No Dia do Capoeirista, declarações de amor à ginga de quem “manja do paranauê”

Dois mestres e a mãe de um dos alunos deles dão depoimentos sobre como essa arte mudou suas vidas
sexta-feira, 03 de agosto de 2018
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Swian (à esquerda) com um coleguinha: capoeira na infância (Arquivo pessoal)
Swian (à esquerda) com um coleguinha: capoeira na infância (Arquivo pessoal)

 

Três de agosto é o dia de uma das maiores expressões culturais afro-brasileiras: a capoeira. Em 2008, a manifestação foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro, sendo registrada como Bem Cultural de Natureza Imaterial. Atualmente, a capoeira é considerada um dos principais esportes nacionais. Ela surgiu entre os escravos como um grito de liberdade.

Em Nova Friburgo, existem diversos grupos capoeiristas. Falamos com Mestre Garganta, da Associação de Capoeira Berimbau Serrano; Mestre Bolinha, do Abadá Capoeira; e com a mãe de um dos alunos dos professores. Eles contam como a paixão por essa arte surgiu, do prazer de ensinar a capoeira e como a ginga traz benefícios para pessoas de diversas idades.

Mestre Garganta:

Fernando Cesar Emmerick Soares é conhecido no mundo da capoeira como Mestre Garganta (na foto, ao centro), nacional e internacionalmente.

“Comecei na capoeira em 1993, em Nova Friburgo, com a intenção de praticar um esporte e, depois disso, minha vida se transformou. Passei a conhecer a cultura, a arte, a luta que foi criada por escravos na ânsia de liberdade. Esta arte me encantou e me ajudou muito na vida e na minha formação como cidadão.

Praticante da capoeira, me dediquei aos ensinamentos e estudos da capoeira e me formei mestre de capoeira em 2015, pelas mãos do mestre Evaldo Bogado de Almeida (Mestre Bogado). Em 2016 fundei a minha associação de capoeira que, em homenagem à nossa cidade, tem o nome de Associação de Capoeira Berimbau Serrano e, como símbolo do grupo, a montanha dos Três Picos de Salinas.

Nós temos o objetivo de trabalhar ensinando a capoeira e divulgando nossa arte. Tenho um orgulho muito grande de dizer que sou capoeirista. Através dessa arte, conquistei grandes amigos, conheci outros países como a África do Sul e Moçambique.

Capoeira para mim é vida, e sem ela não posso viver. Amo praticar e amo mais ainda ensinar o que aprendi. É muito gratificante ver um aluno jogar capoeira, saber a história e origem, ver crescer dentro e fora da capoeira, pois meus alunos sempre serão tratados como filho, tem amor, carinho, mas também tem disciplina. Particularmente, acho que todo brasileiro deveria praticar a capoeira. Além de estar praticando um esporte, ainda ajuda a manter viva nossa cultura.

A capoeira é nossa. É um produto inteiramente brasileiro. Ensino meus alunos o valor que a capoeira tem e mostro a eles que não é só uma arte marcial, mas também uma maneira melhor de transformar bons cidadãos, mostro aos meus alunos tudo que a capoeira me deu e mostro também a eles tudo que a capoeira pode um dia lhes dar. Depende exclusivamente da vontade e amor de cada um, não basta querer, tem que amar. Temos um projeto que se chama Roda de Capoeira Bom Pra Cachorro, idealizado pela minha instrutora Cansada, com o intuito de arrecadar ração para cães abandonados da cidade que vivem em abrigos que são mantidos por doações.

A capoeira é uma filosofia de vida, as esquivas dos golpes são as esquivas das dificuldades da vida. No último dia 31, meu mestre faleceu e a capoeira perdeu um grande homem, responsável por difundi-la em Niterói, Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Canada, África do Sul, Moçambique, entre outros lugares. No entanto, a tristeza que era para nos fazer parar é a força que nos move”.

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Rodrigo Milhorance (Mestre Bolinha):

“A Capoeira é uma arte que engloba várias artes! Luta, jogo, dança, musicalidade, poesia, história, artesanato e muito mais. É uma atividade genuinamente brasileira e Patrimônio da Humanidade por decreto da Unesco. Sinto-me muito honrado em ser mais um representante e praticante desta arte, dentre milhares de capoeiristas espalhados pelo mundo inteiro. A felicidade se torna maior ainda pela oportunidade de poder passar adiante o conhecimento advindo deste universo tão amplo e infinito que é a capoeira.

Para mim, se torna mais especial por ser minha profissão e por poder contribuir na melhora da qualidade de vida das pessoas proporcionando mais saúde, disciplina, autoconfiança, brasilidade, solidariedade, respeito ao próximo, a natureza, dentre outros inúmeros benefícios oferecidos não só para quem pratica, mas para toda a sociedade. Nossa preocupação é formar cada vez mais capoeiristas conscientes de seu papel na sociedade. A minha paixão pela capoeira surgiu na infância. Eu assistia alguns treinos realizados aos fins de semana dado por um capoeirista no bairro Olaria, onde morei por muitos anos.

Em 1997 iniciei as aulas de capoeira,  sempre buscando inspiração em grandes nomes como os mestres Camisa, Bimba e Pastinha. Em 2001, comecei a ministrar aulas na Apae, dando início ao Projeto Capoeira Inclusiva e Adaptada, uma oportunidade única, onde temos a proposta de ensinar, mas na prática aprendemos muito sobre a vida e seus valores. E de lá para cá ampliamos o projeto para pessoas com deficiência atendendo também a Afape e a Pestalozzi. E não menos importante o trabalho em parceria com as escolas e academias, buscando levar as informações da arte da capoeira a todos, desde a criança ao Idoso. Aproveito a oportunidade para parabenizar todos os capoeiristas e agradecer a Escola Abadá Capoeira, amigos, pais, alunos, instituições de ensino, A VOZ DA SERRA e toda sociedade friburguense pelo apoio”.

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Sany Mastrângrelo, mãe de Swian Campos, de 4 anos:

"Pensando em capoeira, estamos pensando em artes marciais, em luta, em defesa pessoal; mas a capoeira engloba bem mais que essa ideia. A capoeira é uma arte, uma dança folclórica onde as crianças aprendem a respeitar o próximo, a si mesmo e superar seus limites.

Swian pratica capoeira há quase dois anos. Super apaixonado pela arte, fica empolgado no dia do treino. Já vai mais feliz para a escola. É ele quem separa a roupa, corda e prepara a mochila. Quando temos o prazer de assistir às aulas, percebemos a evolução da criança fisicamente.

Hoje ele já consegue saber cada golpe, cada gesto pelo nome. O que ele mais adora é fazer a estrelinha. A criança se desenvolve brincando. Parabéns para os capoeiristas pelo seu dia, em especial ao instrutor Bolinha, pela paciência e empenho não só com nossos pequenos mas também com crianças especiais".

 

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