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Edições comemorativas
Na semana passada falamos sobre o apelo da exclusividade aplicada a veículos de passeio, e a forma como tradicionalmente montadoras têm se inspirado em eventos como copas do mundo para promover o lançamento de edições especiais e limitadas de alguns veículos de seus catálogos. Mas não são apenas mundiais de futebol que inspiram fabricantes a produzir veículos. No esporte ou fora dele, as mais variadas ocasiões têm sido aproveitadas para acrescentar pitadas de exclusividade a este produto tão padronizado por natureza.
Dada a ligação umbilical existente entre o universo das corridas e o mercado de veículos, não é de se espantar que nossos campeões mundiais de Fórmula 1 tenham inspirado homenagens na forma de edições comemorativas entre carros ou motos. Emerson Fittipaldi, por exemplo, emprestou seu nome ao primeiro carro da Chevrolet, no Brasil, a substituir o carburador pela injeção eletrônica. O Monza Classic 500 EF, limitado a cinco mil exemplares, foi batizado em homenagem à espetacular vitória de Emerson nas 500 Milhas de Indianápolis em 1989, guiando um Penske equipado com motor Chevrolet. Décadas mais tarde, a mesma montadora voltaria a homenagear Fittipaldi com uma edição do Ômega, seu modelo mais luxuoso no mercado nacional.
Nelson Piquet, por sua vez, foi homenageado pela Honda com uma edição especial da CB 450, pintada nas cores da Williams naquela altura, após conquistar seu tricampeonato de forma dramática, em 1987, utilizando motores da fabricante japonesa. Mais tarde, a Chevrolet também produziria veículos raríssimos em homenagem ao tricampeão mundial. Apenas 120 unidades do Corsa Piquet foram produzidas para atender a frota da Arisco, patrocinadora do piloto naquela altura. Por fim, em 2003, a Chevrolet produziu apenas 30 unidades do Celta Piquet, que foram sorteadas pela marca de palha de aço Assolan.
Evidentemente, Ayrton Senna não ficaria de fora desta lista. Uma das motos esportivas mais exclusivas do mundo, fabricada pela Ducati, leva seu nome. Anos atrás, num Salão do Automóvel, em São Paulo, tive oportunidade de ver uma dessas motos, que trazia no guidão o número daquele exemplar específico, entre as mil que haviam sido fabricadas.
Eventualmente, fabricantes também constroem versões especiais para comemorar desempenhos de mercado, ou raríssimas versões de rua que servem para homologar modelos projetados para participar de competições. No primeiro grupo, existe ao menos um caso no Brasil que provou-se tão raro, mas tão raro, que nem mesmo chegou a existir. Circula apenas em estradas legendárias.
Por volta de 2003, numa época em que ainda era bem mais difícil entrar em contato com alguém que pudesse confirmar ou desmentir uma informação, espalhou-se pela internet a história de que, no fim da década de 1980, a Volkswagen do Brasil teria construído dez unidades do Passat em versão GTi, ou seja, 2.0 e com injeção eletrônica, exclusivamente para funcionários do alto escalão da companhia. Os carros teriam sido construídos na chamada Ala Zero da fábrica em São Bernardo do Campo, de onde saíam projetos especiais, feitos sob encomenda.
Quando o boato se espalhou, houve até quem jurasse ter visto o carro, mas ninguém jamais mostrou ao menos uma foto para provar. A ausência de imagens, no contexto da internet atual, já bastaria para indicar que trata-se de uma lenda, mas isso não impediu que apurações sérias também comprovassem a inconsistência da história.
No entanto, apesar de jamais ter sido construído, o carro guarda um recorde consigo: em matéria de exclusividade, nada supera o mitológico Passat GTi.
Uma ótima semana a todos.
Márcio Madeira da Cunha
Sobre Rodas
O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas
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