Quem não conhece Iemanjá, certamente, já ouviu o seu nome em algum momento da vida ou em alguma letra de alguma canção brasileira. Mas quem é Iemanjá? De onde ela veio?
A grande Mãe d'Água chegou ao Brasil com os africanos escravizados. Veio com sua gente nos porões dos navios negreiros acompanhada de todos os orixás que aqui se estabeleceram.
Os negros habitaram e habitam muitas regiões do continente africano e cada povo possuía e possui sua cultura local, sua língua, seus costumes, crenças e divindades. É desse contexto que surge não apenas Iemanjá como todos os outros orixás, cada um com culto próprio em algum lugar da África Negra.
É uma divindade originária da região de Ifé e Ibadan, local onde se encontra o rio Yemanjá. No Brasil, foi eleita a Rainha do Mar, mas apesar de receber esse título e ser cultuada nas águas salgadas, sua origem é um rio que corre para o mar. Na África, o mar pertence à Olokum, considerado para uns o pai, e para outros a mãe de Iemanjá.
Quando os negros chegaram ao Brasil foram distribuídos de forma aleatória. Para alguns historiadores essa medida foi uma estratégia para evitar fugas e rebeliões, e já que falavam línguas diferentes, isso dificultaria a comunicação entre eles. Foi a partir dessa mistura que surgiu o candomblé e o sincretismo religioso tão presente nas religiões de matriz africana.
O candomblé surgiu quando os negros oriundos de diversas regiões africanas foram distribuídos em solo brasileiro e sentiram a necessidade de cultuarem seus deuses. Um culto não mais individual como o praticado na África, mas coletivo para que todos se sentissem acolhidos e representados em sua cultura e crença.
No entanto, os negros também foram amputados em sua fé, já que a religião de seus senhores era o catolicismo. Assim, ao serem obrigados a se renderem ao Deus do homem branco, pela resistência e preservação de suas raízes criaram o que hoje conhecemos como sincretismo. Passaram a associar suas divindades aos santos católicos, cujas relações estabelecidas entre santos católicos e orixás variavam de uma região para outra.
Isso explica, por exemplo, o por quê de alguns orixás serem “ligados” a mais de um santo católico. Vale ressaltar que essa variação é peculiar de cada região do Brasil. Desse modo, Iemanjá pode ser sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes, na Bahia, Nossa senhora da Conceição, no Rio Grande do sul, e Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora das Candeias, em outras regiões brasileiras. O sincretismo também favoreceu, de certa forma, uma "melhor aceitação" da religião no Brasil.
A primeira religião genuinamente brasileira, a Umbanda surgiu em 1908 através do médium Zélio Fernandino de Moraes. Foi através do “Caboclo das Sete Encruzilhadas” que o plano espiritual fez chegar ao plano terreno a missão de propagar e estabelecer a umbanda como religião para a prática do amor a Deus, ao próximo e à caridade. Uma religião que não se estabelecia como verdade absoluta, mas que reconhecia todas as outras como caminhos válidos para se chegar a Deus. Talvez seja essa a razão pela qual a umbanda traz em sua liturgia princípios oriundos do catolicismo, espiritismo e do candomblé.
Reverenciada na umbanda, onde sua linha é chamada popularmente de povo d’água, a Rainha do Mar é festejada pelos seus devotos em 2 de fevereiro, e também homenageada no dia 31 de dezembro. Considerada mãe de todos os orixás, Iemanjá está na origem das divindades e na geração de tudo o que há no Universo. O amor maternal é sua característica marcante, é o amparo materno. Por ter em si as qualidades criativas e geradoras de Deus, torna os seres e criaturas mais capazes de se adaptarem às condições e meios adversos.
(Texto: Emilia Lemos, Sandro Vasconcelos e Gian Velberto, estudiosos das religiões afro-brasileiras)
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