Suástica na igreja leva Friburgo aos "trending topics" do Twitter

Investigados divulgam vídeo negando envolvimento com pichações de símbolo nazista
quinta-feira, 18 de outubro de 2018
por Alerrandre Barros e Paula Valviesse (redacao@avozdaserra.com.br)
Os dois suspeitos no vídeo que divulgaram para se defenderem da acusação da polícia (reprodução da web)
Os dois suspeitos no vídeo que divulgaram para se defenderem da acusação da polícia (reprodução da web)

A identificação de três jovens suspeitos de envolvimento com a pichação de suásticas nazistas na capela de São Pedro da Serra, em Nova Friburgo, levou o nome da cidade aos assuntos mais comentados no Twitter, na manhã desta quinta-feira, 18. Até o meio-dia, “Nova Friburgo” era o oitavo termo mais citado nos Trending Topics Brasil da rede social. O assunto repercutiu em meio à polarização política às vésperas do segundo turno das eleições.

Nesta quarta-feira, 17, dois suspeitos, de 29 e 34 anos, foram detidos nesta quarta-feira, 17, e levados a prestar depoimento na 151ª DP. Um terceiro suspeito, de 24 anos, ainda está sendo procurado. O trio foi flagrado nas imagens de câmeras de segurança recolhidas na localidade fazendo outras pichações, de cunho político contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), em muros e calçadas do distrito.

Depois de serem liberados, os dois detidos divulgaram um vídeo nas redes sociais se identificando e negando qualquer envolvimento com a pichação das suásticas. Eles admitem apenas terem rabiscado a hashtag #elenao, usando folhas, em muros e calçadas de São Pedro, na madrugada de 6 para 7 de outubro, sob a influência de álcool.

“O que ocorreu na igreja é uma pichação feita em tinta spray azul, uma série suásticas foram pintadas, e não dizeres políticos rabiscados com folhas de mato, como na semana anterior. Estamos colaborando com a Polícia Civil no sentido de permitir a investigação de nossas casas sem a apresentação de mandado de busca e apreensão. Os policiais não encontraram em nossas casas nenhum indício que nos ligassem a pichação da igreja, nenhuma lata de tinta spray”, destacaram os amigos no vídeo.

Eles ainda pedem desculpas à população: “Aproveitamos este vídeo para pedir desculpas a todos os ofendidos por nossa atitude inconsequente. Pedimos a colaboração de todos para que encontremos os culpados, caso essa seja a real intenção de todos e não a de nos rechaçar por motivos pessoais”.

Até a atualização desta notícia, a Polícia Civil não comentou o vídeo divulgado pelos suspeitos. Os investigadores sustentam que o trio foi flagrado nas imagens de câmeras de segurança recolhidas nas proximidades fazendo outras pichações, de cunho político, em muros e calçadas do distrito, o que os coloca como suspeitos de terem desenhado o símbolo do nazismo na fachada e nas portas da igreja na madugada do último domingo,  14.

De acordo com a Civil, o rapaz de 24 anos que fugiu ao perceber a aproximação dos policiais tem uma anotação criminal pelo crime de desobediência. Os outros dois não têm antecedentes. No entanto, na casa do suspeito de 29 anos os policiais encontraram uma pequena quantidade de maconha, sendo então feita autuação por posse e uso de drogas.

“As investigações prosseguem na tentativa de se buscarem novas imagens e colher novos depoimentos, inclusive do padre da igreja, com o escopo de se concluir o inquérito  que apura o crime de preconceito previsto na lei 7.716/1989, que prevê pena de reclusão de dois a cinco anos de reclusão", diz a nota divulgada pela Civil. A nota acrescenta que os depoimentos prestados estão sendo mantidos em sigilo para que não atrapalhem a conclusão das investigações, já que outras diligências são imprescindíveis para a localização do terceiro participante.

O trio foi flagrado em câmeras de estabelecimentos próximos, uma vez que as câmeras da igreja não estavam funcionando no dia que foram pichadas as suásticas. Nas imagens, eles aparecem fazendo pichações contra a campanha do candidato à presidente da República pelo PSL. Eles foram identificados com ajuda dos moradores da região, que estão indignados com o ato contra a capela, que, com mais de 150 anos, é a igreja mais antiga de Nova Friburgo.

De acordo com a Polícia Civil, as informações levantadas pelos agentes é que, na localidade, as manifestações a respeito das eleições 2018 têm causado uma forte polarização: “Como um membro católico havia se pronunciado a favor da campanha do candidato Jair Bolsonaro, os pichadores, em razão de suas convicções políticas e com cunho preconceituoso, resolveram pichar os símbolos nazistas como forma de demonstrar insatisfação com a preferência pelo outro candidato, fato este comprovado através dos depoimentos dos suspeitos conduzidos à 151ª DP”, ressalta a nota da Civil.

Em Nova Friburgo, no entanto, o resultado do primeiro turno indica que não houve polarização entre PSL e PT, uma vez que o candidato do PDT, Ciro Gomes, foi o segundo mais votado, depois de Bolsonaro.

Caso poderá ser enquadrado como crime de preconceito

Pichação é crime, conforme previsto pela 12.408/2011, que alterou a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98). Segundo a legislação, pichar ou por outro meio danificar edificação ou monumento urbano é crime, com pena prevista de três meses a um ano de detenção, e multa.

Contudo, no caso da capela, existe ainda outra lei que dispõe sobre crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Como foram pichadas suásticas na fachada da igreja, os responsáveis podem ser enquadrados na lei 7.716/1989, que determina que “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” é crime, sendo especificamente estabelecido como tal a fabricação, comercialização, distribuição ou veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Neste caso a pena é de dois a cinco anos de detenção e multa.

Padre falou sobre pichações em outros locais do distrito

A fachada e as portas da capela de São Pedro foram pichadas na madrugada do domingo, 14. O local passa agora por uma reforma na fachada para a remoção dos símbolos nazistas. A ação de vândalos em residências e estabelecimentos vizinhos já havia sido denunciada pelo pároco da igreja, o padre Romevaldo Azevedo, em entrevista ao A VOZ DA SERRA: “Antes da igreja, algumas casas também foram alvo de vandalismo”, afirmou o padre.

Capela foi a primeira igreja católica construída no município

Construída por volta de 1850 e inaugurada em 22 de janeiro de 1865, a igreja é a mais antiga do município, com mais de 150 anos, e tem um sino de bronze doado pelo imperador Dom Pedro II.

O prédio original da capela era de madeira, mas seus alicerces são os mesmos. Recentemente a capela passou por uma obra de restauração e, em suas fundações, foi encontrada uma pedra sabão, que não é típica da região nem costumeiramente usada em alicerces. A pedra foi colocada num jardim, ao lado da capela.

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: eleições | crime
Publicidade