Os quatros tradicionais blocos de enredo do carnaval de Nova Friburgo - Bola Branca, Unidos do Imperador, o Raio de Luar e Globo de Ouro - passarão ser chamados de escolas de samba e vão compor o Grupo A a partir do próximo carnaval. A mudança feita pela Liga Independente das Escolas de Samba e Blocos de Enredo de Nova Friburgo (Liesbenf) é uma estratégia para obter patrocínios.
“Quando buscamos recursos para o carnaval da cidade, empresários nem sempre querem patrocinar porque entendem que os blocos de enredo são blocos de rua. Explicamos que se tratam de escolas de porte menor, mas eles não entendem”, justifica o presidente da Liga, José Carlos Espindola.
De acordo com ele, a mudança na nomenclatura tenta tornar mais robusto o carnaval friburguense, um dos maiores da região. “Faremos um teste por dois anos. Se conseguirmos aumentar a arrecadação desta forma, poderemos ampliar a estrutura e realizar o sobe e desce de escolas do Grupo A para o Grupo Especial”, afirmou. Em Friburgo, os blocos de enredo disputam o carnaval entre si, e as escolas de samba também.
Na última semana, a ordem dos desfiles do carnaval 2019 foi definida pela Liesbenf. No sábado, Unidos do Imperador será o primeiro bloco de enredo (agora escola de samba) a passar pela Avenida Alberto Braune no desfile do Grupo A, seguido pelo Bola Branca, o Raio de Luar e Globo de Ouro. Já as quatro tradicionais escolas de samba do Grupo Especial, apresentarão seus enredos no domingo de carnaval. A Alunos do Samba, do distrito de Conselheiro Paulino, abre avenida. Na sequência vem a atual bicampeã, Imperatriz de Olaria, e depois a Unidos da Saudade. A Vilage do Samba encerra a noite das grandes escolas.
A Liesbenf também vem tentando mudar o local de apuração dos desfiles a fim de aproximar o evento da população. Realizada na quarta-feira de cinzas, a apuração deixaria o estádio Eduardo Guinle, em Olaria, e passaria a ser realizada no espaço de eventos da Praça Demerval Barbosa Moreira, no Centro, ao lado do Centro de Turismo, mas o martelo não foi batido. “Há muito receio com a reação do público durante a apuração. Sabemos que há integrantes que não reagem bem aos resultados. Estamos discutindo o assunto com as escolas, a prefeitura e comerciantes, e a polícia. Não definimos ainda o local”, disse Espíndola.
O presidente da Liga também contou que está negociando com o secretário de Turismo, Pablo Sprei, o prefeito Renato Bravo e o presidente da Câmara, Alexandre Cruz, o pagamento, em duas parcelas, da subvenção destinada, todos os anos, às escolas de samba e aos blocos de enredo. Com o parcelamento, as agremiações receberiam parte do dinheiro com maior antecedência, o que ajudaria na preparação dos desfiles. Atualmente, a prefeitura paga as subvenções às vésperas do carnaval. Este ano, cada uma das quatro escolas de samba recebeu R$ 57,7 mil, enquanto os quatro blocos de enredo ganharam R$ 28,8 mil - valores que não correspondem nem a metade do que as agremiações gastam nos desfiles.
Incêndio e pouco dinheiro
As agremiações continuam penando para arrecadar recursos para o carnaval. Com a crise nos barracões, que se intensificou nos últimos dois anos, a direção das agremiações têm se desdobrado para conseguir colocar as alegorias e as alas na avenida. Os carnavalescos trabalham com o reaproveitamento de materiais, enquanto as doações minguam. “Estou muito pessimista com o próximo carnaval. Recebemos pouquíssimo apoio do poder público, que aproveita a festa para arrecadar, mas não repassa quase nada para as escolas. Está muito difícil obter patrocínios e os eventos que realizamos nos barracões dão pouco retorno”, queixa-se o presidente da Imperatriz de Olaria, Humberto Damas.
Apesar do desânimo, a bicampeã do carnaval já definiu seu enredo, que fará uma homenagem a Dandara, esposa de Zumbi dos Palmares, ambos reconhecidos por resistir à escravidão no período colonial. A história de Dandara é cercada de mistérios. Sabe-se que ela foi uma guerreira que ajudou a manter o mais emblemático quilombo daquele período, o de Palmares. Capturada em 1694, Dandara se jogou em um abismo para não retornar à condição de escrava.
Em outubro, as demais agremiações de Nova Friburgo também devem apresentar os enredos que pretendem levar à avenida. Um dos mais esperados é o da Vilage, cujo barracão foi atingido por um incêndio no dia 24 de fevereiro deste ano, duas semanas depois do carnaval. O fogo destruiu cinco carros alegóricos, fantasias, materiais e a rede elétrica, queimou o telhado e afetou a parede entre a quadra e o barracão.
Em meio às dificuldades, a verde e branco conseguiu reerguer o espaço. Obras foram realizadas, o telhado e o piso substituídos, e, no próximo dia 21, a agremiação realiza uma grande festa para comemorar seus 70 anos de fundação. A comemoração da escola vai durar todo o fim de semana e deve culminar com a reinauguração do barracão na Rua João Pinto Faria, no bairro Duas Pedras.
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