Adeus Carnaval

sábado, 09 de março de 2019

“Este não ano vai ser  igual aquele que passou,

Eu não brinquei, você também não brincou...”

Os carnavais são poeiras do tempo. Ansiados, acontecem e passam. Daqui há alguns dias não restará nada, apenas resquícios da purpurina no assoalho do quarto, um confete que teima não soltar do tapete, o adereço que se esconde num armário qualquer e depois, sem uso, vai para o lixo. A fantasia efêmera se desfaz sem esforço algum.

Preciso fazer contas para tornar vivo quantos carnavais passaram. Quantos vivi, saí pelas ruas em blocos, assisti, participei, me integrei e me entreguei. Mas o carnaval passou e o que nos resta é aguardar o próximo ano. Rasgamos as fantasias e partimos para a luta. Tudo é tão pueiril que a aleluia de hoje apagará o que insistia rondar a cabeça em lembranças. Nem mesmo as fotos registradas no celular serão revisitadas. É vida que chama. Que puxa pelo braço para seguir em frente.

É por isso que registro aqui o que considero inescusável à memória. Não dá para passar em branco diante da digna resiliência da Vilage no Samba, após impiedoso incêndio em sua sede. Escolas de samba são redutos sociais que alimentam uma cultura de participação e, por isso mesmo, pertencimento. Não é um bairro. Não é uma quadra. É uma nação formada por gente de todos os cantos e corações que  pulsam. E vê-la na avenida, uníssona, garbosa, no voo altaneiro da águia símbolo, foi de tocar a alma. Uma dor que transformou-se em discurso e motivação, deu samba, uniu mãos, como sempre sonhou Mestre Leônidas e cultiva na sua silente elegância a querida Teresa.

Um ano de reconhecimento também aos talentos da cidade. O grande artista Jorge Freitas ganhou o carnaval de São Paulo. Reverenciado, não esqueceu dos seus amigos, das suas origens e de seu pai, o saudoso Jorjão. Vencer é corriqueiro na carreira do Freitas, mas nos emociona. Enobrece saber de sua paixão pela Nova Friburgo que o aplaude e se orgulha do filho ilustre.

Evandro Malandro deu voz ao samba enredo da Grande Rio no maior espetáculo da terra. Nele e com ele, nossas vozes também ecoaram para o mundo. Somos os melhores. Somos friburguenses.  Assim como Kaísso, Monstrinho, Guto, Fabinho...e outros mais.  Assim como Kleiton Eller, Roberto de Abreu, e o jovem talento de Cantagalo, Tarcísio Zanon, que assinou o carnaval da escola de samba Estácio de Sá, que desfilou na Série A do Rio de Janeiro, e subiu para o Grupo Especial. O querido  Thonny Ramalho deu um show como intérprete da agora escola de samba do Grupo A de Nova Friburgo, Unidos do Imperador, e como cantor de apoio da Alunos do Samba, e foi a grande revelação do carnaval.

O Alunão, em sua grandeza, homenageou Alaelson Correia, carnavalesco que escreveu páginas da nossa história em tempos outros, trazendo-o como destaque num carro alegórico, revisitando um passado não tão longe que encheu de glórias as agremiações da cidade por onde o talentoso artista deixou suas digitais. Eu me emocionei. Mas poucos sabem quem foi Alaelson e de sua importância. Não importa. A Alunos do Samba fez lindo tributo.

Um ano para ser lembrado, 2019 se inicia com conquistas que representam muito para quem ama o Carnaval, quem mergulha em suas origens e sabe de sua importância. Valha-me Deus essa gente que não gosta do riso frouxo, não percebe a pilhéria, não enxerga a cadeia produtiva e econômica e que vive alegria embaçada.  Que acha que com amargura vai fazer desaparecer uma festa que tem origens no Egito e atravessou o tempo.

Que venha 2020! Que o ano seja de entendimentos para aperfeiçoar, cada vez mais, a maior festa popular do Brasil. Recebam o meu abraço, Ricardo da Fonseca – o Pavão, Jeferson Lima, Jotinha, Marcelo Cintra, Carlos Renato Andrade, Zumar, Gilson Pereira, Monstrinho e a turma do carro de som, Felipe Ribeiro, Mestre Negreti, Helen Santos, Lucas Araújo e Renatinha Tavares, Monara Costa, Ana Maria Rodrigues, Tia Teresa, Alexandre Pena Mereci, ferreiros, carpinteiros, ritmistas, empurradores de carros, aderecistas, costureiras, e todos da nação verde e branco que nos encheram de orgulho e renovaram nossas esperanças em 2019! A Vilage “sobrou” na avenida! Renascemos todos! 

Foto da galeria
O pavilhão da verde e branco, Vilage no Samba, campeã do carnaval 2019, nos anos de 1950, em seus primeiros desfiles (Acervo David Massena)
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David Massena

David Massena

David estreou nas colunas sociais ainda na década de 70. É jornalista, cerimonialista, bacharel em Direito, escritor e roteirista. Já foi ator, bailarino, e tantas coisas mais, que se tornou um atento observador e, às vezes, crítico das coisas do mundo.

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