O contato das crianças com os aparelhos eletrônicos e com a internet tem sido cada vez mais precoce. O público infantil domina as ferramentas disponíveis com agilidade e facilidade surpreendentes. Pesquisa promovida pelo HootSuite, em parceria com a We Are Social apontou que o brasileiro permanece em média 3 horas e 40 minutos todos os dias nestas plataformas, tornando o Brasil o 2º país do mundo que passa mais tempo navegando nas redes sociais.
No entanto, esse acesso irrestrito traz à tona a questão da segurança e do controle de conteúdo apropriado. Diante do exposto, perguntamos: você sabe como proteger seus filhos no que diz respeito à internet? Para profissionais que atendem pais e filhos que os procuram em busca de aconselhamento, o primeiro passo é esclarecer e orientar as crianças sobre os perigos existentes no mundo virtual, em suas diversas plataformas.
“O diálogo entre pais e filhos é primordial. Incentivar que as crianças compartilhem suas experiências é importante para que elas saibam que se ocorrer qualquer problema, podem contar com o apoio dos pais”, ressaltamm acrescentando. “A Internet tem aspectos muito positivos para os jovens, pois oferecem ferramentas para realizar os deveres escolares, para aprender brincando, para pesquisar, entre outros recursos, mas também tem zonas escuras e perigosas”.
Nos últimos anos os crimes sexuais envolvendo menores aumentaram consideravelmente, em parte pela facilidade de disseminação de fotos, lives (sexting, nudes) e vídeos envolvendo crianças e adolescentes. Expor jovens com pouca roupa, além de atrair pedófilos, causa constrangimento, além de sérios problemas de natureza emocional.
Segundo o artigo 1.630 do Código Civil do Poder Familiar e da Proteção Integral do Menor prevista nas disposições preliminares do Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 1º ao 6º do Estatuto da Criança e Adolescente - ECA), cabe aos pais garantir o respeito e a segurança de seus filhos.
Depois do susto, a providência
Foi o que fez o professor de educação física e policial militar Thadeu Aôr. Ao acessar, sem maiores expectativas, o celular da filha, de 12 anos, tomou um susto: se deparou com imagens e mensagens dela postadas numa concorrida rede social. Sem entrar em maiores detalhes sobre as postagens, contou que ficou atordoado, mas não perdeu tempo. Tomou providências. A primeira, chamar a garota para uma conversa, franca e aberta, como sempre fez.
“Foi uma choradeira só, de ambas as partes”, revelou. Ela nunca tinha me visto daquele jeito, decepcionado, desgostoso. Senti uma tristeza tão profunda que não consegui segurar o choro. Aí ela desabou, chorou junto, compreendeu, então, a gravidade das consequências que o comportamento dela podia trazer para ela mesma. Como somos muito amigos, vivemos uma relação aberta e de total confiança mútua, sempre conversando sobre tudo. Então, esse ‘confronto’, digamos assim, foi conduzido de forma intensa mas permeado pelo amor que sentimos um pelo outro. Sem, no entanto, deixar de exercer minha autoridade de pai, nunca abri mão disso. Nas nossas conversas, eu sempre repetia o que esperava dela: que estudasse e não me decepcionasse. E aí, esse nosso mundo particular aparentemente tão seguro, se desfez, aliás, prefiro dizer que correu risco, mas já o eliminamos. Ela sentiu o peso da minha decepção e isso a deixou arrasada. Pediu perdão, prometeu que nunca mais me magoaria daquela forma, e aceitou as restrições que impus”.
As restrições foram de caráter prático: saídas só para o colégio (particular e tradicional) e confisco do celular. Agora, festinhas, quando sair do castigo, só acompanhada do pai ou mãe.
