Uma intensa tempestade de raios provocou, ao anoitecer desta segunda-feira, 25, um espetáculo de luzes riscando os céus de Nova Friburgo. Amedrontador para uns, fascinante para outros, o fenômeno começou, segundo a Energisa, às 16h e durou até 21h. Nesse período, segundo a empresa, foram registradas 370 descargas elétricas, sendo que em apenas 15 minutos, entre 17h30 e 17h45, caíram 155 raios.
O fotógrafo Carlos Mafort, que cedeu as principais fotos desta reportagem contou (leia a íntegra de seu depoimento abaixo) que a noite começou de uma forma diferente, com clarões iluminando o céu a todo instante, exibindo as silhuetas das montanhas como se fosse dia. “Pessoas corriam pelas ruas, que rapidamente ficaram vazias, para buscar abrigo em casa. Raios saíam diretamente das montanhas”, disse ele, que sempre gostou de fotografar céus e só viu algo semelhante em 2014.
Em Nova Friburgo, a Defesa Civil não registrou ocorrências, assim como a Energisa. Já em Cachoeiras de Macacu, área de atuação da Enel, uma forte ventania derrubou árvores e postes e destelhou casas, mas ninguém ficou ferido. Segundo o secretário de Defesa Civil de Cachoeiras, Rodrigo Amaral, houve um verdadeiro caos na rede elétrica, com fios arrebentados e queda de transformadores. Grande parte da população ficou sem internet e sem celular. As operadoras tiveram prejuízos por causa do rompimento da fibra ótica.
Na RJ-116, no fim da tarde, fortes rajadas de vento com quedas de árvores impediram momentaneamente o tráfego de veículos no sentido Macacu. Houve problemas nos Kms 22, 26, 39 e 40.
Na capital, ao fim de um dia de calor recorde, com sensação de térmica de inacreditáveis 53,5 graus, segundo o Alerta Rio, choveu granizo em vários bairros, sobretudo na Zona Norte. Às 17h45, a cidade entrou em estágio de atenção. Por volta das 19h30, no entanto, a chuva perdeu força.
Segundo o Climatempo, o forte calor sobre o Estado do Rio e a aproximação de uma frente fria estimularam o crescimento de nuvens bastante carregadas. Os temporais atingiram a região da Costa Verde e o Sul Fluminense já nas primeiras horas da tarde. A chuva caiu forte em Angra dos Reis, com acumulado de 66 mm no período de três horas (das 12h40 às 15h40), segundo dados do Central Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Choveu 15,1 mm em Paraty no mesmo período.
Verão com mais raios
Um estudo desenvolvido pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) prevê um aumento de até 30% na incidência de raios na Região Sudeste neste verão, devido ao El Niño. Os estudos indicam que a intensidade do fenômeno no Oceano Pacífico vai provocar aumento na incidência de raios em todo o país, sendo de 50% a mais na Região Sul de 20% a 30% a mais no Sudeste. Para uma parte do Centro-Oeste, a estimativa de aumento também é de 20% a 30%. Já no Norte e no Nordeste, deve haver uma queda de 50% na incidência de raios.
De acordo com o Elat, Nova Friburgo apresenta uma densidade de descargas de 3,5 por quilômetro quadrado ao ano, ocupando a posição 2.859 (entre mais de cinco mil municípios) no ranking nacional e a posição 50 no ranking estadual (entre 92 municípios).
Riscos e danos
Segundo a Defesa Civil do Rio de Janeiro, um raio pode, numa fração de segundo, produzir uma carga de energia que pode chegar a inacreditáveis 125 milhões de volts, 200 mil ampères, 25 mil graus Celsius. Por isso, mesmo um raio menos potente pode conter energia suficiente para matar, ferir, incendiar, quebrar estruturas e abrir valas no chão.
Ao redor da Terra caem cerca de cem raios a cada segundo. A maioria das vítimas são atingidas ao ar livre, debaixo de árvores ou dentro d’água. Casos emblemáticos são antigos: em janeiro de 1994, dez pessoas ficaram feridas enquanto se abrigavam sob duas barracas de praia em Ipanema. Todas sofreram queimaduras de primeiro grau e foram jogadas para longe. Uma barraca ficou despedaçada e uma mulher teve as roupas rasgadas. Os mastros das barracas possivelmente atuaram como pára-raios, sem aterramento. Em 1983, durante um treino do Palmeiras, um raio caiu no meio de um grupo de jogadores. Um deles desmaiou, outros três foram derrubados no chão e o técnico foi atirado a metros de distância.
O depoimento do fotógrafo Carlos Mafort:
“A noite em Nova Friburgo começou diferente de outras noites de segunda-feira. Clarões iluminavam a todo instante os céus, exibindo como dia as silhuetas de nossas montanhas. Eu estava em casa preparando algo pra comer, mas não demorei para
largar tudo e sair correndo com as câmeras. Andando de carro pelas ruas de Conselheiro, eu procurava o melhor ângulo para fotografar. Estava tentando desviar de fios e árvores que quase sempre estavam lá, atrapalhando a visão que eu já tinha em mente.
Enquanto as pessoas corriam pelas ruas para tentar se abrigar o mais rápido que pudessem em casa, eu estava subindo a rua mais alta para chegar no ponto mais alto que pudesse. Foi incrível quando finalmente encontrei um local aberto, sem fios, sem nada para atrapalhar a visão, o local perfeito e ao mesmo tempo assustador.
Eu realmente estava onde a maioria não gostaria de estar num momento desses. Ventava muito! Não havia ninguém na rua, e quem passava estava apressado para chegar em casa logo. Logo eu montei o tripé, configurei a câmera muito rápido e mal pude acreditar naquilo que estava presenciando. Raios saindo direto do solo das montanhas do Cônego e do Cascatinha e também de todas as montanhas ao meu redor! Um verdadeiro espetáculo da natureza bem diante dos meus olhos. Eu já havia fotografado o mesmo fenômeno em 2014, a foto da época também fez muito sucesso nas redes sociais, e hoje uma delas está em um quadro enorme na minha sala.
Estar ali novamente dessa vez me fez lembrar minha mãe. Desde criança eu sempre fui fascinado por raios. Eu lembro que corria para a janela enquanto minha mãe já gritava para sair dali pois era perigoso, mas mesmo assim eu sempre dava um jeitinho de ficar olhando.
Sinto muito orgulho de hoje fazer um registro como esse, de poder fotografar algo tão raro e poderoso. Poder fotografar e mostrar essas imagens nas redes sociais, ver tantas pessoas admirando e interagindo é muito gratificante pra mim. Minha mãe ainda segue me alertando quando vê as fotos, ela me liga e diz: ‘Carlos, você foi atrás de ver os relâmpagos de novo meu filho? É perigoso! Você não tem jeito, ainda mais com essas câmeras. As fotos estão lindas, tenho muito orgulho de você.’
Acho que vou dedicar essas fotos à minha mãe então. A gente pode crescer e o mundo pode ficar diferente, mas algumas coisas nunca mudam, não é?”
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