Dia Mundial da Gentileza: em busca do efeito borboleta nas relações humanas

Para construir e disseminar uma sociedade justa, cidadã e empática, é preciso retomar antigos hábitos. E perpetuá-los
quarta-feira, 13 de novembro de 2019
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Dia Mundial da Gentileza: em busca do efeito borboleta nas relações humanas

Segundo filósofos, estudiosos e pensadores, a gentileza é um conceito amplo. Engloba iniciativas que vão desde dispor livros para pessoas enquanto aguardam em um ponto de ônibus até juntar um grupo de voluntários para limpar pichações. Ou criar um movimento como o Feira Grátis da Gratidão, numa praça, aqui em Friburgo, onde os participantes doam objetos de todo tipo, roupas, livros, ou apenas se encontram, se abraçam, se permitem estar juntos uns dos outros. Tudo isso é uma forma de praticar gentilezas.

É gentil ceder assento para gestantes, idosos ou para uma pessoa com criança no colo. Sorrir para um estranho que passa por você, apenas pelo prazer de sorrir. Estender a mão para uma pessoa com dificuldade nas ruas. Enfim, podemos ser gentis de tantas formas…

A ideia da data em que se celebra o Dia Mundial da Gentileza - 13 de novembro - surgiu em 1996 em uma conferência em Tóquio. O grupo Movimento das Pequenas Gentilezas do Japão reuniu diversos grupos de diferentes países que propagavam a gentileza em suas nações e apresentou a proposta. E ela se espalhou pelo mundo, e mais do que nunca, hoje, precisando exercitá-la.

"Gentileza e boa vontade estão relacionadas à felicidade, e as pessoas que tentam ser mais gentis no dia a dia tendem a experimentar mais emoções positivas e se tornam mais alegres. A gentileza está ligada ao gene que libera a dopamina, neurotransmissor que proporciona bem-estar", concluiu estudo realizado pela Universidade Hebraica, de Israel, em 2005, sobre o mecanismo que explica essa relação.

No entanto…

Olhe à sua volta e repare. As pessoas estão tão ilhadas nos próprios problemas que não conseguem prestar atenção ao seu redor. Parece que tudo ali é irrelevante. É o que se depreende ao observar as pessoas que nos cercam. Cada vez mais elas andam de cabeças baixas, e não só por causa dos celulares. Seus olhos estão de tal forma fixos em seus próprios umbigos que sequer percebem o que está acontecendo consigo mesmas. Longe de ser falta de gentileza, é algo muito mais elementar, ao mesmo tempo, importante, no convívio social: má educação. Bom esclarecer que falta de gentileza e má educação são duas coisas bem diferentes: não ser gentil é não dar bom dia, não segurar a porta do elevador, não sorrir para os colegas.

Isso é má educação, é falta de modos, desrespeito, grosseria. O mal educado é prepotente e não se importa com o sentimento alheio. Precisamos prestar atenção em como nos comportamos com o outro, descobrir o quê e por quê achamos que o outro é que está errado, e não nós, tentar entender o motivo desse estranhamento e mudar o foco: olhar para dentro de nós mesmos e se colocar no lugar do outro. Isso é também, uma maneira de ser gentil.

Para a professora de filosofia Suze de Oliveira Piza, o problema está vinculado ao individualismo. De acordo com ela, vivemos em uma sociedade com discursos e práticas em que as pessoas se preocupam apenas consigo mesmas. “Temos um individualismo exacerbado, ao mesmo tempo em que não encontramos os indivíduos refletindo sobre si”, explica. Para ela, esse tipo de postura impede que os indivíduos sejam pessoas plenas e altruístas. E, portanto, mais completas, felizes.

Segundo Suze, a falta de gentileza e o individualismo são fatores que se agravam através do tempo. “Com a busca cada vez maior por status social e financeiro, as pessoas acabam deixando em segundo plano as relações afetivas para priorizar a relação com o dinheiro”, afirma.

Antigamente, ter uma postura gentil era algo normal dentro de uma sociedade onde os cidadãos se relacionavam mais uns com os outros. As crianças, de todas as classes sociais, brincavam nas ruas e todos conheciam seus vizinhos de bairro. Atualmente, a distância entre as pessoas está mais latente e muitos dos relacionamentos reais foram substituídos por contatos virtuais.

Para construir uma sociedade mais justa, cidadã e gentil, é preciso retomar antigos hábitos. Atitudes como abraçar alguém, elogiar um trabalho bem feito, dar bom dia ao porteiro do prédio, ajudar o outro sem esperar nada em troca são maneiras práticas e efetivas de exercitar a gentileza com todos, em todas as ocasiões, em todos os lugares. E todos ficam mais completos e felizes.

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