“Provisoriamente, troquei por um celular que só faz e recebe ligação. Quando devolver o celular antigo, vai com um aplicativo que passa para o meu aparelho tudo que ela receber ou enviar. Vou monitorar e ela está ciente de que será assim. A questão, é bom ressaltar, é que, como sempre conversamos sobre drogas, sexo, comportamento, achávamos que ela estaria preparada para se defender de oportunistas e perseguidores. Só que ela tem apenas 12 anos, não passa de uma criança, por mais que pareça uma garota de 16 anos. Na idade dela não há maturidade para escapar de influências da ‘galerinha’. Para os jovens, as redes sociais parecem um grande parque de diversões, é tudo muito convidativo. Então, temos que entrar nesse circuito para proteger os jovens, não apenas nossos filhos, mas o maior número possível deles”, alertou.
Outros caminhos
Além de ter contado com a orientação de uma psicóloga, Thadeu recebeu a indicação de uns amigos que lhe falaram do projeto Caminhada de Emaús, um trabalho desenvolvido pelo Pe. Fernando Pacheco (da Paróquia Santa Teresinha, em Conselheiro Paulino), voltado para adolescentes.
“Nesse encontro com o padre Fernando expus o problema e disse que precisava de ajuda. Queria orientação para poder ajudar a minha filha nessa nova fase, que não era só dela mas minha e da mãe dela também. O Fernando é uma pessoa serena e tem um conhecimento fantástico para ajudar jovens e seus familiares”, relatou, acrescentando que, embora separado há oito meses de sua esposa, mantém com ela uma relação amistosa, visando principalmente os cuidados com a filha.
Na mesma semana, a menina começou a participar do grupo, e segundo Thadeu, o resultado o surpreendeu. “Ela voltou mais esclarecida e focada nas questões que envolvem os jovens da idade dela, era outra menina, encantada com a nova experiência. Ficamos aliviados. Ela deu o primeiro passo para retomar o caminho que acreditamos é o melhor, passando a entender com mais clareza o que já lhe dizíamos, mas parece que não levava muito a sério. Foi preciso escutar outra pessoa, observar as reações do grupo para perceber como os demais adolescentes assimilavam o que o padre Fernando dizia. Posso afirmar, sem medo de errar, que minha filha passou por uma transformação”.
O papel de cada um
Segundo Thadeu, de lá pra cá, algo em torno de três semanas, o comportamento da filha mudou completamente. Hoje ela tem consciência de que tudo que se faz, tem consequências. Somos responsáveis pelos nossos atos. Nesse sentido, Thadeu postou um texto (box 1) dirigido ao seu grupo de amigos nas redes sociais, alertando os pais sobre as atividades de seus filhos na internet e nas escolas.
“Percebo que muitos pais estão transferindo para as escolas a responsabilidade de educar seus filhos. Em certos casos, quando um deles é repreendido pelo professor, o pai ou a mãe, sem nem mesmo se dar ao trabalho de saber o que aconteceu, já sai em defesa da criança, independente de ele ter agido certo ou errado. Alguns pais não estão prestando a devida atenção ao que está acontecendo com seus filhos, seja em casa ou nas escolas. Por outro lado, há colégios que não cumprem o seu papel de exercer o devido controle dentro das salas de aula. Enfim, o panorama dentro do universo educacional está confuso, e de modo geral, com muitos equívocos tanto nas famílias quanto nas escolas”, avaliou Thadeu.
Alerta de um pai nas redes sociais
“Vamos proteger nossos filhos, vamos fiscalizar suas redes sociais, enquanto há tempo. Estar na internet não significa estar seguro. Na verdade, a internet se tornou uma grande metrópole cheia de becos escuros. Há muitas razões para nos preocupar. Tem que haver vigilância, saber com quem eles estão conversando, o que estão acessando.
Não olhar o celular de nossos filhos é assumir riscos pela nossa omissão, negligência. Agir não caracteriza invasão de privacidade, ao contrário, está de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. O ECA protege a criança para que sua privacidade não seja ameaçada por terceiros. O pai e a mãe têm o dever de proteger a imagem, a reputação, a segurança e o bem-estar de seus filhos. Resumindo, é nossa obrigação cuidar e estar atendo ao dia a dia deles. Isso é amor, isso é amar nossos filhos!”
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