era um sinal de distinção da mulher mesmo entre os muçulmanos. No entanto, com o passar do tempo e o crescimento da intolerância patriarcal, aliado a um forte sentimento machista (só o sentimento), tornou-se motivo de apologia entre os fundamentalistas e serviu para controle e exclusão da mulher, impedida de escolher sua própria indumentária.

Mas o que na realidade deve ser discutido é até que ponto o imigrante tem o direito de querer impor à sociedade local os seus hábitos de vida. Se por um lado recriminamos o triste hábito do passado, quando os colonizadores europeus destruíram as tradições dos povos colonizados, impondo as suas, a recíproca é verdadeira: até que ponto um povo está disposto a aceitar tradições e modismos com as quais nada tem a ver?

Já pensaram em obrigar as cariocas a usar a burca? Seria a desmoralização total, pois imediatamente após a sua introdução, surgiriam os modelos estilizados com aberturas no umbigo, nos quadris e nos seios. O tecido seria transparente, o que as tornaria mais provocante e isso duraria até o carnaval, quando então seria completamente modificada, passando a ser confeccionada em tiras que esvoaçariam ao menor movimento.

O problema francês é sério porque o famoso lema da Revolução Francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade, propiciou a entrada em massa de muçulmanos no país e com eles uma islamização da França. A Paris de hoje deve ter mais árabes do que parisienses. Não se trata de uma afirmação racista, mas a observação de que se tenta de todas as maneiras impor a cultura oriental e não conviver com a cultura ocidental. Convenhamos que isso seria uma regressão, pois não se pode comparar o progresso que se observa nesse lado do planeta, com o atraso criminoso dos países cujo governo é dominado pelo clero com suas manias e imposições absurdas. Como exemplo podemos citar a destruição das estatuas de Buda, patrimônio da humanidade, pelos talibãs do Afeganistão. Uma estupidez. Aliás, alguém já imaginou o que aconteceria se o ranheta do Komeini, fosse eleito prefeito do Rio e, em nome do Islã, mandasse demolir a estátua do Cristo Redentor?

O importante é a convivência pacífica entre as diferentes raças e culturas, pois a história ensina que os hábitos saudáveis são aos poucos incorporados, vide o sucesso do macarrão. Ou aplique-se o velho ditado: os incomodados que se mudem.

Max Wolosker Neto, jornalista e médico

Email: woloskerm@gigalink.com.br

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