“Quando o inverno acabar, eu quero estar junto a ti... porque é primavera”. Espero que Tim Maia me permita fazer essa pequena alteração em sua canção, porque, licenças poéticas à parte, É PRIMAVERA (te amooo)!
Depois de um inverno que, convenhamos, não foi lá essas coisas (ninguém aqui está reclamando), é chegada a hora de reverenciar a época em que as cores tingem nossa cidade bicentenária.
E para falar de flores, é preciso saber de onde elas vêm, como surgem, quem planta. Nossa equipe madrugou, encheu o tanque de combustível e foi para Vargem Alta passar o dia inteiro conversando com os responsáveis por plantar vida e distribuir felicidade.
Vargem Alta
O bairro é o principal produtor de flores de corte da cidade, que é a segunda maior produtora do país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), Friburgo concentra metade da área de produção de flores da Região Serrana, a maior produtora do estado, com 500 floricultores.
Pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade é também responsável por mais da metade do plantio de flores: dos 9 milhões de maços colhidos por ano na região, 4,5 milhões têm como origem o solo friburguense.
“Os friburguenses sabem da nossa potência e sabem que nós somos referência em produção de flores de corte. Eu costumo sair cerca de duas vezes por semana para fazer entrega no Rio, tamanho é o volume que nós conseguimos produzir”, conta Wellington, que há dez anos trabalha com floricultura.
A tecnologia usada em Vargem Alta permite que muitas espécies de flores possam ser colhidas o ano inteiro e não somente em uma determinada época. “Flores que antes nós só conseguíamos colher uma ou duas vezes por ano, hoje nós conseguimos com que elas brotem o ano inteiro. Existem as chamadas flores de estação, que costumam brotar em uma determinada época do ano, mas mesmo essas, nós conseguimos que brotem mais vezes”, explicou.
Na produção de Wellington, três espécies estão em alta no momento. “Lisianto, boca de leão e chuva de prata são as flores que eu tenho em maior quantidade, no momento. Da minha produção, essas são as espécies que mais estarão em evidência, durante a primavera. Interessante é que essas flores são muito procuradas, então, estão florescendo no momento certo”.
As previsões do tempo são cada vez mais inconstantes. Preparado, Wellington afirma que, se faltar chuva, a produção permanece inalterada. “O período entre o plantio e a colheita dura em torno de três meses e quando colhemos, a flor está prestes a desabrochar. Geralmente, o intervalo para que a flor fique toda desabrochada é de dez dias. Hoje, com a ajuda da tecnologia, mesmo se acontecer um período de estiagem, a gente consegue manter a produção em dia”.
Seu Vadite
Produtor há 25 anos, Manoel Vadite, ou como prefere ser chamado, Seu Vadite, é um apaixonado pelo que faz. Todo dia acorda com o cantar do galo e depois de um café da manhã reforçado, lá está ele, no meio dos seus quatro hectares de estufas, de olho em tudo.
“Eu arregaço as mangas e vou pro batente. Ajudo os meus funcionários, desde o plantio até a fase da embalagem. Acordo cedo e durmo cedo, então, quando o galo canta eu já tô de pé. E quando ele dorme, eu durmo com ele. Começamos a trabalhar por volta das sete horas e às vezes, só terminamos quando escurece. A rotina aqui varia, mas o trabalho sempre é pesado”.
Sua paixão pelas flores começou pela necessidade de montar um negócio. Ao perceber que as condições climáticas eram favoráveis e que iria prosperar, Seu Vadite “entrou de cabeça”. Mesmo após tantos anos, o produtor ainda se encanta com a chegada da estação mais florida do ano.
“Primavera é uma época linda. Tantos as flores naturais, como a gente chama as que brotam nas ruas, como as que nós produzimos, são muitas espécies que surgem para colorir o nosso dia a dia”.
A maior parte das flores de Vargem Alta tem como o destino o Mercado das Flores, em Benfica, no Rio de Janeiro. “Gérbera, rosa que já está colhida, chuva de prata, astromélia. Essas flores produzidas aqui vão para várias lugares do estado, mas o foco mesmo é no Mercado das Flores, no Rio de Janeiro. Lá tem um galpão grande que concentra a maior parte dos compradores, mas muitos pegam aqui mesmo, principalmente o pessoal da Região dos Lagos. É tanta flor que algumas, inclusive, eu uso para decorar a minha casa”, contou sorrindo.
O “frio fora de época” atrasou o florescimento de algumas espécies. “Hortência, copo de leite, lírio, anturius, graxa, todas essas são flores de primavera, mas que ainda não começamos a colher porque está muito frio ainda. Acredito que elas brotem mais pra frente. O frio, que era pra ter feito antes, parece que está fazendo agora e as flores se desenvolvem menos. Em comparação com o ano passado, está atrasado, porque, nessa altura, em 2017, as flores já tinham sido colhidas”, comparou.
Assim como Wellington, Seu Vadite afirma que a tecnologia ajuda a manter a produção de forma constante. “Com as estufas, nós temos a possibilidade de ampliar a nossa produção. Flor aqui é o ano inteiro. Na primavera, tem mais, é um tempo mais fresco, tem mais sol, então florescem mais espécies, mas, de maneira geral, é flor o ano inteiro”.
Não há quem fique triste com as flores. Seja da parte de quem planta ou de quem recebe. Das mais de duas décadas de trabalho, Seu Vadite traz na lembrança a prosperidade que o negócio lhe trouxe.
“Saber que o negócio deu certo é a melhor lembrança de todas. Foi uma aposta trabalhar com produção de flor. É um trabalho gratificante, que faz muita gente feliz e que traz um sustento bom pra gente. Eu nunca vi ninguém receber uma flor e ficar triste. Tanto quem dá a flor quanto quem recebe. É um sinal de amor, respeito e prosperidade. Tem um ditado que diz: até as flores tem essa sorte: umas enfeitam a vida e a outra a morte. Elas não deixam de ser um objeto de carinho, de amor, de conforto”, finalizou.
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