A entrevista da candidata a governadora Marcia Tiburi ao AVS

Petista quer criar o Mais Médicos estadual e estimular a indústria da moda íntima, mas quer rever incentivos fiscais às empresas
sexta-feira, 31 de agosto de 2018
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
Marcia Tiburi
Marcia Tiburi

Marcia Tiburi quer estimular a indústria da moda íntima de Nova Friburgo e o turismo local. Também diz que vai incentivar a agricultura familiar da região e o cooperativismo, e ainda quer fortalecer as redes de proteção à saúde através da regionalização de unidades de saúde, como o Hospital Municipal Raul Sertã.

Com 2% das intenções de voto, de acordo com a última pesquisa do Datafolha, a candidata do PT ao governo do estado, afirma que vai criar o “Mais médicos” estadual e promete rever a política de incentivos fiscais às empresas e a política tributária, avançando na tributação progressiva sobre grandes propriedades e heranças.

Marcia tem 48 anos e nasceu no Rio Grande do Sul. É professora de filosofia e escritora. Foi filiada ao Psol, mas deixou a sigla para ingressar no PT e concorrer a cadeira número 1 do Palácio Guanabara. Conhecida por seus livros, como o “Como conversar com um fascista”, e trabalhos em programas TV, nunca havia disputado a um cargo eletivo na política brasileira.

“Minha atuação política tem início com a luta pelos direitos das mulheres”, afirma. Casada e com uma filha, Marcia Tiburi é a oitava dos 12 candidatos ao governo do Rio entrevistados por A VOZ DA SERRA. Todos foram convidados a responder às mesmas perguntas sobre o estado, Nova Friburgo e a Região Serrana.

AVS: O próximo governador assumirá o estado com um rombo nos cofres estimado em R$ 10 bilhões. Como planeja sanear as contas do estado?
Márcia Tiburi: É necessário reexaminar os gastos públicos e a política de incentivos fiscais e aumentar as receitas públicas, buscando uma política tributária mais justa e distributiva. É hora de reduzir impostos sobre bens e serviços que recaem sobre a classe média e a população de baixa renda, e de avançar na tributação progressiva sobre a riqueza, as grandes propriedades e sobre heranças, que é de competência estadual. O Rio de Janeiro precisa também de planejamento para retomar o desenvolvimento.

O Rio de Janeiro tem a maior taxa de desemprego do sudeste. São cerca de 1,2 milhão de pessoas procurando uma oportunidade, segundo a Pnad/IBGE. Como gerar novas vagas?
O governo e a sociedade civil do Rio de Janeiro são capazes de gerar um ciclo de dinamismo na indústria em geral, nos mais variados campos de serviços. O estado tem capacidades e potencialidades para fazer crescer o setor de óleo e gás e toda sua cadeia produtiva. Os setores naval e de Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC), bem como o complexo industrial da saúde, o turismo, as artes e a produção de cultura, entre outros, serão promovidos em todos os níveis.
 

Moda íntima, indústrias metal-mecânicas, o comércio, a construção civil e a agricultura são motores de Nova Friburgo. Seu futuro governo planeja algum tipo de incentivo para incrementar a economia da Região Serrana?
Como dissemos, a política de incentivos fiscais dos últimos governos será reavaliada. Poderemos manter ou criar incentivos se ficar comprovada, através de estudos, a necessidade de impulsionar determinados setores para garantir a geração consequente de postos de trabalho em algumas regiões. Friburgo tem a indústria da moda íntima que pode ser ainda mais impulsionada. O setor de turismo, do mesmo modo, pode ser ainda mais fortalecido. A meu ver, uma universidade pública em Petrópolis também poderia impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento da região. Quanto à agricultura, incentivaremos a agroecologia, favorecendo a ampla capacidade de inclusão e geração de renda da economia solidária, do cooperativismo e da agricultura familiar.

O estado está sob intervenção federal na segurança há seis meses. Como evitar a fuga de criminosos da capital para o interior?
Assim como o governo Temer, a intervenção é uma fraude. O número de crimes no estado aumentou, apesar de todo o dinheiro público gasto com a intervenção. Alguns lucraram muito com ela, mas não a população. Vamos investir no trabalho de inteligência da polícia, não apenas para evitar que a violência suba a serra, mas para enfrentar as causas dos altos índices de violência do nosso estado, como o aumento do desemprego e a perda acelerada de direitos fundamentais como o acesso à saúde e à educação.    

