Segundo a pesquisadora e socióloga Lúcia Avelar, professora titular de Ciência Política na Universidade de Brasília e pesquisadora do Centro de Estudos da Unicamp, o Brasil tem movimentos de mulheres mais estruturados do mundo. Uma das autoras do livro “50 anos de feminismo – Argentina, Brasil e Chile”, lançado ano passado, ela afirma que países com maior envolvimento da população na política tendem a ter feminismos mais organizados.
“O Brasil, embora não seja de amplo conhecimento dos brasileiros – porque as mídias dão pouco espaço para os feminismos -, é conhecido como o país de maior nível organizacional dos movimentos de mulheres. Sua estrutura vai do municipal ao regional, estadual e nacional, articulando-se em uma multiplicidade de redes que por sua vez transitam nas várias instâncias governamentais nacionais e internacionais. Quando se fala em mulheres da América Latina, é comum fazer uma conexão imediata com números preocupantes de feminicídio, com a escassez de direitos e com uma forte cultura do estupro. Poucas vezes, porém, se fala das mudanças trazidas pela luta feminista em países como Brasil, Argentina e Chile – que têm feito reformas interessantes em direção à igualdade de gênero, inclusive com reconhecimento e com a ajuda de órgãos internacionais como a ONU, e que tiveram, ao longo dos últimos 50 anos, governantes do sexo feminino.”
Sobre o marco dos 50 anos feminismo, ela explicou: “Quisemos definir uma época de maior adensamento dos movimentos feministas e de mulheres, e há um relativo consenso de que foi a partir da década de 1960 que as mulheres tiveram maior acesso à educação, maior autonomia como cidadãs e puderam ousar imaginar uma vida cujo destino ficaria além da rotina doméstica. Para nós, foi a partir daí que a visão de um universo diferenciado começou a fazer parte do imaginário das mulheres”.
O que busca o movimento feminista
O movimento feminista traz em sua trajetória grandes conquistas que muitas vezes passam despercebidas aos nossos olhos. Porém, a caminhada ainda é longa quando se pensa a respeito dos direitos da mulher e igualdade entre os gêneros.
Algumas bandeiras do movimento, em particular, merecem mais atenção, como a violência contra a mulher, a diferença salarial entre gêneros, pouca inserção feminina no meio político, casos de assédio e preconceito contra a mulher, entre outros.
Uma grande parte do movimento feminista luta também pela descriminalização do aborto, entendendo que muitas mulheres perdem a vida, submetendo-se a procedimentos clandestinos executados por pessoas que poucas vezes possuem formação profissional adequada para realizá-los.
Movimento tomou conta da rede social
O maior e mais recente movimento no Brasil ocorreu durante a campanha para a presidência. A rejeição do eleitorado feminino ao candidato Jair Bolsonaro (PSL), refletida em todas as pesquisas, chegou a 49% no dia 10 de setembro (Datafolha), e se materializou nas últimas duas semanas daquele mês através de um grupo massivo de debate político no Facebook: chegou a receber 10 mil novos pedidos de participação por minuto de eleitoras indignadas, culminando com o movimento nas ruas.
Batizado como "Mulheres unidas contra Bolsonaro" a conta mobilizou, em tempo recorde, mais de um milhão e meio de usuárias da rede social. Às vésperas do dia da votação para presidente, eram mais de três milhões e repercutia na imprensa mundial.
"O movimento é destinado à união das mulheres de todo o Brasil contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores", divulgou a página no Facebook. “O grupo nasceu com a intenção de reunir os discursos das eleitoras com os posicionamentos do presidenciável em relação aos direitos das mulheres”, explicou Ludimilla Teixeira, publicitária baiana de 36 anos, uma das criadoras. A intenção agora, é manter o grupo, sob outra designação, para lutar pelas causas que defendem.
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