Crianças aprendem tudo com muita arte na Cecília Meireles

segunda-feira, 08 de junho de 2009
por Jornal A Voz da Serra

A escola fica na Rua Tohoru Kassuga, no Cascatinha, num terreno de quase oito mil metros quadrados, todo cercado, com um rio ao fundo. Um lugar lindo, repleto de verde e cheio de crianças felizes, que aprendem todo o currículo escolar através da música, da poesia, do teatro, da arte, enfim. Tudo que os pequenos adoram.

Matemática? Para estes meninos e meninas não representa nenhum bicho-papão, assim como o português, história, geografia ou ciências. Na Escola Municipal Cecília Meireles, a pedagogia aplicada leva até as últimas consequências o fato de que todos os alunos são, antes de mais nada, crianças. Este é o ponto básico e o que diferencia esta escola das demais.

Enquanto os colégios convencionais massificam, os que aplicam a Pedagogia Waldorf cuidam principalmente de integrar seus alunos, não importa sua classe social ou econômica. Integrá-los à natureza, ao meio ambiente, aos seres humanos. O princípio básico é o envolvimento dos professores e funcionários com o alunado. Sua filosofia é voltada ao homem, ao ser.

Por isso mesmo no currículo há muitas atividades artísticas, entre elas, contação de histórias, canto, brincadeiras com os dedos, pintura, culinária e passeios na natureza. Os conteúdos são os mesmos das escolas convencionais, mas a forma de chegarem às crianças é que difere muito. Tudo é ensinado através da arte, ou seja, da música, da poesia, e sempre respeitando os limites de cada aluno.

Como diz Deidi Lúcia Rocha, mãe de João Vítor, de 10 anos, que estuda na Cecília Meireles há dois, “esta é uma escola que educa a alma, inclusive a dos pais”. Deidi conta que sua vida mudou radicalmente desde que tomou a sábia decisão de matricular seu filho ali. “Ele levou para dentro de nossa casa muitos aspectos que não existiam antes, como musicalidade, respeito pela natureza ou admiração pelo outro”.

Muito diferente das escolas convencionais

Na Cecília Meireles, como em todas as escolas Waldorf, não se estimula a competitividade, os alunos não repetem ano e nem recebem notas. O importante é que tenham seus limites respeitados. Outra diferença do ensino tradicional é que nestas escolas a alfabetização só se dá após os 7 anos. A composição das classes se dá por faixas etárias, pois assim é feita a distribuição do conteúdo curricular. Um aspecto interessante é que as professoras seguem o aluno do primeiro ao oitavo ano.

Esta relação de continuidade acarreta um vínculo afetivo muito forte com o professor, facilitando a aprendizagem e tornando-a muito mais prazerosa. Por enquanto, a Cecília Meireles só vai até o quinto ano (de 2 a 11 anos), mas os dirigentes esperam que já em 2010 ou, no máximo em 2011, a escola comece a atender, gradativamente, alunos do 6º ao 8º ano.

A escola, que funciona em horário integral, se mantém graças a um convênio com a prefeitura, que banca o salário das professores, dos funcionários e a alimentação de seus 170 alunos. Todos os pais contribuem de alguma forma com a manutenção, mas uma grande parte das crianças é carente. Outras - uns 30%, talvez - são oriundas de famílias simples. E uma parcela menor poderia até manter seus filhos em escolas particulares, possibilitando, portanto, dar uma contribuição maior.

Este intercâmbio entre as crianças mais carentes e as de maior poder aquisitivo é, aliás, muito interessante e sadio. Porque ambos os lados têm o que oferecer um ao outro, tanto os que dispõem de todo tipo de bem material, como os que só têm acesso a outras vivências, diversas daquelas que o dinheiro oferece. Uma das dirigentes da Escola Cecília Meireles, Mara Rúbia Ribeiro, conta que um dos alunos financeiramente mais abastados foi visitar um coleguinha na Granja do Céu e saiu de lá encantado. “Contou pra todo mundo que o lugar onde o amigo morava era muito lindo, que tinha vaca, galinha, era muito legal! Ele nem percebeu que a casa do colega era quase um casebre”, afirma.

No Brasil existem apenas quatro escolas públicas que aplicam a pedagogia Waldorf, sendo que duas em Nova Friburgo - a Cecília Meireles e a Vale de Luz, em Conselheiro Paulino -, que mantêm um convênio muito estreito. É na Vale de Luz, inclusive, que os professores fazem o curso que os gabarita a dar aulas de acordo com o método Waldorf.

Todas as quartas-feiras os alunos apresentam uns aos outros o que estão aprendendo na sala de aula, até para se acostumarem a se apresentar em frente ao público. E uma vez por mês a escola abre seu espaço para os pais e a comunidade com o projeto Portas Abertas. Neste dia, os pequenos, orgulhosos, se apresentam com música, poesia e teatro. É um dia de festa, de alegria e confraternização, que reforça ainda mais o vínculo estreito desta grande família, formada por professores, funcionários, pais e a comunidade que vive em torno da escola.

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