O Hospital Municipal Raul Sertã, em Nova Friburgo, é uma referência para a região, recebe pacientes de 13 municípios, mas enfrenta dificuldades. Seu governo planeja estadualizar a unidade ou tem algum plano para melhorar o atendimento de urgência?
Conhecemos a demanda local para transformar a unidade em hospital regional, uma vez que já atende a diversos municípios da região, apesar de precisar de mais infraestrutura. A regionalização da saúde é um de nossos compromissos, e com apoio aos municípios vamos fortalecer as redes de atenção à saúde. Iremos defender o Sistema Único de Saúde (SUS) no nosso estado. Nossa meta é nenhum serviço de saúde a menos. Quero criar também um programa "Mais médicos estadual".

A UPA da cidade não recebe a parte dos recursos que cabe ao governo do estado há mais de três anos. A prefeitura tem mantido a unidade 24 horas com recursos próprios, junto com o governo federal. Qual o seu plano para as UPAs?  
Como afirmei, fortaleceremos o SUS no estado do Rio de Janeiro, começando por honrar a obrigação do estado no financiamento tripartite das UPAs, coisa que ficou de lado no governo atual.

E quanto ao Hospital do Câncer, cuja obras em Nova Friburgo estão paralisadas desde 2016?
Sabemos como é penoso para os moradores da região precisar viajar mais de duas horas para realizar tratamentos oncológicos no Rio de Janeiro ou em Petrópolis. É preciso retomar as obras, o que foi prometido pelo governador Luiz Fernando Pezão para este ano. Isso não ocorreu porque o governo atual realmente não se importa.

Nova Friburgo conta com um campus da Uerj, o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ). Como tirar as universidades estaduais (Uerj, Uenf e Uezo) dessa crise sem precedentes?
Enxergamos a educação não como gasto, mas como direito que exige investimento. Vamos implementar um plano emergencial de recuperação da Uerj, da Uezo e da Uenf, com uma visão de valorização estratégica dessas instituições como articuladoras da produção do conhecimento, pesquisa e formação, para o desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental.
 

Friburgo, Teresópolis e Petrópolis são os principais destinos turísticos do estado para quem curte um friozinho. Qual seu plano para alavancar o setor turístico na região?
Um importante passo é a lei apresentada da deputada estadual Zeidan (PT) em parceria com o vereador Norival Espíndola (PT), que reconheceu Nova Friburgo como município de interesse turístico. Sabemos que, com investimentos adequados, é possível multiplicar o potencial do turismo em todo o estado e pretendemos fortalecer, especialmente, o turismo cultural e de natureza.
 

Depois da tragédia climática de 2011, Friburgo recebeu importantes obras de contenção de encostas, habitação e canalização pluvial, como a do Rio Bengalas. Outras ainda faltam ser executadas na cidade. A senhora pretende fazer alguma mudança na política atual de prevenção a desastres naturais na serra?
É importante lembrar que boa parte das obras citadas foi realizada com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dos governos federais do PT. A proteção, conservação, preservação e recuperação de áreas protegidas, a prevenção e mitigação de desastres ambientais serão princípios de governo, e é prioritária uma atuação integrada entre a Defesa Civil, e as secretarias de Obras e Meio Ambiente municipais e estadual.

Friburgo perdeu o escritório regional do Ibama, que tinha importante papel na fiscalização do desmatamento. A cidade conta agora com o trabalho do Inea e da prefeitura, mas ambos sofrem pressões políticas. O que seu governo fará para evitar a redução da Mata Atlântica, que cobre 45% do território friburguense, segundo o SOS Mata Atlântica?
Vamos pressionar o governo federal pela volta do escritório do Ibama, necessário para a fiscalização e controle do desmatamento da região. Quanto ao Inea, serão aperfeiçoados os procedimentos administrativos e licitatórios nas secretarias e órgãos de estado, para prevenir fraudes e práticas corruptivas, implementando políticas públicas de monitoramento irrestrito.

 

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